Em Tapajós, comunidades farão manejo madeireiro em grande escala

Ela será a primeira floresta nacional (Flona) do país onde as populações residentes farão manejo madeireiro em grande escala. Em Santarém (Pará), as comunidades da Flona Tapajós devem iniciar o trabalho em outubro. A iniciativa ocorrerá por meio do projeto Ambé, apoiado pelo PróManejo/Ibama.

"O manejo acontecerá em uma área não-populacional de até 200 mil hectares [a área total da Flona é de 551.498 mil hectares]", contou Viviane Gonçalves, coordenadora das ações do PróManejo na Flona Tapajós. Essa iniciativa vai acontecer por meio do projeto Ambé, apoiado pelo PróManejo/Ibama.

As associações e cooperativas locais executarão a atividade em caráter piloto – na Flona existem quatro associações intercomunitárias, nove associações comunitárias e uma cooperativa. "O dinheiro da venda da madeira vai para elas e para os fundos gerais que elas mesmas criaram", explicou Gonçalves.

O PróManejo é um subprograma do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras (PPG7), criado a partir da Eco-92 e mantido com verba da cooperação internacional, majoritariamente alemã, e sob a coordenação-geral do Ministério do Meio Ambiente.

As ações do PróManejo na Flona Tapajós se iniciaram oficialmente em 1999. Hoje, estão envolvidas 400 das 1.100 famílias residentes na unidade de conservação. "O que nós temos desenvolvido são iniciativas de manejo madeireiro e não-madeireiro em pequena escala. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos moradores e também gerar referências para outras Flonas da Amazônia", pontuou a coordenadora.

Entre essas atividades, está a produção de óleos essenciais (de copaíba e andiroba), destinada para a indústria de cosméticos do Rio de Janeiro; itens feitos com o chamado couro ecológico produzido a partir da seringa, vendidos para o mercado nacional e para turistas locais; e a confecção de móveis rústicos a partir de madeiras caídas, que é comercializada principalmente na região Sudeste.

"O projeto de financiamento dessas três atividades termina no ano que vem, mas acredito que elas já conquistaram a autonomia", comentou Gonçalves.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) afirma que está estudando uma série de 15 indicadores para avaliar o manejo das florestas. "Esse indicadores foram criados no âmbito do Tratado de Cooperação Amazônica. Até o final do ano, teremos os indicadores validados", contou o diretor de Florestas do MMA, Tasso Azevedo. "Um dos indicadores interessantes é o numero de projetos de manejo florestal certificados segundo padrões sociais, ambientais e econômicos, reconhecidos internacionalmente."

Professores ticuna conquistam ensino superior indígena no Alto Solimões

Manaus – A Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües (OGPTB) inicia em novembro, em parceria com a Universidade do Amazonas (UEA), um curso de Licenciatura Plena que atenderá 250 professores indígenas da mesorregião do Alto Solimões (230 ticuna e 20 das etnias cocama, cambeba e caixana).

Serão oferecidos três habilitações: Estudo de Linguagem, que englobará o português, a língua indígena, espanhol, literatura, artes e educação física; Ciências da Natureza e Matemática – biologia, física, química e matemática – e Ciências Humanas – história, geografia, antropologia, sociologia e filosofia.

"Assim, nossos professores poderão assumir o ensino fundamental completo. Hoje eles cuidam apenas da 1ª a 4ª séries e da língua ticuna. Quem está trabalhando em escolas indígenas são os professores não-índios", contou Constantino Ramos Lopes, coordenador da OGPTB, em entrevista ao programa Ponto de Encontro, da Rádio Nacional Amazônia.

A entidade foi criada em 1986 e hoje reúne 504 professores. Segundo dados da própria OGPTB, existem no país cerca de 50 mil indígenas ticuna, concentrados às margens do Solimões e seus afluentes. Em 1993, a organização começou a oferecer cursos de formação aos professores indígenas que atuavam no Alto Solimões e haviam estudado apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental.

"Oferecemos um curso de magistério, equivalente ao ensino médio. Quando começamos, o curso não tinha validade. Só em 2000 foi reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação. O recurso não vinha do governo brasileiro, mas de organizações não-governamentais da Holanda, da Noruega", revelou o coordenador da OGPTB.

