Ampliação do cultivo de arroz provoca degradação em Raposa, afirma Ibama

Os efeitos nocivos à fauna e à flora da Terra Indígena Raposa Serra do Sol se tornam mais intensos conforme se amplia o cultivo de arroz na reserva. Foi o que afirmou à Agência Brasil a superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Roraima, Nilva Cardoso Baraúna.

“Ocorre tipo uma degradação e contaminação em cadeia. O agrotóxico lançado na agricultura, com a chuva é arrastado para os rios e provoca a morte de peixes e pássaros. E com isso chegam também ao humano, que consome água in natura”, explicou Nilva.

Com o sistema de detecção por georreferenciamento, técnicos do Ibama têm verificado que as áreas de rizicultura na Raposa Serra do Sol são ampliadas ano a ano. O clima e a característica de solo propício favorecem um cultivo dinâmico, diz a superintendente: “O período de colheita é de três em três meses. Se retira uma safra e já se joga a outra”.

Os arrozeiros que utilizam o Rio Surumu para produzir o arroz irrigado ocupam atualmente 36 mil hectares dos 1,7 milhão existentes na Raposa Serra do Sol, pela última demarcação. Segundo Baraúna, as tentativas de diálogo com o grupo sobre questões ambientais não prosperaram. “Eles querem permanecer em área fértil, com água em abundância e terras griladas”, afirmou.

O Ibama já aplicou multa de R$ 30,6 milhões por danos ambientais ao líder dos arrozeiros, Paulo César Quartiero, e promete punir outros produtores da área. A superintendente avalia que o valor não é exorbitante nem abusivo.

“Quando começa a sentir no bolso, se pensa duas vezes em promover algum tipo de degradação desta natureza. O meio ambiente é um bem público e as multas têm que corresponder ao dano que afeta a coletividade.”

Deputados discutem proibição de agrotóxico usado em veneno contra ratos

A comercialização do defensivo agrícola aldicarbe, também usado para produzir o raticida popularmente conhecido como chumbinho, foi tema hoje (30) de audiência na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. A reunião teve o objetivo de esclarecer os parlamentares sobre a conveniência de manter ou proibir a venda do Temik 150, que tem a substância como principal componente.

O pesticida tem a produção proibida no Brasil, sendo lícita somente a venda controlada para uso em culturas de café, laranja, batata e cana-de-açúcar. No entanto, o produto, é comercializado ilegalmente para a produção do chumbinho.

Projeto do deputado Fernando Coruja (PPS-SC) propõe a proibição da entrada em todo o país do produto, atualmente comercializado em Minas Gerais, Bahia e São Paulo. O relator do projeto, deputado Cláudio Diaz (PSDB-RS), defende o cancelamento de todos os registros de agrotóxicos com aldicarbe na composição.

De acordo com o relator, o projeto poderá ser levado a votação amanhã (31) na reunião da comissão. Ele reconheceu, entretanto, que a aprovação da proibição enfrentará muitas dificuldades. “Especialmente entre os que defendem a lucratividade da agricultura a qualquer custo”, salientou.

Segundo Diaz, o prazo para a proibição pode ser negociado, mas ele recomenda aos agricultores que utilizam o produto que procurem alternativas para o pesticida. “A pesquisa no Brasil deveria ser incentivada para isso”, ressaltou durante o debate.

O parlamentar ressaltou que o aldicarbe foi proibido em vários países. Ele afirmou ainda que o uso do agrotóxico pode afetar as exportações brasileiras. “O Japão já proibiu a compra de café que utiliza no seu cultivo esse produto, assim como fará o Mercado Comum Europeu no final deste ano na compra de cítricos”, afirmou.

Segundo o biólogo Sérgio Greif, que também esteve na audiência, o defensivo é responsável por um terço dos envenenamentos dos humanos. Entre os animais, 89% dos casos de envenenamento de cães e 94% das intoxicações de gatos são causadas pelo aldicarbe.

Greif divulgou estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo o qual as principais vítimas do aldicarbe são os que fabricam, manipulam e aplicam o produto. No Brasil, há alto índice de envenenamento de crianças, em casos acidentais, e também entre suicidas.

O biólogo disse ainda que a ingestão de 0,02 miligrama por quilo de massa corpórea é suficiente para causar danos irreversíveis aos seres humanos. “Quando não é letal, o veneno afeta todo o sistema nervoso e imunológico, causando toda uma série de distúrbios como diarréias, cólicas abdominais, suor excessivo, contração e dilatação alternada da pupila, câimbra, fraqueza, sonolência entre muitos outros efeitos”, afirmou.

A proposta já recebeu voto em separado do deputado Dilceu Sperafico (PP-PR), que apresentou voto em separado discordando da proibição. Sperafico argumentou que o aldicarbe é o único ingrediente ativo registrado para o controle de algumas pragas que atacam a citricultura.

Para Sperafico, a possível proibição da venda do aldicarbe não coibirá a fabricação do chumbinho, já que o raticida pode ser fabricado também com outros defensivos agrícolas. “Além disso, o aldicarbe ser mais um produto contrabandeado, pois é vendido livremente nos países vizinhos do Brasil”, argumentou.