Terça-feira, 08/05/2001

Leitores,

Hoje não vou detalhar o que fizemos ou deixamos de fazer. Sei que disso você já está careca de saber. Mas vou escrever sobre algo até agora não abordado: o saco que é escrever e atualizar esta página madrugada afora.

Provavelmente você deve achar que estamos vivendo na maior moleza, passando o dia todo de papo para o ar, visitando cachú, andando de barco, tomando cerveja e fazendo outras coisas bacanas. É, concordo que é verdade, até nos divertimos bastante, conseguimos sair da mesmice, do cotidiano de Brasília.

cachoeiranovaxavantina.jpgMas tem também um outro lado, mais cruel (conosco, é claro!). Algo como ‘rapadura é doce, mas não é mole, não!’ Para atualizar diariamente esta página, sério, é uma trabalheira. Escrever sobre algo que não seja besteira, de uma maneira que não seja idiota e sem a intenção de banalizar o que realmente NÃO PODE ser banalizado não é uma coisa fácil. Principalmente quando você está em um lugar onde não conhece ninguém e não sabe nem ao menos onde fica a padaria.

Bem, tudo isso é complicado e meio chato, mas, também, suportável e esperado, pois além de ser um projeto de jornalismo (profissão-encrenca por natureza), ninguém mandou um bando de moleques filhos de papai e metidos a besta se embrenharem no meio do Centro-Oeste. A universidade não pediu, a orientadora também não e muito menos as nossas chefes. Certo.

Cachoeira em propriedade particular nos arredores de Nova Xavantina, um pouco das maravilhas inexploradas da Serra do Roncador. Foto: Fernando Zarur

Mas, como já citei acima, sobra uma questão. Um mínimo de horas de sono por noite, um nada que seja de organização e uma meia hora de tempo livre para o ócio são coisas imprescindíveis. Há dias não conseguimos atualizar a página em um horário normal, que nos permita dormir 8 horas por noite e mostrar aos leitores o fruto de nossa labuta.

Diário, sempre tentamos esquematizar uma hora de finalização, mas não sei por qual motivo, sempre estouramos e passamos a meia-noite no meio da praça, esperando um sinal do espaço para mandar os textos e fotos.

Bem, por hoje é só. Agora são 23:30 do dia 08/05 e vamos começar a atualizar a página. Provavelmente, só por volta de meia-noite e meia vamos terminar…

Bruno Radicchi

PS: esse da foto, parecendo um duende do clipe do Natiruts, sou eu, na cachoeira. Era para o Fábio aparecer também, nadando debaixo d’água, mas quem é o autor da obra é o Fernando, rei da anti-fotografia…

Segunda-feira, 07/05/2001

Começamos bem o dia. A Carol, amiga que fizemos aqui em Nova Xavantina, nos levou (Fábio e Fernando) para dar uma volta pela cidade e visitar alguns dos marcos da fundação. Enquanto isso, Pedro e Bruno estavam entrevistando o Secretário de Educação e Cultura da cidade. No caminho, passamos pela casa da D. Firmina, que tem 81 anos e veio para a cidade por causa de seu marido, piloto da Fundação Brasil Central.

A prosa foi boa, mas o que marcou a manhã foi uma entrevista com o Seu Zé Goiás, figura rara da região que veio para cá trabalhar na Expedição Roncador-Xingu. Sua chegada foi marcada por um causo muito bom. Seu Zé, mulherengo como diz que era, sobrevoou a região do acampamento, que só tinha três casas, e já foi pensando onde ficavam as mulheres do lugar.

Quando desembarcou, a primeira coisa que fez foi perguntar para um companheiro: “Mas onde é que fica a casa das morenas?” O rapaz, mais que solícito, disse que a casa ficava logo ali, no alto do morro. Seu Zé esperou o dia seguinte, tomou um banho, se arrumou e foi pra lá. Quando chegou, descobriu que tinham mandado ele para o curral e que a única morena que tinha lá era uma mula chamada Morena. No dia seguinte, a gozação foi tão grande que até o Coronel entrou na brincadeira.

Fábio

Domingo, 06/05/2001

Neste domingo acordamos um pouco mais tarde e fomos conhecer a feira local. Compramos frutas, um headphone e tiramos várias fotos. A Lúcia nos preparou um ótimo arroz com lentilha que foi acompanhado por peixada e salada. O Fábio conheceu um senhor chamado Antônio que foi candango em Brasília durante 16 anos, desde 1961.

riodasmortesanoitecer.jpgA tarde conversamos longamente com o Archimedes Carpentieri, principal historiador regional. Falamos um pouco sobre muito e ganhamos um livro de sua autoria cujo título nos agradou muito: "Ode ao Ócio".

