Canarana

Situada no nordeste matogrossense, Canarana nasceu do processo de colonização gaúcha no estado. Fundada em 1979, por iniciativa da Cooperativa Agropecuária Mista Canarana Ltda (Coopercana) o município compartilha com a vizinha Água Boa – MT a mesma origem histórica.

Apesar de ter sido visitada por bandeirantes no século XVI, os primeiros a se fixarem na região vieram dos estados de Goiás e Maranhão na segunda metade da década de 1940. Eram aproximadamente 200 famílias que tiveram terras desapropriadas nos seus estados de origem e foram assentadas no local pela Fundação Brasil Central. Nessa época, estava em construção a BR-158, que seguia o traçado aberto pela Expedição Roncador-Xingu. Devido à falta de planejamento na ocupação, da primeira leva de agricultores, poucos permaneceram na região.

dc32.jpgNo início da década de 1970, o governo federal criou programas de incentivo à colonização do Centro-Oeste brasileiro. Organizados em cooperativas, os agricultores gaúchos vieram para o Mato Grosso atraídos pelos financiamentos federais para a compra de grandes propriedades de terra. Dois anos mais tarde, chegaram os primeiros colonos, ao todo 300 famílias, em sua maioria, gaúchas. No ano de 1976, Canarana virou distrito de Barra do Garças e três anos depois se tornou um município autônomo.

No início da colonização, o DC3 da Coopercana serviu para trazer os primeiros colonos e mantimentos para a região. Foto: Pedro Ivo Alcântara.

Assim como a maioria das cidades vizinhas, a principal atividade da economia local é a pecuária. Com rebanho bovino estimado em cerca de 350 mil cabeças de gado, a área de pasto do município é de 600 mil hectares. Uma das principais indústrias do gênero, na região funciona o Frigorífico Vale do Kuluene, com capacidade de 550 abates por dia.

A agricultura também é responsável por boa parte da receita municipal. Com uma área total de lavoura de 55 mil hectares, a soja destaca-se como o mais importante produto agrícola, com 43,5 mil hectares de área plantada e cerca de 2,1 milhões de sacas colhidas na última safra. Em segundo lugar, o plantio de arroz ocupa 10 mil hectares produzindo 380 mil sacas.

Atualmente, o turismo começa a despontar como uma nova alternativa econômica. Eliane Felten, secretaria municipal de agricultura (responsável pela área de turismo e meio ambiente), acredita que a cidade tem um enorme potencial no setor, principalmente por ser um dos únicos acessos por terra ao Parque Indígena do Xingu. “Temos como objetivo montar projetos de ecoturismo, a região é muito procurada por pescadores e queremos desenvolver essa atividade de maneira não predatória”, explica Felten.

Cerrado e chimarrão

O processo de colonização do Brasil é muito mais extenso do que é ensinado nas escolas. Não só as Capitanias Hereditárias, Bandeiras e a construção de Brasília, em 1960, resumem este processo. Uma importante parte da história recente da ocupação do país ainda é ignorada.

Há 58 anos atrás, a Expedição Roncador-Xingu e a Fundação Brasil Central construíram rodovias e fundaram cidades, criando novas fronteiras econômicas no Centro-Oeste brasileiro. No final da década de 1960, projetos do Governo Federal de incentivo à colonização da região, como o Proterra, chamaram a atenção de agricultores gaúchos, dando início a uma segunda onda de ocupação.

m1305.jpgLogo, trabalhadores rurais e pequenos proprietários do Rio Grande do Sul se organizaram em torno de cooperativas a fim de obter terras e maquinários financiados em 10 anos e a juros fixos no Mato Grosso. Segundo Elcides Salamoni (na foto ao lado), um dos colonos e fundador da extinta Cooperativa 31 de Março, “a colonização aconteceu devido ao alto preço da terra no sul. Não viemos por amor ao país, e sim para ficar rico.”

Nessa época, o tamanho médio da pequena propriedade no Rio Grande do Sul era de apenas 2,5 hectares, enquanto que o colono associado à 31 de Março que vinha para o Vale do Araguaia recebia um lote rural de 400 hectares e 3 lotes urbanos com 800 m2 cada. Segundo Salamoni, cidades como Água Boa e Canarana foram planejadas em Tenente Portela (RS), antes mesmo da vinda dos colonos. “Fizemos que nem Brasília, com ruas largas e espaço de sobra”, afirma o pioneiro.

