Conheça a vida e a luta de Dorothy Stang, missionária numa terra sem lei

Naquela conversa com o bispo da Prezalia do Xingu, Dom Erwin Krautler, em 1982, começava a luta da missionária Dorothy Stang por uma das áreas mais pobres e necessitadas da região Amazônica. Cortada pela rodovia Transamazônica, a pequena Anapu, cidade abandonada após uma colonização fracassada durante a ditadura militar, foi indicada à missionária como uma das mais carentes da região.

"Ela queria dedicar a vida às famílias isoladas que estão na miséria. Daí eu indiquei a Transamazônica leste, o trecho entre Altamira e Marabá. E para lá ela foi", contou o bispo. O nome Anapu vem do tupi-guarani e quer dizer "ruído forte". Segundo habitantes da região, o nome "provavelmente faz referência ao barulho produzido pelo volume de água do rio Anapu". Com uma área de 11.895 quilômetros quadrados e pouco mais de 8 mil habitantes, a cidade se tornaria anos mais tarde um dos principais pontos de conflito na luta pela terra.

A partir da década de 80, a região de Anapu, o centro do estado, mais conhecido como Terra do Meio, e o sul e sudeste passaram a formar a área de maior pressão de desmatamento da floresta, o que gerava conflitos entre grileiros, madeireiros, pequenos produtores e posseiros. Dorothy denunciou por diversas vezes a situação às autoridades brasileiras. "Ela começou a trabalhar pela criação das reservas. Dorothy é o símbolo de luta defensora das reservas e das unidades de conservação. Os moradores que estavam nesses lugares sempre eram retirados porque chegava alguém e dizia que já era dono daquela terra", explica Antonia Melo, a "Toinha", do Grupo de Trabalho Amazônico em Altamira, uma antiga companheira da missionária assassinada.

Em junho de 2004, Dorothy esteve presente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a violência no campo e denunciou que o quadro de impunidade agravou os conflitos. Para ela, os grileiros não respeitam as terras já demarcadas, uma vez que as promessas de ações no estado não vêm sendo cumpridas. A audiência contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e o próprio relator da Comissão, o deputado federal João Alfredo (PT-CE), pediu a criação de uma força-tarefa entre Ministério Público e Polícia Federal para atuar no Pará.

Segundo aqueles que conheciam Dorothy Stang, seu maior sonho – que em parte estava materializado na luta pelos projetos de desenvolvimento sustentável – era que os trabalhadores rurais conquistassem o direito a um pedaço de terra para cultivar. Os amigos a viam como uma mulher destemida. Toinha define Dorothy como "uma força de mulher comprometida com a justiça, com as causas sociais, com o meio ambiente e com um desenvolvimento responsável".

Nascida em 7 de junho de 1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio, Dorothy veio para o Brasil em 1966. Fazia parte de uma congregação internacional da Igreja Católica – Irmãs de Notre Dame de Namur – que tem como princípio ajudar os mais pobres e marginalizados. Sua primeira experiência foi em Coroatá (MA), onde acompanhou o trabalho dos agricultores nas comunidades eclesiais de base. Com o passar do tempo, o povo já não tinha onde plantar e precisava se submeter aos mandos e desmandos dos latifundiários. Diante da situação, muitos migraram para o Pará e Dorothy acompanhou esse movimento.

Aos 73 anos, voz baixa e mansa, andava sempre sorridente e determinada. "Ela levou até o fim aquilo que acreditava, que era a solução para aquela terra. Defendeu e lutou para a criação de um modelo de assentamento que respeitasse a floresta", diz o senador Sibá Machado (PT-AC).

O engajamento para a criação dos PDSs – novo modelo de assentamento baseado na produção agrícola familiar, atividades extrativistas de subsistência e baixo impacto ambiental – alimentou a ira dos fazendeiros e grileiros e atraiu os olhares para Dorothy. "Quando se levanta a voz contra aqueles que se dizem donos do poder, certas coisas acontecem. O projeto de desenvolvimento sustentável veio de encontro aos interesses dos grandões. O PDS era uma ameaça para eles", afirma padre Amaro. "Muitos atribuíam a idéia do projeto a Dorothy. Aí, deu no que deu", acrescenta Toinha, referindo-se à morte da amiga.

