Protocolo de Quioto: segunda fase deve ser mais rigorosa

 O segundo aniversário do Protocolo de Quioto, em 16 de fevereiro de 2007, é um marco positivo quando o mundo inteiro está discutindo as mudanças climáticas. O tratado é o único no mundo que estipula reduções obrigatórias de emissões causadoras do efeito estufa e constitui também a base para uma ação global cada vez mais eficaz contra as mudanças climáticas nas próximas décadas. Mas a primeira fase do Protocolo de Quioto termina em 2012 e é necessário que a comunidade global se articule para dar prosseguimento ao acordo e se esforce para evitar o aumento da temperatura do planeta.

“Por isso, é importante que os países membros da convenção-quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças do Clima cheguem a uma decisão ainda este ano sobre os principais pontos da segunda fase do tratado pós 2012, que são o estabelecimento de metas de redução mais rigorosas para os países desenvolvidos e a inclusão de contribuições na redução de emissões pelos países em desenvolvimento”, afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.

“É fundamental que os países em desenvolvimento assumam metas voluntárias de redução de acordo com a característica de cada país e contribuam efetivamente para melhorar o clima do planeta”, explica Karen Suassuna, técnica em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil. No caso da China e da Índia, o maior problema é a queima de combustíveis fósseis, sobretudo no setor de energia. Já no Brasil, as queimadas oriundas do desmatamento são responsáveis por 75% das emissões brasileiras, o que torna o país o 4º maior poluidor do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Indonésia.

As negociações feitas em torno da segunda fase de Quioto apontam para metas mais rigorosas para os países desenvolvidos, 30% de suas emissões devem ser reduzidas até 2020, considerando como base suas emissões no ano de 1990. “Só por meio deste grande esforço coletivo é que poderemos vislumbrar um aumento de temperatura média do planeta inferior a 2ºC, minimizando os impactos das mudanças do clima nesta e nas futuras gerações” completa Suassuna.

História do Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto, assinado pela primeira vez há 10 anos, só começou a vigorar em 2005, quando 139 países o ratificaram demonstrando a real intenção da comunidade global de combater o aquecimento global. Hoje, 169 países mais a União Européia estão dentro do tratado. Infelizmente, alguns países que poluem muito, como os Estados Unidos, ainda não ratificaram o Protocolo de Quioto.

Segundo o acordo, os países industrializados que ratificaram o protocolo devem reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente 5% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. O compromisso conjunto de redução das emissões de gases de efeito estufa soma 5,2%. Cada país tem uma meta diferente dentro da meta global.

Participantes podem reduzir as emissões nacionalmente e/ou podem usar as vantagens dos chamados "mecanismos de flexibilização" (Comércio de Emissões, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e Implementação Conjunta), como também usar o carbono absorvido nos chamados "sumidouros", como florestas e terras agrícolas, para compensar suas necessidades de redução. Punições serão aplicadas aos países que não cumprirem suas metas.

Atualmente o Protocolo de Quioto não prevê qualquer meta obrigatória para países em desenvolvimento. No entanto, os países em desenvolvimento têm a obrigação de calcular seus inventários e desenvolver políticas e medidas que reduzam suas emissões.

Brasil e China assinam acordo de cooperação ambiental

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone, e o vice-ministro da Administração da Proteção Ambiental da China, Zhu Guangyao (foto), assinaram, hoje, um acordo para cooperação ambiental entre os dois países. As áreas prioritárias para troca de informações sobre políticas e tecnologias são manejo de parques e reservas, florestas, qualidade da água, energias renováveis, legislação, educação ambiental e proteção do ambiente marinho.

Até o fim do ano, um representante do MMA deve ir à China para um intercâmbio de experiências na área florestal.

Durante a reunião, em Brasília (DF), Langone explicou ao vice-ministro chinês os esforços que o Ministério vem desenvolvendo para que as questões ambientais sejam avaliadas ainda no planejamento de obras de infra-estrutura e geração de energia, por exemplo. Os resultados já podem ser avaliados no novo modelo do Setor Elétrico e nas licitações da área de petróleo e gás.

O secretário também informou Guangyao quanto as estratégias para preservação dos recursos naturais, criação de parques e reservas, avaliação de impactos por bacias hidrográficas e mudanças climáticas. Conforme Langone, a entrada em vigor do Protocolo de Quioto, em fevereiro, trouxe uma série de oportunidades para ambas as nações. "É fundamental que países megadiversos, como Brasil, China e Índia, dialoguem mais sobre os compromissos e possibilidades do protocolo", disse.

Questionado sobre o acordo paralelo ao Protocolo de Quioto assinado por China, Estados Unidos, Austrália, Índia, Coréia do Sul e Japão, Guangyao disse que a iniciativa vai ao encontro dos objetivos da Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. "O acordo não substitui Quioto. Faremos novos acordos com outras nações para reduzir nossas emissões", disse. Os Estados Unidos e os cinco países asiáticos são responsáveis por cerca de metade das emissões de gases de efeito estufa do mundo.

O vice-ministro chinês afirmou que seu país está em pior situação ambiental do que o Brasil. Segundo ele, 60% dos rios estão poluídos, há muito desmatamento, poluição, elevado consumo de energia e de recursos naturais. "A indústria do aço consome 21% mais energia do que a média mundial", disse. "O futuro preocupa, já que, até 2020, a China deverá ter 1,46 bilhão de habitantes".

Entre as medidas que aquele país está adotando para reverter este quadro, conforme Guangyao, está uma ampla revisão da legislação ambiental, pesquisas, zoneamentos ecológico-econômicos, projetos piloto de desenvolvimento sustentável em cidades e vilarejos e a criação de parques e reservas. "A área protegida na China saltou de 5,7%, em 1992, para os atuais 12,8% do território", disse.

A delegação chinesa também visitará o Ibama, a Agência Nacional de Águas (ANA), a Hidrelétrica de Itaipu e o Parque Nacional do Iguaçu.