Educação escolar indígena tem nova secretaria no MEC

Funai – Os assuntos relacionados à discussão das políticas de educação escolar indígena, anteriormente tratados na Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena, ligada à Secretaria de Ensino Fundamental, passarão a ser tratados pela mesma Coordenação, mas de forma mais ampliada, no âmbito da Diretoria de Educação para a Cidadania e Diversidade.

A expectativa da coordenadora geral de Educação da Funai, Maria Helena Fialho, é que esse setor dê maior visibilidade e a devida importância à educação escolar indígena, fortalecendo-a e garantindo a participação indígena em todo o processo. “Para a comunidade, essa instância no MEC é relevante, já que tratará de todas as questões nos mais diversos níveis de ensino – fundamental, médio e de articulação com o superior”, ressalta.

Conforme Maria Helena, a Funai teve participação fundamental nas discussões referentes à criação dessa nova instância, além de articular a presença de demais segmentos, como organizações não-governamentais e o Conselho Nacional de Educação. “A Funai será ouvida sobre os encaminhamentos com relação à educação escolar indígena. É uma parceria muito positiva”, observa.

Uma série de sugestões da Fundação serão encaminhadas à Coordenação. Entre elas, destacam-se a reformulação da Comissão Nacional de Professores Indígenas (CNPI), para que incorpore outros segmentos e o fortalecimento da parceria da Funai com o MEC, com a instituição de um comitê de gestão conjunta. Esse comitê vai tratar das questões referentes à formação de professores indígenas, produção de material didático específico e controle social.

ESTUDANTES INDÍGENAS (Fonte: Censo Escolar 2003 – MEC/INEP)

Ensino fundamental (1ª à 4ª série) 95.521
Ensino fundamental (5ª à 8ª série) 21.370
Ensino médio 4.502
Educação de jovens e adultos 10.964
Ensino superior 1.250

Portaria garante posse de Terra Indígena aos Tikuna

Funai – A Funai propôs, e o Ministro da Justiça aprovou, a proposta de identificação da Terra Indígena Maraitá. A Portaria Declaratória que garante a posse permanente da terra aos índios Tikuna foi assinada dia 25. Desde o dia 26, com a publicação da Portaria no Diário Oficial da União, os Tikuna, detêm a posse e o usufruto exclusivo de uma área com aproximadamente 54 mil hectares, localizada em Amaturá (AM).

Os Tikuna constituem-se no grupo étnico de maior expressão populacional do território nacional. Estima-se que a população atual seja de cerca de 26 mil indivíduos, sem considerar os que vivem em território colombiano e peruano. O etnólogo alemão, Kurt Nimuendaju, autor do primeiro estudo sistemático sobre essa etnia, identificou o seu território, espalhado por uma vasta área da Amazônia, que incluía desde o alto Solimões até o município de Berure, próximo a Manaus.

Localizados em uma região que lhes permite explorar áreas de várzeas e terra firme, os Tikuna produzem vários produtos, não apenas para consumo, mas para a venda nos mercados regionais, especialmente em Amaturá. A riqueza da ictiofauna do local torna a pesca a principal atividade dos habitantes. O pescado não consumido é vendido em Amaturá e nos frigoríficos flutuantes, nas comunidades próximas.

A principal característica da Terra Indígena Maraitá é que toda a sua extensão é inundável, inclusive onde se localizam as casas. A vegetação é típica de várzea, determinando uma grande riqueza da ictiofauna. O local é um lar de reprodução e de alimentação de peixes e fauna associada.

Coquinho: o Posto Indígena que deu certo

Funai – Os índios Guajajara do Posto Indígena Coquinhos, na Terra Indígena Canabrava/Guajajara (MA), estão destruindo a velha imagem de que todo índio é preguiçoso. E mais, eles estão servindo de exemplo para outros índios do Estado, em função do sucesso de suas lavouras, que já deixaram de ser as conhecidas roças de subsistência; tornaram-se grandes produtores de arroz na região. Na última safra foram colhidas cerca de 14.600 sacas. De acordo com o chefe de posto, nunca houve, em nenhuma terra indígena do Maranhão, safra como essa. E tudo isso só está sendo possível graças às iniciativas do Chefe do Posto, Telmiston Pereira, com o total apoio da Administradora da Funai em São Luís, Elenice Viana. “Ela tem sido grande colaboradora dos índios, e o que é melhor, sem discriminar as várias comunidades do Estado”, afirma Telmiston. De acordo com ele, muito se pode fazer quando se tem esse apoio.