"Nossa sede, em Benjamin Constant, virou um grande centro de formação. O caminho para melhorar a educação é qualificar e valorizar o professor", disse. Em 2002, o curso foi encerrado, porque a demanda já estava suprida: 481 indígenas, dos quais 448 ticuna, tinham concluído o ensino médio. Esse bom resultado se refletiu no aumento do número de alunos ticuna na região, que passou de 7.458, em 1998, para 14.359 estudantes, no ano passado.

A OGPTB está concluindo neste ano o projeto Educação Ambiental e Uso Sustentável da Várzea em Áreas Indígenas Ticuna do Alto Solimões, iniciado em agosto de 2002. A iniciativa recebeu financiamento de R$ 500 mil do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama), subprograma do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente.

O objetivo do projeto é promover o uso racional dos recursos naturais da várzea em áreas indígenas do Alto Solimões, por meio de um programa de educação ambiental implementado nas escolas indígenas e não-indígenas. A verba financiou diversos cursos e palestras, além de oficinas de informática e de produção de material didático.

Doze cartazes com temas ecológicos, desenhados pelos próprios alunos e professores ticuna e escritos em língua indígena estão sendo lançados e distribuídos nas comunidades. Além disso, já está em etapa de edição um livro de educação ambiental elaborado com base no conhecimento tradicional ticuna, a partir de entrevistas com os indígenas mais idosos.

Ibama não confirma denúncia do Incra de construção de hidrelétrica na Amazônia

Manaus – O chefe de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas, Adilson Cordeiro, afirmou que os fiscais da Operação Uiraçu não encontraram obras para a construção de uma usina hidrelétrica no Rio Ituxi, em Lábrea.

"A gente já havia estado na região, há um mês, e não ouvimos rumores da construção. Com a denúncia do Incra, voltamos ao sul de Lábrea na semana passada e fomos o local indicado, mas não encontramos qualquer irregularidade", disse Cordeiro.

A Uiraçu, coordenada pelo Ibama, começou há 60 dias, com o objetivo de combater o desmatamento no sul do estado. Os 56 agentes participantes percorrerão até novembro 12 municípios do sul estado: Lábrea, Guajará, Ipixuna, Eirunepé, Envira, Pauini, Boca do Acre, Canutama, Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã e Apuí.

No último dia 15, a Agência Brasil publicou a denúncia do superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), João Pedro Gonçalves da Costa, de que uma usina hidrelétrica estava sendo construída no local. Técnicos do Incra, durante uma entrevista coletiva, apresentaram fotos da área, que mostravam a movimentação de grandes caminhões. Na ocasião, relataram que um engenheiro que trabalhava para o grupo Cassol disse que planejava dinamitar as três cachoeiras do rio Ituxi.

A reportagem ouviu também Carlos Henrique Alves, dono da fazenda onde se localizam as cachoeiras e o assessor político do governador de Rondônia, Ivo Cassol, um dos proprietários do Grupo Cassol. Ele afirmou que o grupo Cassol estava apenas fazendo estudos para a construção de uma hidrelétrica.

No último dia 18, a Agência Brasil apurou que o Grupo Cassol não possui autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para realizar o inventário hidrelétrico do rio Ituxi. No mesmo dia, foi publicada também uma entrevista com o próprio Cassol, na qual ele justificava que os estudos ainda estavam em fase preliminar e chamava o superintendente do Incra de mentiroso.

João Pedro Gonçalves da Costa sustenta a denúncia. "Eu quebro meu sigilo telefônico se for preciso para mostrar que o próprio governador de Rondônia me ligou dizendo que pretendia construir a hidrelétrica e que os estudos estavam em fase preliminar. Nós não inventamos nada, eu estive lá. Foram os trabalhadores do local que disseram que estavam fazendo levantamentos topográficos. Eles mudaram o curso do ramal para isso. Ninguém muda uma estada só para fazer estudos", afirmou o superintendente.

