Manifestações pedirão definição de política pública para populações indígenas

Em entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (31), o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa, disse que o objetivo da mobilização de movimentos indígenas que acontece neste mês de abril, no chamado "Abril Indígena", é retratar a insatisfação dessas entidades com "a ausência de uma política pública do governo brasileiro para a questão indígena".

Na primeira quinzena do mês, as manifestações serão regionais. De acordo com Barbosa, o objetivo é chamar a atenção da sociedade para a questão. "Estamos decepcionados com a condução da política indigenista desse governo, que está retratando, na prática, o continuísmo de uma política autoritária, de imposição e de desrespeito às populações indígenas no Brasil".

No entendimento do coordenador, do povo Satere Mawé, a falta de uma política pública do governo sobre a questão se reflete na lentidão na demarcação das terras indígenas e na inexistência de mecanismos de proteção dos territórios pertencentes a esses povos. "Hoje, vivemos em constante insegurança no nosso próprio território. São madeireiros, fazendeiros, é a monocultura que invade a Amazônia e outros biomas".

Para ele, o problema se torna mais grave devido à ausência de políticas capazes de garantir a sustentabilidade das populações indígenas, a "sobrevivência física e cultural" desses povos. "Um reflexo disso é o retrato de desnutrição que vemos hoje. Isso retrata uma completa desorganização do governo brasileiro hoje, na questão de unificar uma política pública", avaliou Barbosa, ao destacar que muitos índios se sentem tratados "como estrangeiro dentro do próprio país".

Na entrevista, o vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa, também criticou os rumos seguidos pelo governo federal no que se refere à questão indígena. "Temos assistido à divulgação dos altos índices de violência praticada contra os povos indígenas, alto índice de mortalidade infantil e a ampliação dos conflitos fundiários. Esses são sinais reveladores da não existência de uma política que leve em consideração a realidade desses povos", avaliou.

O representante do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli, observou que o quadro atual se caracteriza pela redução no ritmo de demarcação de terras, o aumento dos casos de violência contra índios e a redução dos orçamentos da Funai e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), responsáveis pela política indigenista.

"Nós temos verificado que, sistematicamente, o início de cada governo tem sido difícil para a política indigenista, isso se aplicou também para o governo Collor, ao governo do Itamar, ao governo Fernando Henrique e ao governo Lula. Mas, de um modo geral, os governos anteriores, após esse início difícil, reagiram positivamente e chegaram a resultados que são melhores do que aqueles a que o governo Lula chegou até agora", avaliou Santilli.

Em nota divulgada ontem (30), a Funai diz que há uma política indigenista consistente sendo conduzida pelo Estado brasileiro. Sobre a possível demora no processo de identificação, declaração e homologação de terras indígenas tradicionais, o órgão diz que segue normas legais. Essas normas permitiriam que proprietários ilegais de terras indígenas recorram à Justiça e dificultem a posse. A Funai reconhece a existência de 604 terras indígenas, das quais 480 estão demarcadas, homologadas e em processo de demarcação. Estão em processo de identificação ou reconhecimento as outras 124.

"A Funai, como coordenadora da política indigenista nacional, reconhece que há crônicos e seculares problemas incidentes sobre as comunidades indígenas e vem trabalhando para auxiliar estes povos a sanarem problemas como necessidade de maior acesso à terra, pobreza, exposição à violência e insegurança alimentar", afirma o órgão, em nota. De acordo com a Funai, uma série de "ações integradas" estão em andamento para solucionar o problema fundiário, principal causador de mortes nas aldeias, seja por desnutrição ou homicídios.

A nota foi elaborada em resposta ao relatório divulgado pela Anistia Internacional sobre a situação indígena no Brasil. No documento, a Anistia sugere ao governo brasileiro a adoção de política e estratégias para solucionar os problemas enfrentados pelos índios, em especial no que diz respeito à disputa por terras.

Para os representantes do FDDI, as críticas contidas no relatório são consistentes. Na opinião de Saulo Feitosa, vice-presidente do Cimi, o documento foi feito de maneira responsável e é totalmente confiável, "destacando a gravidade dos conflitos fundiários e o alto índice de mortalidade infantil entre os povos indígenas".