Mas nem só de arroz vivem os Guajajara do Pin Coquinhos; estão plantando, também, milho, feijão e mandioca. As roças são mecanizáveis, o que torna mais fácil e produtivo o trabalho. Para que isso acontecesse, a Administradora da Funai fez gestões junto ao Governo do Estado, conseguindo a doação de tratores, plantadeiras e, ainda, a doação de sementes de milho e feijão.

As conquistas do Pin Coquinho são sinais de que outras obras com resultados positivos para a comunidade estão a caminho. Sempre contando com a participação da Administração da Funai, já foi feita a eletrificação do Posto, construída uma escola de ensino fundamental e poços artesianos. A falta de água era um dos problemas enfrentados pela comunidade Guajajara do Posto. Essas conquistas ainda não são suficientes, diz Telmiston. Agora a comunidade está pleiteando a construção de moradias e a implantação de um projeto de piscicultura. O projeto de moradias será entregue, no próximo dia 10 de abril, no Programa de Combate à Pobreza Rural – PCPR. Os Guajajara estão otimistas quanto às moradias, pois já houve uma sinalização positiva do Governo do Estado.

Alternativas de combustíveis serão necessárias no futuro

Ambiente Brasil – A exploração de combustíveis fósseis, como o óleo e o carvão, é importante porque eles funcionam como fontes de energia. No entanto, a exploração contínua provoca o esgotamento desses recursos, sendo necessárias, dessa forma, fontes alternativas de combustíveis. Uma delas é o hidrato de gás ou clatrato, que é um composto cristalino que encapsula moléculas de gás como o metano e o dióxido de carbono. Nesse sentido, Michael Clennell, da Universidade Federal da Bahia, resolveu analisar a viabilidade da exploração desse composto, bem como os fatores positivos e negativos de sua exploração.

Segundo o pesquisador, em artigo publicado na Revista Brasileira de Geofísica (vol.18, no.3), “os clatratos são abundantes nas margens continentais do mundo, formando um reservatório gigantesco, potencialmente móvel e que está integrado no ciclo do carbono”. Como na maioria das vezes o composto contém moléculas de metano, Michael explica que, convertida em energia, a quantidade total de metano existente em todo o mundo equivaleria a duas vezes o total de recursos fósseis já descobertos, sendo uma possibilidade para a exploração no futuro.

O pesquisador esclarece, também, que as condições necessárias para que os hidratos sejam produzidos em grandes quantidades são raras longe dos continentes, por isso, sua ausência em oceanos abertos. Segundo ele, “vários trechos da margem continental brasileira atingem os critérios fundamentais para a presença de hidratos de gás”. No entanto, algumas das maiores jazidas de clatratos de metano têm sido encontradas em margens ativas da América Central, Cascadia, e no Japão.

Em relação aos principais fatores a favor do uso dos hidratos de gás como fonte de energia, Michael cita três: o vasto volume de hidratos submarinhos, que apesar de estarem distribuídos de forma dispersa, existem em concentrações grandes o suficiente em alguns lugares que justificam a exploração econômica; o crescimento do mercado para o metano (gás natural), que além de ser muito menos poluidor que o óleo e o carvão (por não conter enxofre), libera menos dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera e pode ser convertido em combustível líquido (metanol) ou hidrogênio com uso de catalisadores; e a presença de hidratos em águas territoriais de países como o Japão e a Índia, que por possuírem poucos combustíveis fósseis convencionais, garantiriam uma fonte nacional de combustível.

No entanto há algumas desvantagens em se explorar o composto: as reservas de óleo e gás ainda são abundantes e relativamente baratas para a exploração; a tendência atual no mercado energético mundial está distante das práticas do uso de combustíveis baseados em carbono, cuja combustão inevitavelmente leva à liberação de CO2; a maioria das acumulações de hidratos de gás existe de forma dispersa, em sedimentos finos e de permeabilidade baixa, dificultando a exploração comercial; e é necessário gastar energia para derreter o hidrato congelado e liberar o gás. Além disso, o pesquisador alerta que a exploração do gás, se feita erroneamente, poderia contribuir para o efeito estufa, chegando até a provocar mudanças climáticas.

