Soja avança a leste do Parque do Xingu e os Suyá ameaçam reagir

ISA – As plantações estão cada vez mais próximas do limite do parque. À medida que avançam, deixam pelo caminho um rastro de destruição caracterizado por erosão, desmatamento e poluição dos rios. Os índios Suyá que vivem na área ameaçam reagir caso a soja invada suas terras.

A empresa multinacional Cargill, que beneficia soja, está implantando novas unidades de armazenagem em Mato Grosso – uma em Canarana e outra, já praticamente pronta, em Querência. E anunciou ainda a contrução de outra unidade na sede da fazenda Gabriela, a 40 km do Parque Indígena do Xingu (PIX), no Alto Xingu, Mato Grosso. Quem anda pela estrada que liga Canarana ao parque não pode deixar de notar a expansão das plantações de soja e o aumento dos desmatamentos associados. Os índios Suyá estão alertas para a ameaça de invasão de suas terras.

Por causa da luminosidade, ideal para o desenvolvimento de plantas de soja, aquelas terras têm alta produtividade, potencialmente acima da média brasileira. Além da Cargill e suas novas instalações, a empresa Bunge Alimentos, outra multinacional de peso, possui um grande armazém em Querência.

Na região há dois caminhos para a expansão dessa cultura: em áreas já abertas e pela conversão de pastagens em plantações de arroz antes de iniciar o cultivo da soja. Como os solos são de baixa fertilidade natural, precisam de calcário e adubos. Porém, por causa do inadequado sistema de conservação do solo e de sua grande susceptibilidade graças às suas características físicas, a erosão corre solta em muitas áreas. Contudo, o plantio direto (técnica de plantio sem aração) ainda tende a predominar nas lavouras e como parte deste sistema de produção os herbicidas, Roundup em geral, são usados extensivamente. É bom lembrar que a soja transgênica, embora proibida no Brasil, é resistente exatamente a este herbicida. Apesar da proibição, o contrabando de sementes transgênicas é uma realidade no país todo.

Conta parcial: adubos + venenos + erosão = rios poluídos. Embora a pesquisa agrícola, desenvolvida pela Embrapa, unidades estaduais e particulares, tenha investido muito tempo e dinheiro em manejo e controle biológico de pragas e doenças, outra parte do pacote mais adotado na região inclui os inseticidas e fungicidas. Na Fazenda Rica, o plano é separar lotes de 3 mil hectares e arrendar para plantadores do sul. Lá eles ainda estão negociando, pois oferecem a terra por 5 anos e os plantadores querem contratos de 15. Em outras fazendas estão sendo implantados esquemas similares. E o desmatamento segue, incluindo as matas ciliares, sem efetiva fiscalização dos órgãos competentes.

Os Suyá, que ocupavam toda a região até as cabeceiras do rio Suyá Missu, relatam que na antiga fazenda Macuco, o novo proprietário tem promovido desmatamentos até a beira dos rios. Segundo um dos fazendeiros do eixo Canarana-Querência, a área desmatada só para a safra atual é de espantar. Se espanta um fazendeiro, o que dizer de outros atores? Assim, o preço da terra foi para a estratosfera, praticamente triplicado. Em Canarana, está em torno de R$ 3 mil por hectare e nas proximidades de Querência, região dos Suyá chega a cerca de R$ 1,3 mil/hectares. Com tudo isso, a conta só faz crescer: grandes áreas + desmatamentos + venenos aplicados de avião = detonação de rios e do ambiente em geral.

Os Suyá dizem que mudaram a aldeia para o Ngojwere porque (entre outros motivos), o rio Suyá Missu está sujo e próximo de suas terras só existem dois rios limpos. O avanço está deixando o pessoal da aldeia assustado, com medo. Não querem a soja por perto. Neste momento, querem enviar um aviso aos vizinhos e autoridades, denunciando a invasão da soja na vizinhança de suas terras. E ameaçam: “Se vier máquina plantar soja aqui, nós vamos lá quebrar tudo”.

Geraldo Mosimann da Silva

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