Morre o ex-cacique Xavante e deputado federal Mário Juruna

ROTA BRASIL OESTE – O ex-cacique Xavante Mário Juruna, de 58 anos, único índio brasileiro a assumir um mandato como deputado federal (1983-1987), morreu na noite dessa quarta-feira, em Brasília. Juruna sofria de diabetes e hipertensão e, há 15 dias, estava internado na UTI de um hospital da cidade, devido a complicações renais e um princípio de pneumonia. A saúde de Juruna já era debilitada há tempos, e há mais de cinco anos ele estava preso a uma cadeira de rodas, resultado de complicações da diabetes.


Representantes de diferentes nações indígenas participam do velório do cacique xavante e ex-deputado Mário Juruna, no Salão Negro do Congresso Nacional. Foto: José Cruz / ABr

O cacique foi velado durante toda a manhã de quinta-feira, dia 18, no Salão Negro da Câmara dos Deputados. Índios Kaiapó e Xavante prestaram sua homenagem, assim como o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, antigo companheiro de partido de Juruna. “A gente fica muito triste, a família toda rapa a cabeça e fica dentro de casa muito tempo”, explica o cacique Cipriano Xavante.

No fim da tarde, o corpo deve seguir em um avião da Fundação Nacional do Índio (Funai) para a tribo xavante Namunkurá, em Barra do Garças, Mato Grosso, onde será sepultado. O corpo será enterrado cerca de 100m do centro da aldeia, numa cerimônia rápida e simples.

Casado três vezes, pai de 14 filhos, Juruna morava no Guará, cidade-satélite de Brasília, e recebia do PDT uma ajuda de custo de cerca de R$ 3 mil. Recentemente, ele estava pleiteando uma pensão junto ao governo federal, similar a que recebe Orlando Villas-Bôas.

A vida política do cacique

Juruna ficou famoso por andar em Brasília com um gravador em punho para gravar as promessas feitas pelos políticos – segundo ele, mentirosos – para as reivindicações indígenas.

Suas andanças pelos corredores do Congresso começaram em meados da década de 1970, quando veio à Brasília pedir roupas e calçados para sua aldeia. Em 1980, ele ficou conhecido mundialmente ao ser o delegado dos índios do Brasil no Quarto Tribunal Bertrand Russel, realizado na Holanda.

Quando foi eleito deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro, Juruna tornou-se ainda mais combativo e foi uma importante voz a defender a gestão de índios em assuntos indígenas. Para ele, a administração da Funai deveria estar sob os cuidados dos maiores interessados no trabalho da instituição, os próprios índios.

Protestos

O cacique kaiapó Raoni aproveitou a cerimônia para exigir mais atenção para os direitos indígenas. Emocionado, ele gesticulava muito e reclamou mais uma vez do projeto de lei de mineração do senador Romero Jucá (PSDB-RR). “Este projeto acaba com nossa terra, nossa, dos índios e dos brancos”, afirma. “Quero preservar terra para nossos netos”.

Cirpiano Xavante, companheiro de Juruna, também fez críticas à atuação do governo. “Todos os índios têm sentido que empresários estão tirando coisas nossas, madeira, ouro, água” diz. Ele concorda com Raoni quanto ao projeto de mineração e acredita que se a lei for aprovada “vai haver muita morte”.


Cacique Raoni fala a jornalistas, no Ministério da Justiça. Foto: Victor Soares / ABr

Os indígenas tiveram uma audiência com o ministro da justiça, Paulo Tarso Ribeiro, de quem cobraram ações práticas e apoio para a Fundação Nacional do Índio (Funai). “Índio quer é estudar para entender a cultura do branco e cuidar dele próprio”, cobrou Cipriano. “A gente quer um indígena como presidente da Funai. Ela tem de ser forte, cuidando da saúde, educação e tudo.”, completa Raoni.

Bruno Radicchi e Fernando Zarur

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