Dessa forma, Michael afirma que são necessárias mais pesquisas que identifiquem e quantifiquem as zonas que contém elevadas concentrações de hidratos de gás e estudos que desenvolvam tecnologias para a perfuração e produção para fazer uso dessas fontes de combustível. Entretanto, segundo ele o uso de metano em usinas termoelétricas convencionais e nas formas mais limpas (convertidas em hidrogênio e metanol) constituirá uma parte importante no fornecimento de energia no futuro para vários países. “Considerando a falta de tecnologia disponível e os dados limitados sobre a distribuição dos hidratos de gás no Brasil, ainda é cedo para ser assertivo sobre o futuro desse recurso no país”, ressalta.

STF rejeita demarcação das terras indígenas no Rio Negro

A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal – STF negou provimento, dia 23 de março, ao recurso do Estado do Amazonas contra a demarcação das Terras Indígenas Médio Rio Negro, Rio Téa e Rio Apapóris. O ministro Gilmar Mendes, relator do acórdão, entendeu que o mandado de segurança não se presta a discutir a dominialidade das terras indígenas questionadas. A demarcação das terras indígenas da região do Rio Negro foi consolidada e concluída, em processo inédito de demarcação participativa feita pelos próprios indígenas, em 1998. O mandado de segurança impetrado pelo Estado do Amazonas data de 1994, época em que a portaria de declaração dos limites das referidas terras foi publicada no Diário Oficial.

Em abril de 2003, quase dez anos após o ajuizamento da ação, o Estado do Amazonas voltou a centrar esforços para detonar a demarcação das terras indígenas, solicitando a realização de sustentação oral no STF para defender sua posição. Em face da ameaça de retrocesso no reconhecimento dos direitos territoriais dos povos do Rio Negro, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – Foirn – enviou imediatamente carta ao governador Eduardo Braga solicitando a desistência do recurso. A Foirn havia sido surpreendida pelo fato de o governo daquele estado questionar as demarcações, ao mesmo tempo em que vinha trabalhando em diversas iniciativas de parceria com os povos indígenas, especialmente por meio da Fundação Estadual de Política Indigenista – FEPI – órgão responsável por articular tais parcerias, atualmente dirigido por um indígena justamente da região do Rio Negro.

O Instituto Socioambiental também enviou ofício ao Secretário de Estado do Meio Ambiente, Virgílio Viana, solicitando providências para que o Estado desistisse da ação. Sem efeito. A Fepi também chegou a solicitar à Procuradoria Geral do Estado – PGE – a desistência do mandado de segurança no STF. No entanto, ao invés de atender ao pleito vindo do órgão estadual responsável pela política indigenista, a PGE convocou, em março de 2004, uma reunião com representantes das prefeituras de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Japurá, para discutir a posição dos municípios sobre a ação contestando as terras indígenas. Previsivelmente, os municípios foram contrários ao arquivamento da ação, e conseqüentemente às demarcações questionadas.

Vale lembrar que a PGE tinha a prerrogativa de desistir da ação a qualquer tempo, sem necessidade de ouvir os municípios, o que faz crer que a insistência em manter o recurso no Judiciário poderia ter motivação política, face às eleições municipais deste ano, especialmente em São Gabriel da Cachoeira, onde há forte candidatura indígena. A decisão do STF mostra que as manobras políticas feitas pelo governo do AM para minar as demarcações não surtiram efeito no plano jurídico: a ação foi finalmente julgada improcedente, ainda que contra a vontade do estado e dos municípios. No plano político, entretanto, os estragos causados pela insistência do governo em manter viva essa ameaça aos direitos territoriais dos povos indígenas são irreversíveis. Desgastaram a confiança dos povos indígenas em um governo cujas políticas declaradas supostamente valorizavam e beneficiavam os povos indígenas, mas que por trás das cortinas, conspira contra seus direitos territoriais.

Fernando Mathias

Parlamentar propõe retalhação da reserva Raposa Serra do Sol

Instituto Socioambiental – O Deputado Lindberg Farias (PT/RJ), relator da Comissão Externa da Câmara dos Deputados instalada em fevereiro deste ano para “avaliar a demarcação da terra indígena”, entregou relatório sobre o assunto nesta quarta-feira (31/3). Nele, propõe que sejam excluídos da área a ser homologada 12 mil hectares de terras griladas por arrozeiros; Uiramutã, base de apoio do garimpo transformada em município em 1997, mas ainda sub júdice; e uma faixa de terra de 15 quilômetros ao longo da faixa de fronteira com a Venezuela e Guiana.