Apesar de todos os incentivos, as dificuldades encontradas foram grandes. A área era completamente desabitada e sem infraestrutura. “Aqui não tinha nada, nem posto de gasolina. Tínhamos que trazer o diesel para as máquinas de Barra do Garças”, explica Salamoni. E completa: “Tivemos que construir toda a infraestrutura das cidades, desde a escola, igreja até as pontes”.

De 1974 a 1980, duas mil famílias gaúchas vieram para região de Água Boa (MT). Destas, 35 % tiveram sucesso e permaneceram, o que é considerada uma excelente média, bem acima dos 20% a 25% previstos para esse tipo de empreendimento. “Não trouxemos empresários, mas sim agricultores. Houve muitas frustrações e mesmo assim fomos bem sucedidos”, conta Salamoni.

Mesmo com todo o planejamento prévio, o processo de ocupação do Mato Grosso é muito criticado. O Projeto Proterra, por exemplo, não exigia qualquer estudo de impacto ambiental, o que gerou uma grande destruição da fauna e da flora local. Hoje Salamoni lamenta a ocupação desenfreada: “não tivemos a menor preocupação com o cerrado, queríamos fazer lavouras. Hoje estamos vendo rios assoreados e as terras virando areia.”

A indústria agropecuára em Água Boa

A história de Água Boa confunde-se com a evolução de sua economia. A fundação da cidade, em 1975, foi feita por colonos gaúchos que vieram para a região fugindo da escassez de terras para agricultura no Sul. Este movimento foi viabilizado por um planejamento prévio de desenvolvimento agrário, e auxiliado por programas governamentais de crédito para a terra.Água Boa começou como um município voltado para a agricultura. Os primeiros migrantes implantaram na região, por volta de 1974, a cultura do arroz, desenvolvida em propriedades de médio porte (basicamente 400 hectares) e apoiada por um sistema de cooperativas. Este método possibilitou uma rápida industrialização da produção, que, ainda na década de 70, era uma das maiores do país.

A introdução da soja veio alguns anos depois, com a necessidade de diversificação das culturas plantadas. Trazido por empresários paulistas ao Vale do Araguaia, o grão tornou-se a segunda atividade econômica do município.

No início da década de 90, o governo Collor acabou com o financiamento agrícola para as cooperativas que atuavam na região. Com isso, a estrutura produtiva do município foi abalada: a antiga associação, a Cooperativa Agropecuária Mista Canarana Ltda(Coopercana), entrou em falência. Eucides José Salamoni, um dos fundadores da instituição e vice-prefeito de Água Boa no período 1980-1986, diz que “a alternativa para a gauchada foi a pecuária: o investimento inicial era pouco e não dependia dos incentivos do governo.”

Parte considerável das terras destinadas à produção de grãos foram transformadas em pasto. O rebanho, dividido em propriedades com uma média de 1000 hectares, atinge hoje a quantidade de 450 mil cabeças de Nelore PO. Além disso, por ser localizada no centro do pólo pecuário do Vale do Araguaia e do Xingu, a cidade se destaca na comercialização de gado melhorado de raça. A Estância Bahia, maior da região, foi responsável, no final do ano passado, pela venda de 12,8 mil cabeças num único leilão, que movimentou R$ 5,2 milhões.

“Água Boa é a capital da comercialização de bovinos. Nossos leilões, realizados durante todos os fins de semana de junho a outubro, atraem investidores paulistas, paranaenses, goianos e estrangeiros”, afirma Cesar Friedrichs, um dos responsáveis pela Estância Bahia.

m1205.jpgEm busca da revitalização da agricultura e de alternativas para o pequeno produtor, empresários locais começam a explorar novos tipos de cultivo. O algodão, amplamente explorado em outras áreas do Mato Grosso, é uma das grandes promessas para o município.

Uva: uma das alternativas de produção para a economia de Água Boa. Foto: Fernando Zarur

A uva, segundo Eucides Salamoni, é uma outra opção para a região. Estudando há cinco anos uma plantação de parreiras de diversas espécies, Salamoni afirma que a exploração comercial do tipo Niágara é viável e pode gerar renda para os pequenos produtores, com terrenos de até 50 hectares. “Aqui o clima é favorável. Você pode, facilmente, ter duas colheitas por ano e obter uma produção de 25 toneladas por hectare, enquanto no Sul, a média é de 15 toneladas”.

