Operação que vai garantir homologação da Raposa Serra do Sol ganha reforço de 70 delegados

Brasília – A Operação Upatakon, criada pela Polícia Federal para garantir a homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e tentar evitar conflitos na região recebeu nesta segunda-feira (25) o reforço de cerca de 70 delegados e agentes federais. Com isso, sobe para 210 o número de policias federais envolvidos na operação, de acordo com a assessoria. A informação é da Superintendência da PF no estado.

Segundo o secretário estadual do Índio, Adriano Nascimento, a situação na região ainda é tensa, uma vez que desde sexta-feira índios macuxis mantém reféns quatro policias federais na aldeia Flechal, no município de Uiramutã, no norte do estado. O secretário esteve no local ontem (24) e disse que os líderes indígenas continuam exigindo a presença do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para libertar os reféns.

"Eles dizem que é possível uma negociação pacífica, desde que o ministro da Justiça esteja presente". Ligados à Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima (Sodiur), os índios fizeram os policiais federais reféns na sexta-feira (22). Eles querem que o governo federal reveja a homologação da Raposa Serra do Sol em área contínua.

De acordo com Nascimento, a aldeia Flechal abriga cerca de 750 índios da etnia macuxi, mas ontem já havia entre 1,3 mil e 1,5 mil indígenas reunidos no local. "São índios que vieram de comunidades próximas e que também são contrários à homologação contínua da Raposa Serra do Sol", explicou.

Outra preocupação do secretário é que as duas rodovias bloqueadas pelos índios em protesto contra a homologação permanecem fechadas. "Ontem, eles bloquearam a BR-174, na entrada de Pacaraima e no sábado, a rodovia estadual que dá acesso à Uiramutã", contou Nascimento. Segundo ele, agora só é possível chegar à aldeia de avião ou helicóptero. Adriando Nascimento afirmou ainda que os policiais federais mantidos reféns estão sendo bem-tratados na aldeia Flechal. "Eles não estão detidos, podem circular no local", disse.

Seqüestro de policiais em Roraima busca "viabilizar legalmente a grilagem de terras", diz Cimi

Brasília – A tensão causada pelo seqüestro de quatro policiais federais em Roraima pelos índios macuxi tenta "viabilizar legalmente a grilagem de terras", diz o vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Saulo Feitosa. Os agentes foram raptados na última sexta-feira, na aldeia Flechal, no município de Uiramutã, no norte do estado, no meio do território em que está a Reserva indígena Raposa Serra do Sol.

"Essa pressão que está acontecendo lá com a retenção dos policiais federais é para a viabilização legal da grilagem de terras e isso não pode acontecer. É contra a Constituição. O risco que se corre no momento é passar quatro milhões de hectares de terra para as mãos de quatro ou cinco grandes latifundiários", explicou ele hoje (25), durante a Mobilização Nacional Terra Livre, realizada pelos índios acampados na Esplanada dos Ministérios.

Para Feitosa, essa é uma queda de braço entre o governo de Roraima e o governo federal. "Na região da Raposa Serra do Sol, além das áreas indígenas e de preservação ambiental, existem cinco milhões de hectares de terras da União Federal. O governo de Roraima quer que a União titule quatro milhões de hectares dessas terras para o estado de Roraima. Assim, as terras cairiam nas mãos dos grileiros profissionais."

Feitosa explicou que os índios estão na linha de frente do movimento, mas que há dois grupos na retaguarda: o econômico (dos arrozeiros) e o político (dos prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores e o governador de Roraima). "Há inclusive denúncias de que, em outros seqüestros realizados, houve a utilização de carros da prefeitura para a manutenção de reféns."

Para Feitosa, fazer reféns é um procedimento adotado pelos índios macuxi. "Antes dos agentes da Polícia Federal, já havia feito de reféns alguns integrantes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e de outras entidades que trabalham lá."

Dionito Macuxi, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), disse que estão satisfeitos com a homologação contínua da Raposa Serra do Sol. Ele afirmou, durante a Mobilização Nacional Terra Livre, que os reféns vão ser liberados tranqüilamente, sem violência. "Dos 16 mil índios que vivem na reserva, uns mil fazem a baderna como se fosse um racha total da população. Isso é mentira. Todos somos defensores daquela terra e vamos continuar assim. Os que se dizem contra não têm para onde ir e vamos continuar todos juntos, de forma pacífica."