Situada no nordeste de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela, a Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, habitada por cerca de 15 mil índios das etnias Makuxi, Wapichana, Taurepang, Patamona e Ingarikó, tem seu limite [1.678.800 hectares] reconhecido pela Portaria nº 820/1998 do Ministério da Justiça.

A demora do presidente Lula em assinar o decreto de homologação da TI, pronta para ser homologada desde o fim do mandato de FHC, permite que comecem a pipocar situações inoportunas – considerando o processo demarcatório de TIs estabelecido pelo Decreto 1.775/96 -, como a criação de uma comissão externa da Câmara dos Deputados, para “avaliar in loco a demarcação da TI Raposa Serra do Sol”.

Presidida pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB/PR) – notório entre os ambientalistas por conta de suas propostas de alterações do Código Florestal -, a comissão conta com 13 integrantes, entre os quais, seu relator, o deputado Lindberg Farias (PT/RJ), que entregou nesta quarta-feira (31/3) parecer sobre o assunto.

Farias propõe uma “nova identificação” das terras destinadas aos indígenas de Raposa-Serra do Sol. De acordo com o seu relatório, a Portaria nº 820/98 do Ministério da Justiça, que embasa o processo de demarcação da TI, seria ilegal e inconstitucional, por violar preceitos de soberania e segurança nacional.

Na contramão do que já foi garantido à população indígena de Raposa-Serra do Sol, o deputado defende ser necessária a exclusão de diversas áreas imprescindíveis à segurança nacional e à economia roraimense. O documento questiona ainda o laudo antropológico que fundamenta a demarcação daquela terra, afirmando que “a elaboração de peças centrais do laudo antropológico por organizações não-governamentais ligadas à defesa dos direitos indígenas, ou seus representantes, compromete a isenção daquele documento”.

Diversos deputados, entre os quais Perpétua Almeida (PC do B/AC), da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, pediram vista conjunta do parecer. Os parlamentares podem apresentar até segunda-feira (5/4) sugestões ao documento, que deverá ser discutido e votado na próxima reunião da comissão externa, agendada para terça-feira (6/4).

Principais pontos do parecer de Lindberg Farias

Garantia de terras griladas aos arrozeiros

Defendendo a legitimidade das terras invadidas com base na Lei de Terras de 1850, o documento propõe a exclusão de 12 mil hectares da TI Raposa-Serra do Sol, onde hoje grileiros mantêm plantações de arroz. Farias enaltece a rizicultura como uma grande atividade econômica de Roraima, responsável por mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) de Roraima e pela geração de 6 mil empregos.

O Relatório sobre a Situação das Terras em Roraima: Enfoque ao Uso Agrícola, elaborado pela Embrapa-RR a partir dos relatórios do Zoneamento Econômico-Ecológico da Região Central do Estado de Roraima, aponta que as áreas efetivamente livres e aptas para a agricultura correspondem a 2,8 milhões de hectares, ou 12,6% da superfície do Estado. Ou seja, a atividade pode ser desenvolvida em outras regiões. Além disso, diversos índios apresentam constantemente denúncias relacionadas aos problemas ambientais e à saúde das comunidades provocados pelos agrotóxicos usados nessas lavouras, como a poluição de igarapés e rios e a mortandade de peixes e outros animais.

Exclusão de faixa de 15 km ao longo da fronteira com Venezuela e Guiana

Sem qualquer fundamento legal ou constitucional, o deputado propõe a exclusão de uma faixa de terra de 15 quilômetros ao longo da fronteira do Brasil com a Venezuela e Guiana. Argumenta, para tanto, que, embora seja reconhecida a compatibilidade entre terras indígenas e faixa de fronteira, “recomenda a prudência que seja mantida, dentro do possível, a presença de não-índios na região, assegurando a ocupação produtiva e a integração daquela área ao território nacional”.