Água Boa

Antigo território de nações indígenas hoje desaparecidas, como os Tsuvá e Marajepéi, a região onde hoje está localizada Água Boa começou a ser explorada em 1673, quando o bandeirante Manoel de Campos Bicudo teria iniciado uma busca pelas lendárias Minas dos Martírios. Logo após, a região foi praticamente esquecida, sendo habitada apenas por povos nativos.

No final da década de 1940, a Expedição Roncador-Xingu chegou ao território. Junto com as Forças Armadas, procurava um lugar mais seguro para, em caso de necessidade, transferir a capital da República do litoral para o interior.

Nessa mesma época, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) teve os primeiros contatos com os Xavantes, nação indígena que habitava a área e ainda era arredia. Atualmente, os índios habitam a Reserva Indígena dos Areões.

Existem duas explicações para o nome da cidade de Água Boa. Numa delas, a denominação teria surgido quando a Fundação Brasil Central inaugurou a BR-158. O morador “Mané da Água Boa” canalizou um córrego à beira da estrada e utilizava a água para seu rancho, conhecido como Pousada dos Viajantes. Com o aumento do movimento na rodovia, Manoel inaugurou um posto de gasolina, que ficou conhecido como o ponto de referência dos limites entre Água Boa, MT, e Canarana, MT.

ruas.jpgA versão do sertanista Orlando Villas Bôas é um tanto diferente. Segundo ele, a tropa de vanguarda da Expedição Roncador-Xingu estava há vários dias sem encontrar nenhuma fonte de água potável e alguns trabalhadores estavam muito fracos. “Resolvi sair à procura de um riozinho. Foi quando encontrei um fio d’água, comecei a gritar: Água boa, água boa!”, explica Orlando. Próximo ao local foi montado pelos expedicionários o acampamento de Água Boa.

As largas avenidas de Água Boa e seu traçado foram inspirados pelo urbanismo de Brasília. Foto: Bruno Radicchi

Entretanto, a colonização da área se consolidou apenas em 1958, estimulada pelo governo do Mato Grosso, que vendia terras a preços reduzidos. Em contrapartida, os colonos deviam abrir estradas e montar a infra-estrutura. A primeira fazenda foi implantada pelo pioneiro gaúcho Paulo Jacob Thomaz. A iniciativa atraiu outras famílias do Rio Grande do Sul e impulsionou o desenvolvimento da comunidade que ficou conhecida como Vau dos Gaúchos.

Na década de 70, a região recebeu novos colonos e passou a ser um dos marcos do desenvolvimento agrícola no Estado do Mato Grosso. Diversos órgãos do governo federal, como a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), estimularam a produção agropecuária no cerrado por meio de projetos específicos, caso do Proterra e Polocentro.

Em 1979, a cidade conquistou emancipação administrativa e política, tornando-se um município independente. Hoje, Água Boa se destaca no Vale do Araguaia como uma das cidades que mais cresce, devido principalmente às grandes plantações de arroz e soja e ao rebanho bovino.

Palestinos dominam o comércio em Barra do Garças

No início da década de 50, parte da família de Abdel Aziz Ali Saleh chegou a cidade-dormitório de Barra do Garças, vizinha da movimentada Aragarças, sede da Fundação Brasil Central. Seu irmão procurava um lugar para estabelecer um pequeno comércio, longe dos conflitos entre judeus e palestinos que estouravam na época. Hoje, meio século depois, os árabes palestinos são uma das forças econômicas do município que cresceu e tornou-se maior que seu vizinho.

m0505.jpg“Para nós, patrícios, para toda a comunidade árabe daqui, não tem festa, não tem noite, a persistência é do nosso povo. Adotamos o Brasil como segunda pátria e viemos para vencer”, explica Aziz Ali Saleh, professor de inglês, proprietário de uma loja de roupas da cidade, a ‘Casa Enxoval’, e representante da comunidade palestina na cidade.

"Quem bebe água do Araguaia nunca mais vai esquecer. Vim para ficar uns quatro ou cinco anos e já estou aqui há mais de 30." Foto: Fábio Pili

A comunidade árabe-palestina, ou “os turcos”, como são conhecidos pela população, são proprietários dos quatro maiores hotéis da cidade, de uma rede de supermercados local, de lojas de material para construção, várias confecções, lojas de roupas e sapatarias. Segundo Aziz, cerca de 60% do comércio varejista está nas mãos de famílias árabe-palestinas.

Mascates e família

Os árabes palestinos começaram a chegar na região de Barra do Garças no início da década de 1950. Trabalhavam como mascates, comprando mercadorias em São Paulo e vendendo de porta em porta nas cidades do Vale do Araguaia. O comércio era promissor, pois além da carência de equipamentos e bens diversos e da falta de infra-estrutura, havia a movimentação provocada pela Fundação Brasil Central.