Feitosa contestou as informações contidas na nota da Funai de que nos dois primeiros anos de governo Lula foram declaradas como indígenas 43 terras. Segundo ele, no total, foram apenas 13 nesse período.

A assessoria de imprensa da Funai esclareceu que as 43 terras estão em processo de demarcação e que já foram declaradas indígenas 13 delas.

A Coiab é uma das entidades que integram o FDDI, composto também pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), pelo Instituto Socioambiental (ISA), pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY). Segundo os organizadores, o "Abril Indígena" tem o apoio de organizações como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC).

Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas lança manifesto com críticas e reivindicações para o governo

O Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas (FDDI) lançou nesta quinta-feira (31) o "Manifesto de Abril", criticando o governo Lula em relação às políticas indigenistas. O texto identifica "lentidão" no processo de demarcações de terras indígenas e relaciona a situação a violações dos direitos desses povos. O documento também faz uma série de reivindicações para a solução dos problemas apontados, incluindo medidas como a criação de um Conselho Nacional de Política Indigenista.

O manifesto também pede que a reserva indígena Raposa Serra do Sol seja homologada em área contínua e que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, declare imediatamente como de posse indígena 10 terras localizadas nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Pará, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

O FDDI é composto pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), pelo Instituto Socioambiental (ISA), pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY).

Outra reivindicação das entidades é que os parlamentares rejeitem a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 38/1988, entre outros projetos que tramitam no Congresso contrários aos interesses indígenas. Segundo o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa, caso a PEC seja aprovada, as demarcações de terras indígenas terão que passar pelo Legislativo e deixarão de ser examinadas apenas no âmbito do Executivo. "Isso seria um retrocesso muito grande, porque a gente vê hoje uma conjuntura anti-indígena no Congresso Nacional", criticou Barbosa, durante o lançamento do manifesto, em entrevista coletiva concedida na Câmara.

Para ele, a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista é fundamental "para a construção de uma verdadeira política indigenista". A idéia é que, na composição do conselho, haja efetiva participação indígena e da sociedade civil. "Estamos buscando essa instância de articulação, para que haja diálogo com o governo federal", explicou.

No manifesto, o governo é classificado de "anti-indígena". "Na ausência de uma nova política indigenista, foram tomando espaço os interesses contrários aos dos povos indígenas. A política indigenista foi remilitarizada. O Gabinete de Segurança Institucional adquiriu importância sem precedentes nos assuntos indígenas. Velhos e superados conceitos de segurança e soberania nacional, por mais equivocados que sejam, voltaram a operar com intensidade. Agora manejados não apenas pelos setores militares, mas também pelas mais retrógradas oligarquias rurais que encontraram neles oportunidade para defender seus interesses mais imediatos", diz o documento.

Para o FDDI, a velocidade dos processos de reconhecimento dos territórios indígenas foi reduzida no atual governo e "condicionada a um projeto neoliberal/desenvolvimentista, etnocêntrico e genocida, cuja governabilidade está sendo negociada junto a setores da oligarquia rural brasileira, a mesma que historicamente impediu a paz e a democracia no campo". O texto destaca que o número de terras declaradas como de posse indígena durante o governo Lula é o pior desde o fim do regime militar. "O governo Lula declarou a média de 6 terras indígenas por ano. O governo FHC, também indiferente à matéria, declarou a média de 14 terras indígenas por ano de mandato, mais que o dobro do governo Lula. Terras Indígenas viraram moeda de troca na barganha política com governadores de alguns estados".

A redução, pela Fundação Nacional do Índio (Funai), do número de Grupos Técnicos para identificar Terras Indígenas e a diminuição da Terra Indígena Baú, dos Kaiapó, em 320 mil hectares, também são citadas no manifesto.