“…Por estar a pretendida área de Raposa-Serra do Sol em região de fronteira, sujeitas a atividades como garimpo ilegal, contrabando, narcotráfico e biopirataria, é fundamental que as Forças Armadas tenham ampla liberdade de atuação na região. É necessário, portanto, incentivar a ocupação humana, com os objetivos de consolidar a presença brasileira em áreas estratégicas do território nacional, facilitar o combate a ilícitos nacionais e transnacionais e promover a dignidade das populações locais”, expõe no documento.

E por falar na dignidade das populações locais, Lindberg desconsidera a existência de aldeias nesta região, incentivando a invasões de não-índios aonde atualmente isso não acontece, o que pode acirrar os conflitos locais. Mais: parte da premissa preconceituosa de que “ocupação produtiva” só é possível por não-índios, revelando desconhecimento da realidade da área, onde os indígenas mantêm 27 mil cabeças de gado.

A proposta, descabida, uma vez que contraria frontalmente o disposto no artigo 231 da Constituição Federal, visa também excluir da demarcação as principais áreas ricas em minérios, atendendo aos interesses de empresas de mineração que vêem a TI Raposa-Serra do Sol como um empecilho.

Uiramutã, município sub júdice, ileso

A proposta de exclusão da linha de 15 quilômetros ao longo da fronteira alcançaria também Uiramutã, antiga base de apoio ao garimpo alçada à condição de município, ainda sub júdice, em 1997.

Em entrevista ao Instituto Socioambiental (ISA) em junho de 2003, a advogada Ana Paula Souto Maior, procuradora da Fundação Nacional do Índio (Funai), definiu Uiramutã – orçamento de R$ 3,2 milhões no ano passado -, como uma das questões mais sérias de Raposa-Serra do Sol. “”É Terra da União, que está sendo grilada pelo Estado de Roraima, com apoio de recursos federais”, disse.

A Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou expressamente, em um relatório de 1997, a necessidade de que sejam “paralisadas todas as decisões de municipalização que atinjam terras indígenas, inclusive aquelas em processo de demarcação e homologação”, não apenas por sua origem ilegal, mas especialmente por causa dos conflitos e problemas que causam às comunidades indígenas.

Aliás, a advogada indígena Joênia Wapichana, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), entregou à Comissão de Direitos Humanos da OEA na segunda-feira (29/3) uma petição com denúncias de violação no Brasil à Declaração Americana sobre Direitos Humanos da OEA.

Consulta ao Conselho de Defesa Nacional (CDN)

O parecer de Lindberg também considera imprescindível que seja convocada uma reunião do Conselho de Defesa Nacional (CDN), para “que este debata em profundidade e se pronuncie sobre a questão, que envolve a segurança nacional em zona de fronteira”.

A consulta ao CDN – órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do estado democrático – não faz parte do processo de demarcação das Terras Indígenas e expõe a homologação, mais uma vez, a contestações extemporâneas.

Fernando Mathias e Cristiane Fontes

Universidade paulista cria “chumbada ecológica”

Agência Brasil – A preservação da água é a tônica deste século. Embora tenhamos grande oferta do recurso – cerca de 10% de toda a água doce do planeta está no Brasil -, já começamos a ter graves problemas localizados, causados principalmente pelos desmatamentos nas nascentes, nas margens dos rios e pela contaminação por diversos poluentes.

A consciência preservacionista tem na pesquisa científica e tecnológica um forte aliado, com o incremento de processos e materiais não poluentes. Exemplo disso é a criação de “chumbadas ecológicas”, desenvolvidas no Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), integrado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Araraquara. O produto já está no mercado, pela Tecnicer, empresa de São Carlos.

Na fabricação das “chumbadas ecológicas” são empregados materiais como argila, areia e pó de pedra, os quais são biocompatíveis com o fundo dos rios e lagos, em substituição às tradicionais de chumbo, que contaminam a água e os peixes. Na composição química das chumbadas cerâmicas entram 30% de alumina, 45% de sílica, 15% de ferro e 10% de cálcio. A empresa fornece o novo material para pesca por quilo ou em cartelas com 150 a 200 gramas, com folder institucional. Segundo a empresa, a aceitação no exterior tem sido boa.

Devido à diferença de densidade, as chumbadas cerâmicas precisam ser maiores que as tradicionais de chumbo, o que não impede que sejam usadas da mesma forma, com a vantagem de, por serem maiores, não enroscar nos mesmos lugares que as menores feitas de chumbo. As chumbadas cerâmicas perdidas no fundo de rios e lagos deterioram-se mais rapidamente, não contaminando a água e o solo.