“Quando chegamos aqui, tinha um movimento de expansão, esta era uma terra não descoberta. Mas não tinha uma casa de comércio de brasileiros, nem mesmo em Aragarças. Tudo que a gente vendia vinha de São Paulo, pela Transportadora Caçula, e passava por Uberlândia e Goiânia”, contextualiza Aziz.

A escolha por Barra do Garças ao invés de Aragarças – na época sede da Fundação e pólo do desenvolvimento – foi devido a maior movimentação de fazendeiros e, posteriormente, gaúchos, no município matogrossense. “As terras desse lado do rio também eram mais baratas”, diz Aziz.

Assim que se estabeleciam, os palestinos traziam seus parentes das áreas de conflito – Israel, Cisjordânia e Palestina – para ajudar no comércio ou montar um empreendimento próprio. Dessa maneira, estabeleceram na região uma tradicional e familiar estrutura econômica, na qual a empresa é dirigida e passada de pai para filho, e todos os negócios da comunidade são interligados. Hoje, os árabes estão presentes em cidades como Balizas, Piranhas, Jataí e Caiapônia, todas localizadas no Vale do Araguaia.

A união entre os palestinos de Barra do Garças é tão marcante que, em 1980, fundaram a Sociedade Árabe-Palestina Brasileira. A organização, com cerca de 150 membros, funciona como fórum de discussão empresarial e centro cultural. Lá, explica Aziz, decisões sobre negócios são discutidas e as tradições e crenças da comunidade são celebradas.

Economia no Vale do Araguaia

Barra do Garças sofreu inúmeras mudanças nas últimas décadas. Se há 40 anos a viagem até Nova Xavantina, distante 150 Km, podia durar um mês inteiro, devido a atoleiros, pinguelas desmoronadas e outras dificuldades encontradas pelo caminho, o mesmo percurso pode ser feito hoje em três horas. Essas e outras transformações, além de impulsionadas pelo movimento desenvolvimentista da Fundação Brasil Central, também podem ser explicadas pela intensa atividade pecuária que se desenvolveu na região.

gado.jpgA indústria pecuária, ou seja, a criação e as atividades de aproveitamento do gado, como frigoríficos e curtumes, respondem por cerca de 80% da receita do município. O secretário municipal de Turismo, Comércio, Indústria e Meio Ambiente, Cláudio Picchi, é categórico: "A base da nossa economia é a pecuária e a indústria dos segmentos do boi."

A pecuária e atividades afins são responsáveis por cerca de 80% da receita do município. O rebanho bovino é criado predominantemente da forma extensiva, mas já há projetos de confinamento sendo implantados no município. | Foto: Pedro Ivo Alcântara.

Barra do Garças dispõe hoje de um rebanho bovino avaliado em 350 mil cabeças. Além disso, a indústria pecuária instalada na cidade atua sobre toda região do vale do Araguaia, área que se estende do Alto Taquari (divisa Mato Grosso-Mato Grosso do Sul) a Vila Rica (sul do Pará) e abriga um rebanho com cerca de 4 milhões de cabeças de gado.

A criação do gado é feita em grandes fazendas, muitas com área superior a 1000 alqueires e equipadas com infra-estrutura como asfalto, aeroporto, heliporto e pivôs de irrigação. Essas propriedades, segundo o censo realizado em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam 196 dos 596 estabelecimentos agropecuários encontrados em Barra do Garças.

Indústria de segmentos

Além de grandes fazendas, o município abriga dois frigoríficos e um curtume. O maior dos frigoríficos, o Friboi, abate uma média de 1200 cabeças de gado por dia e emprega 750 trabalhadores. Da produção média mensal de 4.100 toneladas de carne por mês, 90% é transportada para São Paulo, e o restante é exportado para a Inglaterra e Holanda.

O segundo frigorífico, Bertin, com capacidade média de abate de 500 cabeças por dia, está desativado. Mas Cláudio Picchi afirma que essa condição é temporária e logo deve voltar a funcionar.

Já o Curtume Santo Antônio (Curtusa) produz o couro curtido e semi-acabado, matéria prima vendida para o mercado interno, Europa e Estados Unidos.