Mais uma vez o ponto alto foi o banho no Rio das Mortes. Continuamos embasbacados com a trasnparência da água e ficamos sabendo que ele é considerado o 3o rio mais limpo do mundo. Pra completar, o pôr-do-sol foi uma pintura e a lua estava cheia.

Em Nova Xavantina vimos algumas das paisagens mais belas da viagem, como a lua cheia sobre o Rio das Mortes. Foto: Fernando Zarur

Fernando

Sábado, 05/05/2001

Deixamos a mordomia de Barra do Garças, já era hora de seguir viagem. A gente estava parecendo quatro cachorros de rua sarnentos, daqueles que você dá comida uma vez e ele volta todos os dias. A verdade é que estávamos sendo muito bem alimentados na casa do Seu Pedro Lira e de sua esposa, D. Maria, sem contar com nossa ótima estadia no hotel Disconauta. Foram dias de gula devorando a melhor comida caseira, o que tornou nossa partida mais dolorosa. Tchau, tchau Barra.

A viagem foi bem agradável. A bela paisagem do Vale dos Sonhos compensou os muitos buracos que havia na rodovia.

Chegando em Nova Xavantina, fomos recebidos pela Lúcia Kirsten, uma paulista que há 20 anos veio para cá. Ela vive numa casa simples, rústica e muito acolhedora. Rapidamente tiramos nosso arsenal de equipamentos do carro e fomos, juntos com a Lúcia, tomar um banho no Rio das Mortes.

Pedro

Palestinos dominam o comércio em Barra do Garças

No início da década de 50, parte da família de Abdel Aziz Ali Saleh chegou a cidade-dormitório de Barra do Garças, vizinha da movimentada Aragarças, sede da Fundação Brasil Central. Seu irmão procurava um lugar para estabelecer um pequeno comércio, longe dos conflitos entre judeus e palestinos que estouravam na época. Hoje, meio século depois, os árabes palestinos são uma das forças econômicas do município que cresceu e tornou-se maior que seu vizinho.

m0505.jpg“Para nós, patrícios, para toda a comunidade árabe daqui, não tem festa, não tem noite, a persistência é do nosso povo. Adotamos o Brasil como segunda pátria e viemos para vencer”, explica Aziz Ali Saleh, professor de inglês, proprietário de uma loja de roupas da cidade, a ‘Casa Enxoval’, e representante da comunidade palestina na cidade.

"Quem bebe água do Araguaia nunca mais vai esquecer. Vim para ficar uns quatro ou cinco anos e já estou aqui há mais de 30." Foto: Fábio Pili

A comunidade árabe-palestina, ou “os turcos”, como são conhecidos pela população, são proprietários dos quatro maiores hotéis da cidade, de uma rede de supermercados local, de lojas de material para construção, várias confecções, lojas de roupas e sapatarias. Segundo Aziz, cerca de 60% do comércio varejista está nas mãos de famílias árabe-palestinas.

Mascates e família

Os árabes palestinos começaram a chegar na região de Barra do Garças no início da década de 1950. Trabalhavam como mascates, comprando mercadorias em São Paulo e vendendo de porta em porta nas cidades do Vale do Araguaia. O comércio era promissor, pois além da carência de equipamentos e bens diversos e da falta de infra-estrutura, havia a movimentação provocada pela Fundação Brasil Central.

“Quando chegamos aqui, tinha um movimento de expansão, esta era uma terra não descoberta. Mas não tinha uma casa de comércio de brasileiros, nem mesmo em Aragarças. Tudo que a gente vendia vinha de São Paulo, pela Transportadora Caçula, e passava por Uberlândia e Goiânia”, contextualiza Aziz.

A escolha por Barra do Garças ao invés de Aragarças – na época sede da Fundação e pólo do desenvolvimento – foi devido a maior movimentação de fazendeiros e, posteriormente, gaúchos, no município matogrossense. “As terras desse lado do rio também eram mais baratas”, diz Aziz.

Assim que se estabeleciam, os palestinos traziam seus parentes das áreas de conflito – Israel, Cisjordânia e Palestina – para ajudar no comércio ou montar um empreendimento próprio. Dessa maneira, estabeleceram na região uma tradicional e familiar estrutura econômica, na qual a empresa é dirigida e passada de pai para filho, e todos os negócios da comunidade são interligados. Hoje, os árabes estão presentes em cidades como Balizas, Piranhas, Jataí e Caiapônia, todas localizadas no Vale do Araguaia.

A união entre os palestinos de Barra do Garças é tão marcante que, em 1980, fundaram a Sociedade Árabe-Palestina Brasileira. A organização, com cerca de 150 membros, funciona como fórum de discussão empresarial e centro cultural. Lá, explica Aziz, decisões sobre negócios são discutidas e as tradições e crenças da comunidade são celebradas.

