Meio Ambiente e Cidades firmam parceria para estudar aproveitamento do lixo

Brasília – Como o lixo pode se tornar fonte de riqueza e gerar renda para famílias de catadores de lixo? Responder a essa pergunta é um dos objetivos do Projeto Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), aplicado a resíduos sólidos urbanos. Uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e das Cidades, assinada hoje (20), formalizou a criação de comitês interministeriais que vão implementar e acompanhar o projeto.

Os estudos indicarão como poderá ser aproveitado o lixo produzido nos 30 maiores municípios do país. Uma das idéias é analisar a viabilidade do aproveitamento do biogás (ou gás metano) produzido em aterros sanitários, mostrando como ele pode ser aproveitado com fonte de energia. O projeto também vai indicar formas de geração de empregos e inclusão social, integrando os catadores de lixo dos aterros e os de rua.

Ao firmar a parceria, o ministro das Cidades, Márcio Fortes, disse que todo o conhecimento deverá ser produzido utilizando tecnologias já disponíveis no país, com a utilização de experiências que já estão em curso em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

Ele lembrou que as iniciativas de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo também poderão ser financiadas por empresas que poluem o planeta, como forma de adquirem créditos de carbono, uma espécie de compensação financeira para os países que mais poluem o planeta.

Os créditos de carbono são cedidos pelas agências de proteção ambiental reguladoras aos países que comprovadamente reduziram a emissão do poluente por meio de um projeto MDL, que pode ser um programa de reflorestamento ou de desenvolvimento de energias alternativas.

“Nós temos que ter esses elementos poluidores como fator positivo para nós, ou seja, nós queremos disponibilizar mecanismos que possibilitem a países que têm em sua origem problemas quanto à limitações, que possam vir comprar aqui as compensações que podem ser geradas inclusive pelas atividades dos lixões”, disse Fortes.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, lembrou que os gases produzidos pelo lixo contribuem para o efeito estufa e influenciam nas mudanças globais do clima. Com o projeto, a ministra prevê a diminuição dos impactos ambientais. “Na medida em que você faz a redução das emissões, você está contribuindo com outros esforços no âmbito da convenção da biodiversidade e outros segmentos”.

O estudo vai ser financiado com recursos doados pelo governo japonês e com apoio do Banco Mundial, por intermédio do Programa de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS). A partir do resultado dos estudos, as prefeituras poderão buscar financiamento nacional e internacional para implantar seus projetos.
 

Estudo aponta que empresas brasileiras não implementam projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Rio de Janeiro – Um estudo realizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior em parceria com a PricewaterhouseCoopers junto a 163 indústrias, associações setoriais e instituições financeiras detectou que 79% das empresas brasileiras pretendem realizar projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O estudo foi feito no primeiro trimestre deste ano, e aponta também que 70% das empresas pesquisadas têm faturamento anual superior a R$ 200 milhões.

Instituído por sugestão do governo brasileiro no Protocolo de Quioto (artigo 12), o mecanismo objetiva fomentar o desenvolvimento sustentável em países emergentes, que poderão negociar a redução de emissões de gases na atmosfera com os países considerados altamente poluidores. O MDL pretende estimular a aliança entre crescimento econômico, inclusão social e preservação do meio ambiente, mediante a transferência de tecnologia dos países ricos para as nações em desenvolvimento.

A principal conclusão do estudo, segundo informou à Agência Brasil o sócio da PricewaterhouseCoopers, Rogério Gollo, é que a maioria dos empresários sabe que a realização de projetos de MDL é fundamental para a consolidação da nova visão de desenvolvimento, mas ainda não implementaram esses projetos. “Eles sabem que é um bom negócio, tanto em termos sócio-ambientais ou de investimento, ouviram falar, mas ainda não tomaram a decisão de realizá-los”.

“Está faltando aquela coragem, o empurrãozinho para tomar a decisão como parte da análise de investimento total, disse Gollo, acrescentando que falta o link (ligação) entre o setor de meio ambiente e o pessoal de planejamento e investimento das empresas.

O segundo entrave, conforme Rogério Gollo, é que as empresas não têm, em geral, uma visão de longo prazo no país. “Elas associam isso a mercado de mais curto prazo, e por isso adiam as decisões de investimento”.

O executivo afirmou que os projetos de MDL têm que fazer parte da agenda de investimento e de melhoria das empresas. E tudo começa, segundo Gollo, com o inventário de emissões. Se as empresas fizessem um levantamento de onde poderiam gerar eficiência de energia, saberiam com mais facilidade onde poderiam ou não atuar, explicou.

De acordo com a pesquisa, a maior parte das empresas e entidades consultadas (74% do total) ressalta que o principal objetivo é o cumprimento de leis ambientais. “Falta o passinho a mais. Quer dizer, estou tranqüilo na lei e agora quero ver se vou adiante. Partir para a ação”,  enfatizou Gollo.

Por setores, a maior conscientização sobre a importância do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo foi observada na área industrial, com destaque para os setores de química e petroquímica, além da siderurgia e mineração, cujos dirigentes se mostram atentos a essa questão. 

Professor da UFMG vê riscos para a floresta amazônica

O desflorestamento permanece sem controle e seis das maiores bacias hidrográficas da Amazônia perderão, pelo menos, dois terços da sua cobertura florestal. Com isso, 382 espécies de mamíferos perderão o habitat. A informação foi divulgada na revista científica Nature e é fruto do desenvolvimento de um programa de informática por instituições de pesquisa brasileiras e norte-americanas.

"O que motivou a gente a desenvolver esse projeto é exatamente analisar as possíveis conseqüências do que está acontecendo com a Amazônia e usar esse resultado como um alarme para alertar que, se continuar desse jeito, vai ser um desastre com trágicas conseqüências para o meio ambiente", afirmou Britaldo Soares Filho, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ele disse que o programa vem sendo desenvolvido desde 1998 e apresenta, além da situação atual e do que pode acontecer, alternativas para solucionar a questão. Afirmou que o problema do Brasil é a falta de recursos. O dinheiro para investir na floresta pode sair dela própria ou por meio do Protocolo de Kioto, frisou.

"Ele estabelece redução de emissões carbônicas que estão indo para atmosfera. Se esse cenário pessimista predominar, haverá uma emissão de 32 bilhões de carbono para a atmosfera, até 2050. Se o Brasil negociasse o protocolo para evitar o desmatamento, creditando recursos da compensação, se reduziria a emissão de carbono e investiria os recursos na preservação da Amazônia", afirmou.

Está previsto no Protocolo de Kioto o Mecanismo de Desenvolvimento Livre (MDL), por meio do qual países em desenvolvimento podem converter a redução da emissão de gás carbônico em créditos que podem ser vendidos aos países industrializados. Britaldo deu entrevista ao Programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM.