Perereca pode conter a cura do mal de Chagas

Ibama – Uma perereca recém-descoberta no Cerrado pode ser a esperança no combate ao mal de chagas, causado pelo Trypanosoma cruzi. A perereca Phyllomedusa oreades – ainda sem nome popular, traz na pele um princípio ativo, chamado dermaseptina, que já está sendo estudado por uma equipe de pesquisadores da Embrapa, com resultados animadores. Estima-se que o mal atinja cerca de 18 milhões de pessoas em todo o mundo; quase quatro milhões no Brasil.

A descoberta amplia o conhecimento sobre o Cerrado considerado um dos biomas brasileiros mais ameaçados. Ao mesmo tempo, chama a atenção para a necessidade de mais pesquisas sobre os anfíbios brasileiros. “É um alerta sobre a importância do Cerrado e a necessidade urgente de se preservar o que restou.”, avalia o herpetólogo Reuber Brandão, da Universidade de Brasília, autor da descoberta.

A nova espécie está descrita no Journal of Herpetology (www.ssarherps.org). A Phyllomedusa oreades é endêmica das terras altas do Planalto Central, regiões com altitudes superiores a 900 metros. Pode ser encontrada em áreas da Chapada dos Veadeiros, na Serra dos Pirineus, nas partes altas da Serra da Mesa e no distrito Federal.

A perereca tem coloração dorsal verde com desenhos reticulados de coloração preta, sépia e púrpura sobre um fundo amarelo ou, laranja nas laterais do corpo. Vive em pequenos riachos de águas cristalinas, com fundo de pedras, nos campos rupestres típicos de montanhas. Durante o longo período de seca do Cerrado, o animal abriga-se sob os cupinzeiros, onde a temperatura mais baixa e a umidade são vitais para sua sobrevivência.

Como parte da respiração das pererecas se dá pela pele, elas necessitam de umidade para manter sua fisiologia em funcionamento. É comum aos anfíbios a existência de secreções de pele, que possuem diferentes funções, destacando-se a proteção contra predadores e agentes infecciosos. Muitas das secreções dos anfíbios são conhecidas por serem biologicamente ativas, em sua maioria, alcalóides, aminas e peptídeos.

Na pele das espécies do gênero Phyllomedusa, encontra-se uma classe de peptídeos antimicrobianos chamados phyllomedusinas. No caso da nova espécie, é essa dermaseptina que pode agir contra o Trypanosoma cruzi, sem apresentar toxidade às células sanguíneas in vitro. Os primeiros resultados dessas pesquisas estão publicados no Journal of Biological Chemestry, em artigo escrito em conjunto por pesquisadores brasileiros chefiados pelo químico Carlos Bloch, do Laboratório de Espectometria de Massa da Embrapa.

Os anfíbios apresentam alto grau de endemismo. Na prática, isso significa que várias espécies vivem apenas em áreas restritas com condições ambientais específicas. Se a área for degradada e essas condições desaparecem, muitas espécies podem ser extintas. Devido às suas características fisiológicas, principalmente aquelas relacionadas à sua pele, os anfíbios são animais muito suscetíveis à contaminação química das águas, explica Reuber Brandão. Segundo ele, a introdução de espécies invasoras, as mudanças climáticas globais, os desmatamentos e a diminuição da camada de ozônio são fatores que colocam a vida desses animais em perigo.

Com pele permeável e ovos aquáticos envolvidos em uma delgada camada gelatinosa, os anfíbios absorvem rapidamente substâncias diluídas no meio à sua volta. “Por necessitarem de boa qualidade dos ambientes para a reprodução, os anfíbios são excelentes indicadores ambientais. Sua presença pode denunciar a saúde do ecossistema em que habita” diz o herpetólogo.

 

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