Como todo metal pesado, o chumbo degrada-se muito lentamente no meio ambiente, persistindo durante décadas no solo e no fundo de rios, lagos e represas. Não é metabolizado pelos animais e sofre o processo de bioacumulação, afetando mais os animais do topo da cadeia alimentar, entre os quais está o homem.

O chumbo é comprovadamente carcinogênico (causa câncer), teratogênico (causa malformações estruturais no feto, baixo peso e/ou disfunções metabólicas e biológicas) e tóxico para o sistema reprodutivo (causa disfunções sexuais, aborto e infertilidade). A presença de quantidades elevadas de chumbo no sangue está relacionada a problemas neurológicos, com a falta de concentração e dificuldades na fala.

De um modo geral, os compostos de chumbo são nocivos para os animais. O efeito da absorção do elemento nas plantas não parece grave. No entanto, estas acumulam chumbo, que será absorvido pelos animais em caso de ingestão. Por essa razão não se utilizam compostos de chumbo em pesticidas ou inseticidas.

O chumbo e o seu sulfato são muito pouco absorvidos, considerando-se praticamente inócuos. No entanto, os sais solúveis, o cloreto, o nitrato, o acetato etc, são venenos muito ativos. As principais causas de intoxicação são desconforto intestinal, fortes dores abdominais, diarréia, perda de apetite, náuseas, vômitos e cãibras.

Desenvolvimento sustentável

Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) indicam que o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta US$ 390 milhões por ano com o tratamento de doenças ligadas à poluição hídrica, como a diarréia. A poluição do ar custa mais de US$ 2 milhões com a saúde só em São Paulo.

No setor privado, as despesas também são consideráveis. Um exemplo é a água, um bem já relativamente escasso que custará cada vez mais caro às empresas. Reciclá-la, passa então a ser uma necessidade de redução de custos e faz com que o meio ambiente ganhe duas vezes: primeiro porque a empresa deixa de retirar recursos hídricos da natureza, depois porque deixa de devolver a água com resíduos poluentes para o meio ambiente.

Em vez de corrigir o problema, pode ser mais viável economicamente evitar a poluição. Segundo o Ipea, cálculos realizados antes da modernização de muitas indústrias provam que o setor de alimentos, para conter a poluição hídrica, só precisaria investir por ano cerca de 0,29% do que gasta na produção.

Na indústria têxtil o investimento subiria para 0,74% e na química para 1,19%. O deputado estadual (RJ) Carlos Minc, em seu livro “Ecologia e cidadania”, relata que o custo de poluir é 2,5 vezes maior do que o de combater a poluição. O problema é que, para muitas empresas, a despoluição, até então, não é uma prioridade, ainda mais quando não são elas que arcam com os custos e perdas com agricultura, pesca e internações hospitalares.

Ainda que a preservação do meio ambiente seja hoje um fator fundamental e inquestionável no direcionamento produtivo das empresas, a grande motivação para a prevenção da poluição é, sem dúvida, a ecoeficiência – reduzir custos e continuar produzindo igual ou ainda mais. Para atingir este objetivo, no entanto, as empresas precisam investir em novas tecnologias, equipamentos e especialização profissional de sua equipe.

Um bom exemplo da ecoficiência vem da Coca-Cola, que resolveu monitorar sua frota de nove mil caminhões de entrega para evitar desperdício e, conseqüentemente, diminuir a poluição atmosférica. A avaliação da empresa é de que a economia de combustível pode chegar a dez milhões de litros anualmente, ou 15% do que gasta em um ano para distribuir seus produtos em todo o país.

Para isso, os empregados foram reeducados em direção econômica e defensiva. Além disso, a empresa implementou o programa Água Limpa, que teve sucesso ao purificar a água usada em suas unidades. A cervejaria Kaiser, com seu programa de reciclagem, objetiva a emissão zero de resíduos, que vão desde o gás carbônico gerado no processo de fabricação da cerveja até o bagaço da cevada. Com o reaproveitamento desses materiais, a empresa pode economizar até US$ 10 milhões/ano.

Novo tipo de biodiesel de soja poderá ser usado em aviões

Ministério da Ciência e Tecnologia – Um novo biodiesel produzido a partir do óleo de soja pode se tornar uma alternativa mais ecológica aos combustíveis utilizados na aviação comercial. O estudo publicado na revista “New Scientist” será discutido na reunião da Sociedade Química Americana, que acontece na próxima semana na Califórnia, nos Estados Unidos.