Segundo a irmã Maria Alice, também da congregação das irmãs de Notre Dame em Anapu, pouco tempo depois da destinação de uma área para o PDS, os grileiros se apossaram do lugar. "Eles chegam com um testa-de-ferro, chamado de varredor, dizem que as famílias têm que sair e fazem diversas ameaças. Com isso, afastaram muita gente de áreas de PDS", conta.

Da mesma forma que morreu Dorothy Stang, os interesses dos grandes fazendeiros, grileiros e madeireiros ilegais calaram vários líderes brasileiros, como Chico Mendes, irmã Adelaide e Padre Josimo. A luta da freira pelo direito dos pequenos agricultores na Amazônia foi interrompida por seis tiros à queima roupa no dia 12 de fevereiro.Naquela conversa com o bispo da Prezalia do Xingu, Dom Erwin Krautler, em 1982, começava a luta da missionária Dorothy Stang por uma das áreas mais pobres e necessitadas da região Amazônica. Cortada pela rodovia Transamazônica, a pequena Anapu, cidade abandonada após uma colonização fracassada durante a ditadura militar, foi indicada à missionária como uma das mais carentes da região.

"Ela queria dedicar a vida às famílias isoladas que estão na miséria. Daí eu indiquei a Transamazônica leste, o trecho entre Altamira e Marabá. E para lá ela foi", contou o bispo. O nome Anapu vem do tupi-guarani e quer dizer "ruído forte". Segundo habitantes da região, o nome "provavelmente faz referência ao barulho produzido pelo volume de água do rio Anapu". Com uma área de 11.895 quilômetros quadrados e pouco mais de 8 mil habitantes, a cidade se tornaria anos mais tarde um dos principais pontos de conflito na luta pela terra.

A partir da década de 80, a região de Anapu, o centro do estado, mais conhecido como Terra do Meio, e o sul e sudeste passaram a formar a área de maior pressão de desmatamento da floresta, o que gerava conflitos entre grileiros, madeireiros, pequenos produtores e posseiros. Dorothy denunciou por diversas vezes a situação às autoridades brasileiras. "Ela começou a trabalhar pela criação das reservas. Dorothy é o símbolo de luta defensora das reservas e das unidades de conservação. Os moradores que estavam nesses lugares sempre eram retirados porque chegava alguém e dizia que já era dono daquela terra", explica Antonia Melo, a "Toinha", do Grupo de Trabalho Amazônico em Altamira, uma antiga companheira da missionária assassinada.

Em junho de 2004, Dorothy esteve presente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a violência no campo e denunciou que o quadro de impunidade agravou os conflitos. Para ela, os grileiros não respeitam as terras já demarcadas, uma vez que as promessas de ações no estado não vêm sendo cumpridas. A audiência contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e o próprio relator da Comissão, o deputado federal João Alfredo (PT-CE), pediu a criação de uma força-tarefa entre Ministério Público e Polícia Federal para atuar no Pará.

Segundo aqueles que conheciam Dorothy Stang, seu maior sonho – que em parte estava materializado na luta pelos projetos de desenvolvimento sustentável – era que os trabalhadores rurais conquistassem o direito a um pedaço de terra para cultivar. Os amigos a viam como uma mulher destemida. Toinha define Dorothy como "uma força de mulher comprometida com a justiça, com as causas sociais, com o meio ambiente e com um desenvolvimento responsável".

Nascida em 7 de junho de 1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio, Dorothy veio para o Brasil em 1966. Fazia parte de uma congregação internacional da Igreja Católica – Ir

mãs de Notre Dame de Namur – que tem como princípio ajudar os mais pobres e marginalizados. Sua primeira experiência foi em Coroatá (MA), onde acompanhou o trabalho dos agricultores nas comunidades eclesiais de base. Com o passar do tempo, o povo já não tinha onde plantar e precisava se submeter aos mandos e desmandos dos latifundiários. Diante da situação, muitos migraram para o Pará e Dorothy acompanhou esse movimento.