As críticas se estendem à assistência à saúde da população indígena. "A saúde indígena é um escândalo. Milhões são gastos pela Funasa com seminários e reuniões enquanto crianças indígenas morrem por subnutrição, a exemplo do que está acontecendo em Mato Grosso do Sul. As medidas emergenciais ora adotadas são paliativas. O problema requer a coordenação das ações de governo, hoje inexistente, e políticas públicas diferenciadas para os povos indígenas".

O manifesto também critica o Poder Judiciário e os governos estaduais de Mato Grosso e Santa Catarina.

Ausência do Estado faz grilagem de terras prosperar no Pará, diz PF

O superintendente da Polícia Federal no Pará, delegado José Ferreira Salles, afirma que a ausência da estrutura do Estado em algumas regiões dificulta a fiscalização no que se refere à ocupação ilegal de terras. "Onde o Estado não se faz presente, como aqui, nesse caso, a criminalidade prospera", diz Salles, ao chamar a atenção para a "incógnita" em que se transformou o conteúdo dos livros de cartórios de registro de imóveis na região.

"Os grileiros são pessoas quase sempre oriundas de outros estados, que vêm para a região atraídas pela qualidade dessas terras, pela imensidão dos seus recursos florestais e hídricos, e então se instalam aqui. Eles ficam usufruindo desses cartórios da região, que já mereceram correções, mas ainda há uma incógnita muito grande sobre o que contém seus livros".

O superintendente cita a intervenção no Cartório de Registro de Imóveis de Altamira como uma medida eficaz de combate à grilagem de terras no Pará. A intervenção foi decretada há três anos, a pedido do Ministério Público Federal do estado, sob acusação de o cartório reconhecer documentos irregulares para emitir títulos de propriedade. No entanto, Salles alerta que a iniciativa por si só não é suficiente, uma vez que não implica a anulação de títulos concedidos de maneira irregular.

"Eu acredito que, estando sob intervenção, há pelo menos um alerta. Mas também não se corrigiu, não se repôs a verdade, anulando alguns títulos e sobretudo responsabilizando os culpados".

Na avaliação do delegado, para conter o avanço dos grileiros no Pará, o Estado precisa estar presente de forma permanente. "Essa grilagem, esses crimes ambientais, prosperam à sombra da omissão do Estado. Tinha um bispo amigo nosso que falava em pecados de estimação, aqueles com os quais a gente convive. Esses são crimes de estimação do Estado, que vêm acontecendo há muito tempo e parece que o Estado já se acostumou com eles. É um perigo a gente achar tudo muito natural".

Para José Ferreira Salles, faltam também medidas para promover a regularização fundiária. "A polícia não faz reforma agrária, não constrói estradas, não faz assentamentos. Quando a polícia é chamada a atuar num cenário como esse, é porque outros órgãos fracassaram".

Suspeito de ser mandante do assassinato de Dorothy Stang já foi multado duas vezes pelo Ibama

Um dos quatro suspeitos de envolvimento no assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, que tiveram prisão decretada pela Justiça, o pecuarista Vitalmiro Bastos de Moura já havia sido autuado duas vezes pelo Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis.

Em entrevista à Agência Brasil, o gerente-executivo do órgão no Pará, Marcílio Monteiro, informa que, no ano passado, o fazendeiro recebeu duas multas, no valor total de R$ 3 milhões – por desmatamento e por ter provocado incêndio numa APP – Área de Preservação Permanente localizada na região de Anapu (Pará).

Suspeito de ser o mandante do crime contra a religiosa, ocorrido no sábado (12) em Anapu, município localizado no oeste do estado, Moura foi autuado em novembro de 2004 por provocar o incêndio de mil hectares de floresta nativa em área de preservação. A multa prevista no Auto de Infração n° 370160 foi de R$ 1,5 milhão.

De acordo com Marcílio Monteiro, a área estava embargada pelo Ibama desde setembro do ano passado. Segundo ele, a medida foi tomada depois de o fazendeiro ter sido autuado por desmatamento dos mil hectares de floresta sem autorização do Ibama. "Além de ter desrespeitado o embargo, Vitalmiro queimou a área para plantar capim e fazer pasto", condena o gerente-executivo. A multa definida no Auto de Infração n° 370880 também foi de R$ 1,5 milhão.