Criação extensiva e intensiva

Em Barra do Garças, a maior parte do rebanho bovino é criada solta no pasto, de maneira extensiva. A geografia da região, caracterizada por um grande planalto sem acidentes geográficos que atrapalhem, repleto de rios e córregos que formam a bacia do Araguaia, permite tal criação. Ainda, os recursos empregados são baixos, assim como a geração de empregos. Para cuidar de mil bois, somente um peão é necessário.

A exceção é a fazenda Marca Agropecuária, onde cerca de 45 mil cabeças são mantidas dentro de cochos, confinadas e alimentadas de maneira a engordar o boi e alcançar seu ponto de abate em um menor espaço de tempo. A tecnologia empregada permite aos criadores transformar, em um prazo de 100 dias, um animal de 380 kg a 400 kg e um de 480 kg a 500 kg.

Nem só de bois vive o vale do Araguaia

Preocupada em diversificar sua economia, baseada quase exclusivamente na pecuária e na indústria de segmentos do boi, Barra do Garças se prepara para explorar um novo tipo de criação: de aves. Há quatro anos vem sendo costurada uma parceria entre a prefeitura de Barra do Garças, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a empresa Avico para a abertura de um complexo para o desenvolvimento intensivo da avicultura.

O projeto é avaliado em R$ 47 milhões, e prevê a construção de uma unidade de abatimento com capacidade de 120 mil aves/dia, uma fábrica de ração e uma unidade de criação com capacidade de produzir 20 mil aves/dia. A produção, avaliada em 150 toneladas por dia, seria voltada para o mercado interno.

Segundo o secretário municipal de Turismo, Comércio, Indústria e Meio Ambiente, Cláudio Picchi, 70% do complexo já foi implantado e sua finalização depende quase que exclusivamente da aquisição de maquinário e equipamentos. Entretanto, a equipe do Rota Brasil Oeste visitou uma das unidades da Avico e constatou que, embora em estágio avançado, as obras de construção ainda não terminaram. Fotos da construção foram vetadas por um inspetor da obra.

A recente extinção da Sudam preocupa o secretário, pois pode paralisar as obras no ponto em que estão e deixar para Barra do Garças grandes esqueletos como herança. “A exploração da avicultura no município irá gerar 500 empregos diretos e um número sem conta de indiretos. Dentro da Sudam existem falcatruas, mas também existem projetos sérios, e que com certeza, serão prejudicados".

Valdon Varjão

Famoso em Barra do Garça e Aragarças, Valdon Varjão guarda na memória todos os detalhes do que foi o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro no século XX. Como político e morador local foi mais que testemunha, atuou em todo o processo. Cinco vezes vereador e três vezes prefeito de Barra Garças, foi também deputado federal e senador. Hoje ele é dono de um dos maiores acervos históricos sobre a Expedição Roncador-Xingu, são vídeos, fotos e mais de 20 livros de sua autoria.

m0305.jpgGrupo – Em que época sua família veio pra esta região?

Valdon Varjão – Eu nasci no Ceará, mas vim para cá ainda novo. Meu pai chamava-se Manuel Cardoso Varjão e veio para a região do Roncador atraído pela febre do garimpo de diamantes, por volta de 1936. Nós fomos pra a cidade de Baliza, que era a capital do garimpo naquela época.

"(…)Desvirtuaram a intenção original que era colonizar toda essa região construindo estradas e novas cidades. A idéia não era catequizar índio e nem fazer Parque Indígena(…)" Foto: Fábio Pili

Grupo – Quando o Sr. veio para Barra do Garças pela primeira vez?

Valdon Varjão – Em 1938, quando eu tinha 15 anos, eu tocava na banda de Baliza, onde eu morava. A cidade fica a uns 60Km daqui. Os festeiros aqui da Barra contrataram a banda pra vir tocar aqui. Eu vim e acabei me apaixonando por uma menina. Quando voltei pra casa, minha mãe faleceu. Eu fiquei sozinho por lá e resolvi voltar para Barra do Garça para encontrar a menina e ela estava noiva de outro. Aí eu comecei a trabalhar para o Sr. Antônio Paulo da Costa, eu tomava conta de um bilhar que ele tinha na cidade. Alguns anos mais tarde, em 1945, ele foi eleito prefeito e eu passei a trabalhar como seu secretário. Cinco anos depois, me candidatei a vereador e fui eleito pela primeira vez.

Grupo – Foi nesta época que a Fundação Brasil Central começou suas atividades por aqui. Como foi recebida a iniciativa?

