Famílias de área quilombola esperam que relatório do Incra evite despejo

Famílias de descendentes de escravos, também chamados quilombolas, que vivem na área Quilombo de Mata Cavala, próximo de Cuiabá (MT), esperam que o juiz federal Jefferson Schneider suspenda as liminares de reintegração de posse de quatro fazendas situadas no local que foram expedidas no dia 31. Essas 48 famílias têm até o dia 7 para deixar o local.

Gonçalina Almeida, secretária da entidade que representa os quilombolas, a Associação Sesmaria Boa Vida de Mata Cavalo, disse que na terça-feira (7) o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vai publicar um relatório técnico onde o governo deve reconhecer a área como legitima dos quilombolas.

"O juiz concedeu a liminar aos fazendeiros para a desapropriação porque não tinha nada concreto que dizia que a área era quilombola", disse Gonçalina. Segundo ela, o relatório do Incra dará ao juiz dados concretos de que a área pertence ao Quilombo e, portanto, não pode ser desapropriada.

A secretária da associação informou que a partir desse relatório, a Advocacia Geral da União e a Fundação Palmares vão entrar com ação na justiça pedindo a revogação das liminares concedidas. Gonçalina Almeida disse, ainda, que expedido o relatório técnico, o governo passa a reconhecer a área como Quilombola e não como área de fazendas. Ela disse que depois de apresentado o relatório técnico, os fazendeiros terão até 90 dias para contestá-lo ou para negociar com as famílias que moram na área.

O complexo de Mata Cavalo é constituído de sete fazendas: Ourinhos, Estiva, Aguaçu de Cima, Mata Cavalo, Mata Cavalo de Cima, Mutuca e Capim Verde. Em 1998, o governo do Mato Grosso reconheceu a comunidade como remanescente de quilombos. Em 2000, a Fundação Cultural Palmares concedeu um Título de Reconhecimento de Domínio, documento que deu direito às famílias a ocupar a área. Em 2003, um decreto assinado pelo presidente Lula regulamentou o procedimento para a criação do território, a partir da finalização dos estudos pelo Incra e a Fundação Cultural Palmares. so de cautela"

Governo federal publica até quarta-feira edital de licitação para obras no Rio São Francisco

Brasília – O Ministério da Integração Nacional vai publicar até quarta-feira (04) o edital de licitação para a escolha das empresas que vão realizar as obras de integração do Rio São Francisco às bacias dos rios temporários do Nordeste Setentrional. O processo licitatório está previsto para ser realizado em 45 dias. A informação foi dada pelo assessor especial do Ministro da Integração Nacional, Egídio Serpa.

A publicação do edital será feita porque o ministério já conta com a licença prévia do Ibama, concedida na última sexta-feira. As obras no Nordeste Setentrional serão divididas em 14 lotes e cada consórcio de empresas construtoras só poderá ganhar o direito de execução de dois deles. "O Ministério da Integração Nacional estima que as obras serão iniciadas até o final do mês de junho próximo e estarão concluídas em dois anos", disse o assessor.

Orçamento Geral da União para 2005 reservou R$ 1 bilhão para sua execução. A obra terá dois canais, com 700 quilômetros de extensão, 25 metros de largura e 5 metros de profundidade, e um sistema de bombeamento da água que vai corrigir os desníveis existentes em todo o percurso.

O projeto vai captar 1% do que o rio despeja no mar, para abastecer as bacias dos rios Jaguaribe (CE), Apodi (RN), Piranhas-Açu (PB e RN), Paraíba (PB), Moxotó (PE) e Brígida (PE). O empreendimento prevê a construção de dois canais – o Leste levará água para Pernambuco e Paraíba, e o Norte, já denominado de Celso Furtado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atenderá aos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. As captações serão feitas em dois pontos: em Cabrobó (PE) e no lago da barragem de Itaparica, ambos abaixo da barragem de Sobradinho.

O Ministério da Integração já realizou licitações para contratar a empresa que vai gerenciar o projeto, vencida pelo consórcio Logos-Concremat, e também para a compra das bombas dos canais de transposição do rio. A previsão para a fabricação das bombas a ser utilizadas ao longo dos dois canais é de um ano.

Comissão da Câmara mantém projeto da Lei de Biossegurança aprovado no Senado

O texto do projeto da Lei de Biossegurança aprovado pelo Senado foi mantido, na íntegra, em votação, na quarta-feira (10), na Comissão Especial da Câmara. O texto permite a utilização de células-tronco a partir de embriões que estejam congelados há pelo menos três anos para fins de pesquisa e terapia, desde que as células sejam obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização "in vitro". O projeto também libera o cultivo de sementes geneticamente modificadas no país, estabelecendo sua regulamentação.

A aprovação do texto do Senado provocou tumultos. Primeiro, o relator original da matéria, deputado Renildo Calheiros (PCdoB/PE), apresentou requerimento propondo o adiamento da votação da matéria. O requerimento foi rejeitado e nomeado o deputado Darcísio Perondi (PMDB/RS) como novo relator da proposta. Discutida a matéria, o Partido Verde manifestou-se contrário a sua votação e tentou adiá-la para que o texto do Senado pudesse ser melhor discutido. Os argumentos do PV foram em vão e o relatório de Perondi foi colocado em votação e aprovado contra a posição do PV. Os cinco destaques apresentados ao texto também foram rejeitados.

O projeto depende ainda de votação no Plenário da Câmara para ser levado à sanção presidencial. Como a proposta está com urgência constitucional vencida, ela passa a compor a pauta de matérias que estão trancando a pauta de votações.

O presidente do PV, deputado Sarney Filho (MA), que protestou durante toda a votação, disse que o texto aprovado tem aspecto positivo "que é a possibilidade de pesquisa de células-tronco". Como aspecto negativo, Sarney Filho cita a questão dos transgênicos. "O texto comete um retrocesso porque tira do ministério do Meio Ambiente a possibilidade de requerer estudos do impacto ambiental e a possibilidade de licenciar esse empreendimento".

Sarney Filho argumenta também que, na questão da saúde, o projeto tira do ministério a possibilidade de garantir se determinado produto é seguro para consumo. "O que está se vendo aqui é o poder econômico muito forte que se sobrepõe aos interesses do país", desabafou o parlamentar maranhense.

O relator do projeto, Darcísio Perondi, rebateu as críticas de Sarney Filho argumentando que o texto elaborado pelo senador Ney Suassuna (PMDB/PB) e aprovado pelos senadores é o melhor possível. "O texto anterior, aprovado pela Câmara, estava deformado, valorizava a burocracia, o atraso e prejudicava a economia e o emprego. Enquanto o texto que aprovamos agora valoriza a ciência, a riqueza e o emprego. Além disso, quem ganha com a proposta é o Brasil", disse Perondi.