Estudo revela que peixes amazônicos fazem maior migração em água doce no mundo

Parintins (AM) – A piramutaba e a dourada realizam a maior viagem conhecida de um peixe de água doce no mundo: para desovar, a partir dos três anos de idade, as fêmeas saem da foz do rio Amazonas, no litoral paraense, e nadam 5.500 quilômetros até a cidade de Iquitos, no Peru. A viagem demora até seis meses, mas as larvas desovadas percorrem o caminho de volta em no máximo 20 dias, carregadas pela correnteza. Os dados são do estudo "Grande Bagres Migradores", realizado pelo Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama).

"A piramutaba e a dourada são o carro-chefe da economia pesqueira da região, mas o ribeirinho não conhece todo seu ciclo de vida, por causa da longa migração", informou Maria Clara Forsberg, acrescentando que o resultado do estudo será divulgado nas comunidades ribeirinhas, por meio da distribuição de cartilhas e da realização de seminários.

De cada 100 peixes de couro (liso, sem escama) capturados na calha do rio Amazonas/Solimões, 70 são piramutabas ou douradas – cerca de 30 mil toneladas dessas duas espécies são comercializadas por ano na região. "Esse número cresceu a partir da década de 70, com a migração de sulistas para cá, porque havia um tabu quanto ao consumo de peixes lisos na Amazônia. Ainda existem algumas comunidades ribeirinhas que acreditam que eles são remosos, isto é, indigestos, que podem provocar problemas de pele, fazer mal à saúde", explicou Maria Clara.

Ela acrescentou ainda que, apesar do grande deslocamento da piramutaba e da dourada, os acordos de pesca local funcionam também para essas duas espécies. "Na época da seca eles ficam represados em algumas regiões", esclareceu.

O estudo do PróVárzea financiou a revisão da instrução normativa publicada em junho de 2004, válida por dois anos, e que regula a pesca da piramutaba no estuário do rio Amazonas. "Ela determina o número de barcos que podem pescar, o tamanho da malha que os pescadores podem usar e em qual período podem trabalhar. É importante também porque possibilita que nos dois meses e meio de defeso, quando a pesca é proibida, eles recebam seguro-desemprego", ressaltou.

Maria Clara Forsberg está em Parintins coordenando o seminário Políticas Públicas para a Calha do Solimões/Amazonas, promovido pelo PróVárzea, um subprograma do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado com verba da cooperação internacional.

Governador de Rondônia contesta denúncia do Incra sobre construção não autorizada de hidrelétrica

Manaus – O governador de Rondônia, Ivo Cassol, afirma que é "mentira grossa" a informação apresentada na sexta-feira (dia 15) pelo superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Amazonas, João Pedro Gonçalves da Costa, de que uma usina hidrelétrica estaria sendo construída sem autorização no rio Ituxi, no sul de Lábrea (AM). A área pertence a Carlos Henrique Alves, assessor político do governador. Ainda na sexta-feira, Alves afirmou que o Grupo Cassol estaria apenas realizando estudos para um inventário hidrelétrico da área. O grupo pertence à família de Ivo Cassol. "Estou falando como empresário, não como governador", ressaltou.

Segundo Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para realizar levantamentos de campo sobre o potencial hidrelétrico de bacias hidrográficas é preciso fazer um registro prévio, o que não foi cumprido pelo Grupo Cassol. A Aneel informou ainda que em 2003 aprovou um estudo realizado pela Concremat Engenharia e Tecnologia, com sede no Rio de Janeiro, feito sob sua encomenda, que mensurou em 95,7 megawatts de energia elétrica o potencial de geração das duas cachoeiras do rio Ituxi. "O inventário anterior superdimensionou o potencial hidrelétrico da bacia porque foi feito na época das cheias. Nossos estudos preliminares mostram que ele não chega a 25 megawatts", afirmou o governador.

Ele disse ainda que o grupo não cumpriu a determinação de registrar o levantamento de campo na Aneel, porque ainda está em fase de "estudos preliminares". "Estamos medindo a vazão da água, verificando a topografia. Talvez nem compense entrar com um processo na Aneel, para fazer o estudo", justificou. Segundo ele, a usina hidrelétrica do rio Ituxi abasteceria principalmente o Acre, estado vizinho à fronteira entre o Amazonas e Rondônia.

O Grupo Cassol está construindo a sexta usina hidrelétrica de pequeno porte em Rondônia, em Espigão d´Oeste. Ela deverá ser concluída no final de 2006 e vai gerar 18 megawatts de energia elétrica.