Durante operações do órgão realizadas entre agosto e novembro de 2004, foram apreendidas em Anapu 30 motosserras e outros equipamentos usados no desmatamento. Monteiro explica que as autuações são medidas administrativas e afirma que o caso foi encaminhado ao Ministério Público do Pará, a quem cabe o pedido para que o fazendeiro responda por crime ambiental.

De acordo com o representante do Ibama, outro fazendeiro suspeito de participação da morte de Dorothy, Regivaldo Pereira Galvão, também foi autuado por fiscais do órgão no ano passado. Galvão foi multado em R$ 750 mil por provocar incêndio em 500 hectares de floresta nativa. "Tenho impressão de que há relação entre os dois suspeitos", diz Monteiro. 

Nilmário pede punição exemplar para mandantes do assassinato de irmã Doroty

O ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, pediu "punição exemplar" para os mandantes do assassinato da missionária americana Dorothy Stang. Para ele, "seria intolerável" só indiciar ou só condenar pistoleiros, porque eles são armas de aluguel, são pessoas que tiram a vida de uma pessoa por dinheiro.

"Agora, quem paga, quem mandou fazer esse assassinato covarde de uma senhora de 74 anos inofensiva, desprendida, com aquela crueldade? Essas pessoas é que têm que ser presas. O pistoleiro também, quem atirou, tem que pagar. Mas quem mandou, quem armou, quem pôs a arma na mão do pistoleiro também tem que pagar", afirmou o ministro em entrevista à Radiobrás.

Ontem (14), a Justiça do Pará decretou a prisão preventiva do fazendeiro Vitalmiro de Moura, suspeito de ser o mandante do crime. Outros três suspeitos, dois pistoleiros José Maria Pereira e Uquelano Pinto, além do suposto intermediário, Amauri Cunha, também já tiveram prisão decretada.

O ministro ressaltou que, para impedir a impunidade, é preciso uma investigação bem feita. "É difícil indiciar mandante. É preciso um trabalho bem feito de inteligência, um trabalho profundo, persistente", observou. "No Pará, a reclamação justa, da Comissão Pastoral da Terra, da Prelazia do Xingu, dos movimentos dos direitos humanos e da sociedade civil como um todo, é que normalmente se condenam os pistoleiros e os mandantes são absolvidos ou não são indiciados", acrescentou.

Nilmário Miranda participa de reunião, na Casa Civil, para avaliar as ações e definir medidas relacionadas ao assassinato da missionária. Também participam do encontro o presidente em exercício e ministro da Defesa, José Alencar, os ministros da Casa Civil, José Dirceu; da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto; do Meio Ambiente, Marina Silva; da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estartégica, Luiz Gushiken; da Coordenação Política, Aldo Rebelo; da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, José Fritsch; dos Transportes, Alfredo Nascimento; da Integração Nacional, Ciro Gomes; e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Armando Félix.

A religiosa foi assassinada no sábado (12), no município de Anapu (PA). Ela foi atingida por seis tiros: o primeiro, na nuca, causou morte instantânea. Mais três projéteis foram disparados nas costas da freira e dois pela frente. O crime ocorreu quando Dorothy se dirigia a um encontro em que iria organizar um mutirão para construir um salão comunitário no assentamento Esperança, situado a 45 quilômetros de Anapu, onde residia há 27 anos.

Entidades ambientais vão entregar estudo do cerrado à ministra Marina Silva

As entidades ambientais, responsáveis pelo estudo que subsídiará a formulação do programa "Cerrado Sustentável", entregam nesta sexta-feira os resultados do trabalho à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Segundo a secretária-executiva da Rede Cerrado, Mônica Nogueira, além de propor critérios de sustentabilidade ambiental e inclusão social para a produção agropecuária na região, o estudo tem foco na de criação de uma atmosfera favorável ao desenvolvimento de experiências de uso sustentável da biodiversidade.

O trabalho também propõe medidas de valorização das populações e das suas culturas, assim como o aumento, em cobertura e em número, de unidades de conservação do cerrado. “Esperamos que o programa seja implementado em breve”, disse Mônica.

