Contador é testemunha da ocupação xavante

Funai – O contador Dario Carneiro, 64 anos, um dos primeiros desbravadores a se instalar na fazenda Suyá Missu, na região de Alto Boa Vista (MT), junto à Terra Indígena Marãiwatsede, em 1963, guarda, com carinho, dezenas de fotos, artigos de jornais e artesanato que ganhou durante os anos de convivência pacífica com os Xavante. Considerado testemunha-chave na audiência da Justiça Federal, realizada no último dia 29, em Cuiabá, onde vem sendo julgado o processo que poderá conceder o retorno dos Xavante para Marãiwatsede, o contador aposentado, prestou um depoimento emocionado em favor dos índios.

Dario que atualmente mora no interior paulista, participou da audiência juntamente com outras três testemunhas localizadas por um grupo de antropólogos da Fundação Nacional do Índio (Funai). Nova audiência está prevista para março. Esta semana, o contador reuniu-se com o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, em Brasília. “Foi difícil aprender a pronunciar as primeiras palavras da língua Xavante, mas eles tiveram paciência e me ensinaram. Em homenagem a eles e ao que aprendi durante nosso convívio, batizei meus quatro filhos com nomes Xavante”, diz em entrevista para o site da Funai.

Quais são suas recordações dos anos 60, período em que esteve com os Xavante?

Trabalhava para os proprietários da fazenda, em São Paulo, quando fui chamado para continuar minhas atividades em Suyá Missu. Guardo até hoje minha carteira de trabalho. Foi assim que conheci os índios. Procurava dar toda assistência a eles. Cheguei a ficar sete meses sem ir para casa. Estabelecemos um forte laço de amizade. Os Xavante me ensinaram o que é viver em comunidade, ter interesses comuns. Naquele tempo, quando abatiam um animal, os índios dividiam com todos. Os mais velhos sempre distribuíam as tarefas. Eles tinham uma boa convivência. Alguns momentos, porém, foram de tristeza, quando, por exemplo, muitos morreram em função de uma epidemia de sarampo.

Como o senhor aprendeu a língua?

Lembro que quando desci do pequeno avião, na pista improvisada, os índios me cercaram. Estavam curiosos. Não sabia o que falar ou como falar, mas sabia que teria que criar um vínculo com eles. Assim, fui aprendendo as primeiras palavras. Ouvia algo e pedia para repetirem. A cada dia ficava mais fácil. Em pouco tempo consegui me comunicar na língua deles.

Após quase 40 anos, o senhor se reencontrou com muitos índios em Cuiabá. Como foi esse momento?

Foi muito emocionante. Alguns eram jovens quando deixei a fazenda. Sempre tive muita afinidade com eles. Sinto-me na obrigação de ajudá-los. Acho justo que retornem à sua terra, mas que os posseiros também sejam acomodados para que não ocorram conflitos. Enfim, que tudo seja feito com base no entendimento.

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