Aos 73 anos, voz baixa e mansa, andava sempre sorridente e determinada. "Ela levou até o fim aquilo que acreditava, que era a solução para aquela terra. Defendeu e lutou para a criação de um modelo de assentamento que respeitasse a floresta", diz o senador Sibá Machado (PT-AC).

O engajamento para a criação dos PDSs – novo modelo de assentamento baseado na produção agrícola familiar, atividades extrativistas de subsistência e baixo impacto ambiental – alimentou a ira dos fazendeiros e grileiros e atraiu os olhares para Dorothy. "Quando se levanta a voz contra aqueles que se dizem donos do poder, certas coisas acontecem. O projeto de desenvolvimento sustentável veio de encontro aos interesses dos grandões. O PDS era uma ameaça para eles", afirma padre Amaro. "Muitos atribuíam a idéia do projeto a Dorothy. Aí, deu no que deu", acrescenta Toinha, referindo-se à morte da amiga.

Segundo a irmã Maria Alice, também da congregação das irmãs de Notre Dame em Anapu, pouco tempo depois da destinação de uma área para o PDS, os grileiros se apossaram do lugar. "Eles chegam com um testa-de-ferro, chamado de varredor, dizem que as famílias têm que sair e fazem diversas ameaças. Com isso, afastaram muita gente de áreas de PDS", conta.

Da mesma forma que morreu Dorothy Stang, os interesses dos grandes fazendeiros, grileiros e madeireiros ilegais calaram vários líderes brasileiros, como Chico Mendes, irmã Adelaide e Padre Josimo. A luta da freira pelo direito dos pequenos agricultores na Amazônia foi interrompida por seis tiros à queima roupa no dia 12 de fevereiro.

Protocolo de Kioto entra em vigor sem a participação dos Estados Unidos

Após oito anos da assinatura do Protocolo de Kioto no Japão, o tratado internacional que prevê a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa entra em vigor nesta quarta-feira (16) sem a participação dos Estados Unidos e da Austrália. A partir de hoje, os países signatários devem desenvolver projetos para diminuir a taxa de emissão poluidora aos níveis de 1990, ou seja, 5,2% abaixo dos níveis emitidos na época. Para atingir a meta, os países terão prazo que vai de 2008 a 2012.

Embora muitos considerem as reduções previstas muito tímidas e pouco significativas, o acordo também é visto como forte peso simbólico, pois é a primeira vez que governos se unem para enfrentar um problema que afeta a todos. Ameaçado de ficar esquecido, o Protocolo sobreviveu com a ratificação do documento pelo presidente Wladimir Putin, da Rússia, no ano passado.

De acordo com o meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, é importante que o protocolo entre em vigor neste momento para "mostrar que é possível reduzir as emissões dos gases que causam o aumento do efeito estufa e o aquecimento global sem diminuir a qualidade de vida".

Com o aumento da queima de combustíveis fósseis como carvão, gasolina e petróleo, a emissão de gás carbônico também cresceu e, junto de gases como o metano, óxido nítrico e clorofluorcarbono (CFC) retém o calor, fazendo com que o planeta aqueça – princípio do efeito estufa. O aquecimento da terra provoca uma série de distúrbios no clima e na natureza, como ciclones e calor excessivo no sul do país por exemplo, que são anomalias que modificam o processo e os modelos de circulação do ar.

Muitas vezes o aquecimento global é confundido com efeito estufa. Embora relacionados, são fenômenos diferentes. O efeito estufa é um processo natural, sem o qual a vida no planeta estaria comprometida, pois ele seria 30º mais frio.

O professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), David Zee, afirma que dentro de 100 anos, se os níveis de emissão de gases do efeito estufa não forem estabilizados, 60% da zona costeira desaparecerão pelo aumento dos níveis dos mares e oceanos. "Por causa desse e outros problemas é que a implementação do Protocolo de Kioto se torna cada vez mais importante", lembra Zee.