Hoje, os aviões comerciais são abastecidos por um combustível derivado do petróleo chamado Jet A. Como todos os combustíveis fósseis, ele libera CO² (dióxido de carbono) na atmosfera. Este gás é apontado como o maior responsável pelo chamado efeito estufa.

A queima do óleo de soja também libera CO². Entretanto, por ter origem vegetal, o carbono foi incorporado recentemente e não representa um aumento dos níveis atuais na atmosfera. O problema para a obtenção de um biodiesel compatível para a aviação comercial é a exigência de que o combustível permaneça em estado líquido a baixas temperaturas. Pesquisas anteriores falharam porque os óleos vegetais geralmente congelam a 0ºC.

Entretanto, a equipe de pesquisadores liderados por Bernard Tao, da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, conseguiu desenvolver uma mistura de biodiesel que congela a apenas 40ºC negativos. Além disso, a mistura contém 40% de óleo de soja e 60% de Jet A, a maior porcentagem de óleo vegetal já atingida.

A técnica de Tao consiste em submeter o combustível a baixas temperaturas e subtrair os sólidos cristalinos que se formam no decorrer do processo. O líquido resultante será um combustível com ponto de congelamento mais baixo.

Indios participarão da reunião da SBPC pela primeira vez

Agência Brasil  – Os índios de Mato Grosso terão participação efetiva na 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, de 18 a 23 de julho, em Cuiabá. Paralelamente ao congresso científico, será realizada a SBPC Indígena.

Apoiado por entidades governamentais e não-governamentais, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), responsável pelo encontro, quer que a SBPC Indígena proporcione discussões e dê visibilidade aos povos indígenas. Em Mato Grosso, encontram-se 39 etnias, com diferentes tempos de contato com a sociedade. “A presença dessa diversidade étnica resulta numa grande riqueza cultural, com sabedorias ancestrais construídas há milênios em um habitat regional que abrange florestas e cerrados”, afirma a coordenadora do Cimi em Mato Grosso, Maristela Torres.

Para o padre Aloir Pacini, a SBPC mostrará o quanto a ciência moderna e a tradição secular se aliam em um mesmo contexto e como esses povos se apresentam hoje. “Nesse tempo histórico, é importante fortalecer a identidade cultural e desenvolver conhecimentos referentes a um novo sistema de vida”, afirma Pacini.

Ministros discutem desenvolvimento no Baixo Amazonas

 Os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Integração Nacional, Ciro Gomes, discutem hoje em Santarém (PA) o ordenamento territorial ao longo da BR-163 (Cuiabá-Santarém). O encontro, iniciado na segunda-feira (29), tem como objetivo concluir um documento oficial com propostas de desenvolvimento para a região do Baixo Amazonas, Transamazônica, BR-163 (eixo paraense) e Mato Grosso.

Sob o título "Desafios do Ordenamento Territorial ao longo da BR-163, Baixo Amazonas, Transamazônica e Xingu", o encontro consolida um ciclo de debates realizados em 2003 nas cidades de Santarém, ltaituba, e Altamira, no Pará, e Sinop, em Mato Grosso, onde organizações não-governamentais e movimentos sociais e indígenas iniciaram um processo de elaboração de propostas com sugestões técnicas e políticas para subsidiar um Plano de Desenvolvimento Sustentável para a região.

Boa parte das reivindicações da sociedade já está incluída no Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado este mês pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Plano prevê ações de ordenamento fundiário e territorial na área de influência da rodovia, entre as quais medidas emergenciais de combate à grilagem de terrras públicas.

Também propõe a criação de unidades de conservação, demarcação de terras indígenas, desenvolvimento do Zoneamento Econômio-Ecológico (ZEE), adoção de Plano de Gestão Ambiental Rural (Gestar) e implantação de infra-estrutura social e produtiva em assentamentos de reforma agrária.

Uma das primeiras ações do plano foi a instalação de bases operacionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Diamantino, Sinop e Guarantã do Norte, no Mato Grosso, e em Santarém, Serra do Cachimbo, Novo Progresso e Itaituba, no Pará. As bases são responsáveis pela regulamentação fundiária da área de influência da BR-163.