Grupo Cassol não possui autorização da Aneel para estudos no Rio Ituxi, no Amazonas

Manaus – O grupo Cassol não possui autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para realizar os estudos do inventário hidrelétrico do Rio Ituxi, em Lábrea, no sul do Amazonas, informa Gladstone Alvim, administrador da Superintendência de Gestão e Estudos Hidroenergéticos da Aneel. Em dezembro de 2003, a Aneel aprovou os estudos realizados na área pela empresa Concremat Engenharia e Tecnologia, com sede no Rio de Janeiro, contratada pela própria agência reguladora.

"O grupo Cassol está fazendo um novo levantamento porque o estudo da Aneel apontava uma área de alagamento muito grande e a intenção é diminuir os impactos ambientais. Eles depois protocolarão os resultados na Aneel", declarou Carlos Henrique Alves, assessor político do governador de Rondônia, Ivo Cassol, e proprietário da fazenda onde se localizam as duas cachoeiras do rio Ituxi que foram objeto do inventário. O Grupo Cassol pertence à família do governador e construiu cinco usinas hidrelétricas de pequeno porte em Rondônia.

Segundo a resolução nº 393 da Aneel, de 7 de dezembro de 1998, para se fazer levantamento de campo a fim de definir o potencial hidrelétrico de uma bacia hidrográfica é necessário registro prévio na Aneel. Na sexta-feira (15), o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Amazonas, João Pedro Gonçalves da Costa, denunciou a existência de obras para a construção de uma usina hidrelétrica no local.

Os técnicos do Incra que estiveram na área mostraram fotos e gravações nas quais aparecem caminhões pesados, aparentemente novos. "Os caminhões estão trabalhando para um consórcio de vários fazendeiros locais na recuperação da Estrada do Boi", justificou Alves.

A obra foi identificada durante operação de 35 dias realizada pelo Incra na região, iniciada no começo de junho, em parceria com a Polícia Federal (PF), o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e a Delegacia Regional do Trabalho (DRT). A técnica do Incra Heloísa Reis afirma que um engenheiro – que se identificou como funcionário do grupo Cassol – relatou que a usina hidrelétrica geraria 100 megawatt de energia elétrica, cinco vezes a quantidade consumida pelo maior município do interior do Amazonas (Itacoatiara, com 78,5 mil habitantes). Ele teria ainda afirmado que em pouco tempo as cachoeiras seriam dinamitadas.Os estudos aprovados em 2003 apontam que as cachoeiras Fortaleza e do Meio, no rio Ituxi, possuem juntas potencial para gerar 95,7 megawatts de energia elétrica.

Tanto o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) quanto o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) foram oficialmente comunicados pelo Incra da denúncia e declararam que em breve enviarão fiscais à área.

Incra denuncia construção não autorizada de hidrelétrica na Amazônia

Manaus – O superintendente regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Amazonas, João Pedro Gonçalves da Costa, denunciou a existência de obras para a construção de uma usina hidrelétrica no rio Ituxi, ao sul de Lábrea, cidade próxima à fronteira com Rondônia. "A área onde as obras estão é particular, mas o entorno são áreas federais, e o Incra não tinha conhecimento deste empreendimento. Estamos mandando ofício ao governo do estado, à prefeitura de Lábrea e ao Ibama, para saber se eles tinham ciência do fato", declarou.

A obra foi identificada durante operação de 35 dias realizada pelo Incra na região, iniciada no começo de junho, em parceria com a Polícia Federal (PF), o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e a Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Na operação, 15 fiscais percorreram uma área de 8 mil quilômetros, a partir de quatro ramais paralelos que saíam da rodovia BR-364. Um deles, o chamado Ramal do Boi, é uma estrada clandestina, de 120 quilômetros de extensão, que tem no seu final três cachoeiras.

"A gente viu caminhões grandes, novos, trabalhando na terraplanagem da área. Conversei com um engenheiro que se identificou como sendo do Grupo Cassol. Ele disse que construiriam uma hidrelétrica com capacidade para gerar 100 megawatts de energia e que nos próximos dias iriam dinamitar as cachoeiras", contou Heloísa Reis, técnica de cartografia do Incra.