Segundo ela, na reunião com a ministra também será apresentada a proposta de criação de um portal na Internet destinado ao bioma. A Rede Cerrado faz parte do comitê gestor do portal. A idéia é que, além de conter informações sobre o cerrado, o portal seja um espaço de divulgação de trabalhos da população local. “Queremos que os povos do cerrado se beneficiem com isso, que possam expor seus produtos, divulgar a cultura e também ter acesso a informações que possam ser relevantes para a luta deles”, explicou.

Índios fazem corrida de toras na Esplanada dos Ministérios

59571_1.jpegEm defesa da preservação do cerrado, que representa cerca de 22% do território brasileiro e cobre 11 estados e o Distrito Federal, índios das etnias Timbira e Xavante participaram de uma corrida de toras na Esplanada dos Ministérios. A atividade marcou o início do Grito do Cerrado, uma série de manifestações e eventos culturais para alertar governo e comunidade sobre os riscos da devastação do bioma, que já perdeu 57% da sua área. Segundo a Rede Cerrado, que reúne entidades sócio-ambientais, se o desmatamento continuar no mesmo ritmo, em trinta anos o cerrado poderá desaparecer.

Durante a corrida, índios passaram de mão em mão duas toras de buriti, de cerca de 80 quilos cada uma, em um percurso do Ministério do Meio Ambiente ao Congresso Nacional. Ao chegarem ao Congresso, os participantes tentaram entrar no prédio, mas só conseguiram depois que o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) interveio. O parlamentar estava chegando ao local no momento em que os índios pediam autorização aos seguranças para deixar as toras na Câmara ou no Senado.

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

O senador disse que assumiria a responsabilidade e acompanhou os índios até o interior do Senado. Conforme o combinado com Suassuna, os índios deixariam as duas toras na entrada do Plenário, mas eles acabaram colocando-as em frente à mesa da Presidência da Casa. Segundo o líder indígena Hiparido Toptira, da etnia Xavante, o ato foi uma forma de chamar a atenção das autoridades para a devastação do cerrado, acentuada nos últimos anos devido à ocupação desordenada do solo e ao crescimento do agronegócio, principalmente da plantação de soja na região. “Nós não queremos soja em torno dos territórios indígenas, porque está tendo problema seriíssimo de agrotóxico nos nossos rios, e a caça e as frutas estão diminuindo”.

59572_1.jpegPara o líder indígena, é preciso uma lei específica para proteger a fauna e a flora do cerrado. “Nós dependemos do cerrado e o cerrado depende da gente. Sem o cerrado, a gente não tem corrida de toras, não tem pintura. Para nós, como xavantes, só com o cerrado a gente consegue sonhar e aí poder fazer música”, explicou Hiparido Toptira.

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

Segundo Ney Suassuna, as toras ficarão em exposição no museu da Casa. O senador explicou que resolveu autorizar a entrada dos índios no Senado porque se trata de uma causa justa. “O Brasil hoje tem 62 milhões de hectares de área plantada. Faltam 92 milhões de hectares. Então, a gente pode preservar uma boa parte do cerrado porque não há necessidade de ocupar tudo”, disse o senador, ao destacar que o ideal é que o bioma passe a ser Patrimônio Nacional.

As atividades do Grito do Cerrado continuam ao longo da tarde desta quinta-feira e terminam amanhã (10), um dia antes do Dia Nacional do Cerrado, comemorado no dia 11 de setembro. Hoje, às 15h, será realizada na Câmara uma mesa-redonda sobre a Proposta de Emenda Constitucional que dá ao Cerrado o título de Patrimônio Nacional. Também haverá debate, até às 18h, sobre problemas socioambientais e alternativas para o cerrado, na tenda montada no gramado da Esplanada. A programação prevê também exposições, apresentações de danças e cantos indígenas.