O valor da taxa de emissão dos gases poluentes – 5,2% abaixo dos níveis de 1990 – gera divergência entre os especialistas. Enquanto Carlos Nobre acredita que o valor determinado seja pequeno para a estabilização do clima do planeta, David Zee diz que o número é um desafio para as nações. "A redução em 5% dos níveis de 1990 é uma meta bem ousada e que vai requerer muitos esforços. É um objetivo difícil, mas não impossível. Será preciso uma mudança de postura e muito investimento em pesquisa para que seja atingido".

Para Nobre, o Protocolo é apenas o primeiro passo para evitar o aquecimento da terra, mas acredita que sem ele, não se chegaria a lugar algum. "Essa primeira iniciativa demonstrará a viabilidade de reduzir as emissões e propiciar que se desenvolvam tecnologias mais limpas para a produção de energia", diz.

Protocolo de Kioto acelera projetos de tecnologia limpa no país

A partir de amanhã (16), quando entra em vigor o Protocolo de Kioto, começa um movimento mundial no sentido de atingir a meta de redução de emissão de gases poluentes responsáveis pelo efeito estufa determinada no acordo internacional. A proposta é diminuir em 5,2% em relação aos níveis registrados em 1990.

Segundo o coordenador-geral de Pesquisa em Mudanças Globais do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), José Miguêz, no Brasil haverá poucas mudanças já que esse processo ocorre há alguns anos. "O que vai acontecer aqui é que mais empresas e projetos serão submetidos ao governo para serem registrados como projetos de mecanismos de desenvolvimento limpo, o chamado MDL."

Os primeiros projetos nacionais, apresentados pelo MCT, para diminuir a emissão dos gases poluentes se iniciaram em 2004. Miguêz explicou que eles contribuem para o desenvolvimento sustentável e que a partir da sua implementação, os resultados serão avaliados e poderão transformar-se em créditos de carbono para comercialização no mercado internacional, resultando em recursos externos adicionais para o país.

Ele salientou ainda que mais do que recursos, esses projetos podem significar para o Brasil melhores condições sanitárias e de saúde. "Projetos de MDL viabilizam a mudança na qualidade de vida das pessoas, na geração de emprego e de energia elétrica, usando fontes renováveis de energia. Em 21 anos, cada projeto poderá reduzir as emissões em 14 milhões de toneladas."

Para que a meta de redução estipulada no protocolo seja atingida entre 2008 e 2012, o professor de oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) David Zee afirma que os investimentos em pesquisa terão que aumentar. "Para chegar a esse objetivo é preciso desenvolver uma série de outros mecanismos que minimizem e transformem esses gases nocivos em outro tipo de gás que seja inerte."

Além dos projetos de MDL, o meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, diz que o Brasil precisa investir no combate às queimadas e desmatamentos. Para ele, esse é ainda o ponto mais vulnerável do país. "Enquanto não atuarmos nesse segmento, todo esforço brasileiro será pequeno. Temos que nos preocupar com projetos de reflorestamento que tenham potencial para retirar grandes quantidades de gás carbônico da atmosfera."

Segundo Nobre, o Brasil, devido aos desmatamentos e queimadas, é um emissor considerável. "Ele não está entre os maiores, mas também não figura entre os menores", lembra. Na sua opinião, o país tem grande possibilidade de se envolver em projetos de melhoria de eficiência energética, mas principalmente em projetos de reflorestamento. "A idéia é plantar uma floresta para que esta floresta, durante seu crescimento, possa absorver o gás carbônico que é o principal causador do efeito estufa", explica.

Nobre lembra que o Brasil e os demais países em desenvolvimento são os que mais sairão prejudicados com as mudanças climáticas globais. "Nossa economia é de uma base de recursos naturais muito grande e as mudanças climáticas que poderão ocorrer no futuro não trazem boas notícias. Temos que ter um papel proativo e de liderança mundial na luta contra a possibilidade dessas mudanças", conclui.