O superintendente informou ainda que, ao lado das obras, há uma pista de pouso com cerca de 800 metros de comprimento.

O Grupo Cassol pertence à família do governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), e iniciou suas atividades no estado em 1977, nos setores madeireiro e agropecuário. Atualmente, dedica-se ao setor de geração e comercialização de energia elétrica. "O governador, antes de ser político, era empresário. O grupo já tem cinco pequenas hidrelétricas. Eu comprei, com dois amigos, 3 mil hectares de terra no Rio Ituxi e tenho autorização do Ministério das Minas e Energia para fazer o inventário hidrelétrico da área. E é isso que o Grupo Cassol está fazendo: apenas um estudo de viabilidade", afirmou Carlos Henrique Alves, conhecido como Lingüiça, servidor efetivo do governo de Rondônia e atualmente ocupando o cargo de assessor para assuntos políticos do governador.

"Uma geração de 100 megawatts de energia é muito grande para o nosso estado. Itacoatiara, que é o maior municipio do interior [tem 78,4 mil habitantes], não tem demanda para 20 megawatts", explicou Raimundo Nonato Duarte, engenheiro da Diretoria Técnica da Companhia Energética do Amazonas (Ceam).

O chefe da fiscalização do Ibama no Amazonas, Adilson Cordeiro, informou que em 15 dias fiscais da Operação Uiraçu, que atua no combate ao desmatamento ilegal no sul do estado, chegarão ao sul de Lábrea. "A gente tem denúncias de irregularidades na área, mas nada sobre a hidrelétrica", declarou. Dados do Sipam acusam que Lábrea é o município mais desmatado do estado, com uma área de quase 2.300 quilômetros quadrados de desmatamento – entre 2003 e 2004, a área teve aumento de 18,6% (355 quilômetros quadrados).

O prefeito de Lábrea, Gean Campos Barros (PSL), declarou não saber da existência da construção da hidrelétrica. A mesma afirmação foi feita pelo diretor de comunicação da Agência de Comunicação (Agecom) do governo do Amazonas, Warnoldo Freitas. "Na segunda-feira [18]uma equipe do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) irá até o local verificar a denúncia", garantiu.

Polícia Federal assume fiscalização das áreas ocupadas pelos índios cinta larga

A Superintendência da Polícia Federal em Rondônia está assumindo nesta semana as sete barreiras de fiscalização do complexo de 2,7 milhões de hectares do qual fazem parte quatro áreas onde vivem cerca de 1.400 índios cinta larga (terras indígenas Roosevelt, Aripuanã e Serra Morena e parque indígena Aripuanã).

"O aumento do efetivo já está garantido, precisamos apenas fazer o levantamento dos equipamentos que nos serão passados pelo Funai, para programarmos nossa atuação na área", disse o delegado da Polícia Federal, Mauro Sposito, coordenador da Operação Roosevelt.

No dia 2 de junho, Sposito informou à Agência Brasil que havia apenas 31 agentes da Polícia Federal e da Polícia Militar fazendo o controle do garimpo ilegal na região, quando o número necessário era de pelo menos 68 agentes. Neste momento, segundo o delegado, há 72 policiais fiscalizando a área, 20 deles da Polícia Militar e 52 da Polícia Federal.

Em abril do ano passado, 29 garimpeiros foram assassinados na terra indígena Roosevelt, em conflito com os índios cinta larga. A Operação Roosevelt foi criada por decreto presidencial assinado em 17 de setembro de 2004 envolve a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Militar e a Fundação Nacional do Índio (Funai).

Primeiro soro antiofídico em pó brasileiro começa a ser testado em seres humanos

Manaus – O índio waimiri-atroari que recebeu soro antiofídico liofilizado (em pó) produzido no Brasil deve fazer hoje a consulta de retorno à Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT), nesta capital. Foi, até o momento, a única aplicação realizada, como parte do ensaio clínico necessário à aprovação do soro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

"Vamos aplicar o soro liofilizado em 40 pacientes e o soro líquido em outros 40, comparar os resultados e produzir um relatório que será enviado à Anvisa", explicou o capitão Iran Mendonça da Silva, médico infectologista do Instituto de Biologia do Exército, localizado no Rio de Janeiro. A estimativa é que em dois anos o uso do produto esteja liberado para que o Ministério da Saúde o forneça a regiões de difícil acesso.