Universidade do Vale do São Francisco quer incentivar desenvolvimento do semi-árido

Recém-criada pelo Ministério da Educação (MEC), a Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), localizada no semi-árido nordestino, quer incentivar o desenvolvimento da região. Os 11,8 mil candidatos que disputam as 530 vagas oferecidas pela universidade farão amanhã a segunda parte do primeiro processo seletivo da instituição.

“A universidade cobre uma deficiência grave na região que é a fuga de cérebros para as grandes regiões brasileiras. Os estudantes daqui migram normalmente para Brasília, São Paulo, Salvador, Recife, e isso é lamentável. Você não tem um desenvolvimento regional quando não instala efetivamente uma instituição de qualidade”, destaca o gestor geral da Univasf, professor José Weber Freire Macedo.

Segundo Weber, a região do Vale do São Francisco é considerada a maior produtora de frutas do país. “Para se ter uma idéia, 90% da exportação brasileira de mangas e uvas sai da região”, ressalta. De acordo com o professor, a criação da Univasf completa o ciclo de desenvolvimento integrado da região. “Faltava exatamente o elo científico, educacional”, explica.

A Univasf oferece vagas em 11 cursos de graduação: Medicina, Enfermagem, Zootecnia, Administração, Psicologia, engenharias Civil, de Produção, Agrícola e Ambiental, Mecânica e Elétrica, além de Arqueologia e Preservação Patrimonial. O curso de Medicina é o mais concorrido, com 64 candidatos por vaga.

A expectativa é que a lista dos aprovados seja divulgada até 10 de outubro. As aulas começam em 18 de outubro, nos dois campi da universidade, instalados em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). O campus de Petrolina está sendo construído em uma área de 300 hectares, doada pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), mas funcionará provisoriamente no prédio do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), abrigando os cursos de Medicina, Enfermagem, Psicologia, Zootecnia e Administração.

As instalações do campus de Juazeiro estão sendo construídas numa área de 60 hectares cedida pela Prefeitura. Por enquanto, os cursos nas áreas de Engenharia Civil, Elétrica, Produção, Mecânica, Agrícola e Ambiental irão funcionar em uma escola comunitária da região. Já o curso de Arqueologia utilizará as instalações e laboratórios da Fundação do Homem Americano (Fundham). A Fundação administra o acervo arqueológico do Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí, a 300 km de Petrolina. Todas as edificações cedidas estão passando por reforma para o início das aulas.

Ministro defende criação de estatal de mineração

O ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, defendeu a legalização da exploração mineral em terras indígenas. Para o ministro, a medida seria uma solução para conflitos como os ocorridos entre índios da tribo Cinta-Larga e garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia. A Polícia Federal encontrou 29 corpos na região, dos quais 13 foram reconhecidos como garimpeiros e outros 15 tiveram de ser sepultados ontem, sem identificação. Eles teriam sido mortos por cinta-larga num confronto pela exploração de diamante.

Segundo Nilmário Miranda, no ano passado foram retirados cerca de cinco mil garimpeiros da reserva, que faziam a exploração ilegal de minérios. “Mas eles voltam, até porque há a entrada pela Bolívia, que é difícil de controlar. Uma das maneiras de diminuir a violência, e controlar, seja a exploração predatória, seja a repetição de violência constante, é legalizar o garimpo, através de uma empresa estatal, que permita inclusive dar sustentabilidade para os indígenas”, afirmou o ministro, em entrevista à Agência Brasil.

Na semana passada, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) já havia anunciado a criação de uma comissão especial na Casa para sistematizar todos os projetos que tratam da regulamentação mineral e florestal em reservas indígenas. A Assessoria da Casa Civil, por sua vez, informou que o órgão analisará a minuta de decreto do Ministério das Minas e Energia para disciplinar a exploração mineral em terras indígenas.

Sobre a responsabilização dos índios que teriam assassinado os garimpeiros na reserva, Nilmário Miranda disse que as diferenças étnicas e culturais devem ser consideradas, mas acrescentou que não pode haver impunidade no caso. “Ninguém tem direito de matar, o direito à vida tem que estar acima de qualquer outro direito. Portanto, tem que haver inquérito, tem que haver responsabilização”, defendeu.