Valdon Varjão – Muito bem! A Fundação Brasil Central trazia incentivo, dinheiro e muitos empreendimentos para nós. A região região teria crescido ainda mais se o ideal original do presidente Getúlio Vargas e do Ministro João Alberto não tivesse sido desvirtuado. Eu adoro o Orlando e sempre fui amigo dele, troco correspondências com ele até hoje. Mas eu acho que os irmãos Villas Bôas desvirtuaram a intenção original que era colonizar toda essa região construindo estradas e novas cidades. A idéia não era catequizar índio e nem fazer Parque Indígena. O suicídio do Getúlio foi a derrota para nossa região. Quando Juscelino Kubitscheck assumiu isso já tava tudo feito. Brasília foi construída sob influência do trabalho da Fundação Brasil Central.

Gurpo – Como o Sr. se tornou senador da República?

Valdon Varjão – Eu fui convidado pelo Gastão Matos Müller, que era muito meu amigo, para ser seu suplente no Senado. Eu falei para ele que não queria, porque suplente não aparece, ninguém ouve falar de suplente. Então ele falou que, se fosse eleito, me deixaria assumir o cargo por dois anos. O Gastão se licensiou e então me tornei senador em 83 até 85. Cheguei a ser Quarto Secretário da Mesa.

Grupo – Por que o Sr. construiu o Discoporto?

Valdon Varjão – Eu nem gosto muito de falar sobre esse assunto… Na verdade, eu queria chamar a atenção para Barra do Garças. Quando eu fui no programa do Jô Soares para falar do Discoporto, ele me perguntou se eu acreditava em disco voadores. Eu repondi que sim. Aí ele me perguntou se eu já tinha visto um para acreditar. Então eu perguntei para ele: "Você acredita em Deus?". Ele me respondeu que sim. Aí perguntei: "Se ele já tinha visto Deus". (Risos)

Grupo – Qual a sua visão para o futuro da região?

Valdon Varjão – Sou pessimista. O Governo não tem nenhum projeto para a região. Não que o governo tenha que fazer tudo, mas ficamos viciados no apoio estatal. Os gaúchos, por exemplo, tem mentlidade diferente e costumam fazer as coisas por conta própria. Cidades que eles fundaram, como Primavera (MT), estão com uma economia ótima. Para nós falta, primeiro, uma boa injeção de ânimo e recursos. Falta também esforço político, nossa bancada é fraca no número de representantes e em pessoas de boa cultura.

Cidades Irmãs

Localizadas na confluência do Rio das Garças com o Araguaia, que delimita a fronteira dos estados de Mato Grosso e Goiás, as cidades de Barra do Garças(MT), e Aragarças (GO) são como irmãs. Econômica, social e politicamente ligadas, compartilham de um mesmo passado histórico.

m0205.jpgOs primeiros povoados da região começaram a surgir devido à navegação do Rio Araguaia, estimulada pelo presidente da Província, Couto de Magalhães, durante a guerra do Paraguai. Nesta época, os militares percorriam as margens do rio fazendo acampamentos ao longo do caminho. Na foz do Rio das Garças, um desses locais, foi instalado um marco: uma pedra denominada Barra Cuiabana.

Monumento aos garimpeiros, primeiros colonizadores da região, localizado na praça na central de Barra do Garças. Foto: Fábio Pili

Este marco ficou conhecido pela inscrição “S.S. Arraya – 1871”. Segundo a lenda, o soldado Simão da Silva Arraya enterrou uma garrafa contendo diamante nas proximidades da pedra. Outros acreditavam que os dizeres não significavam nada, seria apenas uma marcação do caminho percorrido pela tropa.

Em 1897, Antônio Cândido de Carvalho encontrou diamantes no Rio das Garças, aumentando rapidamente a população local e fundando a corruptela garimpeira de Barra Cuiabana. Neste período a economia regional dividia-se entre o garimpo e a extração de látex da mangabeira, árvore típica do cerrado.

Dez anos depois, em 1943, os municípios de Barra Cuiabana e Barra Goiana foram escolhidos como base de partida para a Expedição Roncador-Xingu. Rebatizados respectivamente como Barra do Garças e Aragarças, as cidades tornaram-se as principais sedes dos escritórios da Fundação Brasil Central.

Com o sopro de desenvolvimento trazido pela Marcha para o Oeste, as cidades cresceram e hoje somam 80 mil habitantes. A economia dos municípios se concentra basicamente na pecuária de corte, mas o setor de turismo está em franco crescimento. Para se ter uma idéia, as praias dos dois municípios atraem no mês de julho cerca de 10 mil turistas, vindos principalmente da região Centro Oeste.