Segundo Iran Mendonça, o soro em pó foi desenvolvido pelo Instituto Butantan, em São Paulo, especialmente para a Amazônia. "Em 2000, começamos [o Instituto de Biologia do Exército e o Instituto Butantan] a desenvolver um soro líquido trivalente, que neutralizasse o efeito dos venenos da jararaca, da surucucu e da cascavel. A partir daí decidimos também produzir esse mesmo soro na versão liofilizada, pensando nos postos de saúde isolados no meio da mata", explicou.

Luiz Losano, infectologista responsável pela Gerência de Animais Peçonhentos da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, explicou que as principais vantagens do soro em pó são o maior tempo médio de vida (oito anos, contra quatro do soro líquido) e a facilidade de transporte e conservação (pode ser guardado a temperatura ambiente, enquanto o soro líquido precisa de refrigeração). "Mas é bom lembrar que ele, assim como o soro líquido, só pode ser aplicado na presença de pessoal especializado, porque pode causar uma reação alérgica tão ou mais grave que o veneno", alertou.

"É um soro antiofídico produzido da mesma forma que o outro, a partir do plasma do cavalo, e aplicado também na veia do paciente. Para usá-lo, basta dissolver em soro glicosado e água destilada", acrescentou Iran Mendonça.

De acordo com o médico infetcologista Antônio Magela, que atendeu o índio waimiri-atroari, o paciente (cujo nome não foi revelado) fora picado havia dez horas por uma jararaca, responsável por cerca de 91% dos ataques de serpente na Amazônia. O acidente aconteceu no último dia 23, a 250 quilômetros de Manaus, na divisa entre o Amazonas e Roraima. "A princípio, a eficácia do soro foi a melhor possível, neutralizando a tempo o veneno", disse.

Em São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte do Amazonas, o chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), Hernane Guimarães dos Santos, contou que desde 2000 eles utilizam soro antiofídico em pó, produzido e comprado na Colômbia. O DSEI São Gabriel da Cachoeira é responsável pelo atendimento básico de saúde de 23 mil indígenas que vivem em 554 aldeias do município.

"O soro liofilizado permite fazer atendimentos mais rápidos no meio da mata. Quando começamos a utilizá-lo, evitamos mortes e amputações", ressaltou Santos. Segundo ele, em 2000, as picadas de cobra mataram oito indígenas em São Gabriel da Cachoeira – em 2002, o número caiu para uma morte; em 2003, nenhuma, e, no ano passado, novamente uma. "Este ano, porém, já foram cinco óbitos, porque estamos sem dinheiro para comprar o soro", disse ele.

Sipam indica que alta tecnologia é usada para desmatar sul do Amazonas

Os responsáveis pelo desmatamento no sul do Amazonas estão utilizando tecnologia avançada para destruir a floresta. "É visível nos nossos levantamentos que o pessoal que está grilando terra dispõe de equipamentos sofisticados. Não se pode abrir na floresta uma clareira com formato perfeito de um retângulo cujos lados medem 30 e 20 quilômetros sem usar sensoriamento remoto", afirma Samuel Wainer Cavalcante e Silva, chefe da Divisão de Análise Ambiental do Centro Técnico Operacional de Manaus (CTO-Manaus) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam). O órgão divulgou hoje (1) pesquisa inédita sobre o desmatamento em 12 municípios da região.

Outra evidência apontada por ele é a existência de grandes áreas desmatadas em locais distantes dos eixos rodoviários. "A fronteira agropecuária não se movimenta mais de forma linear. E isso só acontece graças ao avanço da tecnologia", diz.

O estudo realizado pelo Sipam indica que, em 2004, houve um aumento médio de quase 16% na área desmatada no sul do Amazonas, que saltou de 6.926 para 8.238 quilômetros quadrados.

A pesquisa utilizou: imagens do satélite Landsat 5, que têm resolução de 30 metros, tiradas em 2001, 2003 e 2004; imagens de 2004 do satélite CCD/CBRS, com resolução de 20 metros; imagens captadas também no ano passado por um sensor SAR, com resolução de seis metros, instalado em uma aeronave.