Economia no Vale do Araguaia

Barra do Garças sofreu inúmeras mudanças nas últimas décadas. Se há 40 anos a viagem até Nova Xavantina, distante 150 Km, podia durar um mês inteiro, devido a atoleiros, pinguelas desmoronadas e outras dificuldades encontradas pelo caminho, o mesmo percurso pode ser feito hoje em três horas. Essas e outras transformações, além de impulsionadas pelo movimento desenvolvimentista da Fundação Brasil Central, também podem ser explicadas pela intensa atividade pecuária que se desenvolveu na região.

gado.jpgA indústria pecuária, ou seja, a criação e as atividades de aproveitamento do gado, como frigoríficos e curtumes, respondem por cerca de 80% da receita do município. O secretário municipal de Turismo, Comércio, Indústria e Meio Ambiente, Cláudio Picchi, é categórico: "A base da nossa economia é a pecuária e a indústria dos segmentos do boi."

A pecuária e atividades afins são responsáveis por cerca de 80% da receita do município. O rebanho bovino é criado predominantemente da forma extensiva, mas já há projetos de confinamento sendo implantados no município. | Foto: Pedro Ivo Alcântara.

Barra do Garças dispõe hoje de um rebanho bovino avaliado em 350 mil cabeças. Além disso, a indústria pecuária instalada na cidade atua sobre toda região do vale do Araguaia, área que se estende do Alto Taquari (divisa Mato Grosso-Mato Grosso do Sul) a Vila Rica (sul do Pará) e abriga um rebanho com cerca de 4 milhões de cabeças de gado.

A criação do gado é feita em grandes fazendas, muitas com área superior a 1000 alqueires e equipadas com infra-estrutura como asfalto, aeroporto, heliporto e pivôs de irrigação. Essas propriedades, segundo o censo realizado em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam 196 dos 596 estabelecimentos agropecuários encontrados em Barra do Garças.

Indústria de segmentos

Além de grandes fazendas, o município abriga dois frigoríficos e um curtume. O maior dos frigoríficos, o Friboi, abate uma média de 1200 cabeças de gado por dia e emprega 750 trabalhadores. Da produção média mensal de 4.100 toneladas de carne por mês, 90% é transportada para São Paulo, e o restante é exportado para a Inglaterra e Holanda.

O segundo frigorífico, Bertin, com capacidade média de abate de 500 cabeças por dia, está desativado. Mas Cláudio Picchi afirma que essa condição é temporária e logo deve voltar a funcionar.

Já o Curtume Santo Antônio (Curtusa) produz o couro curtido e semi-acabado, matéria prima vendida para o mercado interno, Europa e Estados Unidos.

Criação extensiva e intensiva

Em Barra do Garças, a maior parte do rebanho bovino é criada solta no pasto, de maneira extensiva. A geografia da região, caracterizada por um grande planalto sem acidentes geográficos que atrapalhem, repleto de rios e córregos que formam a bacia do Araguaia, permite tal criação. Ainda, os recursos empregados são baixos, assim como a geração de empregos. Para cuidar de mil bois, somente um peão é necessário.

A exceção é a fazenda Marca Agropecuária, onde cerca de 45 mil cabeças são mantidas dentro de cochos, confinadas e alimentadas de maneira a engordar o boi e alcançar seu ponto de abate em um menor espaço de tempo. A tecnologia empregada permite aos criadores transformar, em um prazo de 100 dias, um animal de 380 kg a 400 kg e um de 480 kg a 500 kg.

Nem só de bois vive o vale do Araguaia

Preocupada em diversificar sua economia, baseada quase exclusivamente na pecuária e na indústria de segmentos do boi, Barra do Garças se prepara para explorar um novo tipo de criação: de aves. Há quatro anos vem sendo costurada uma parceria entre a prefeitura de Barra do Garças, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a empresa Avico para a abertura de um complexo para o desenvolvimento intensivo da avicultura.

O projeto é avaliado em R$ 47 milhões, e prevê a construção de uma unidade de abatimento com capacidade de 120 mil aves/dia, uma fábrica de ração e uma unidade de criação com capacidade de produzir 20 mil aves/dia. A produção, avaliada em 150 toneladas por dia, seria voltada para o mercado interno.

Segundo o secretário municipal de Turismo, Comércio, Indústria e Meio Ambiente, Cláudio Picchi, 70% do complexo já foi implantado e sua finalização depende quase que exclusivamente da aquisição de maquinário e equipamentos. Entretanto, a equipe do Rota Brasil Oeste visitou uma das unidades da Avico e constatou que, embora em estágio avançado, as obras de construção ainda não terminaram. Fotos da construção foram vetadas por um inspetor da obra.

A recente extinção da Sudam preocupa o secretário, pois pode paralisar as obras no ponto em que estão e deixar para Barra do Garças grandes esqueletos como herança. “A exploração da avicultura no município irá gerar 500 empregos diretos e um número sem conta de indiretos. Dentro da Sudam existem falcatruas, mas também existem projetos sérios, e que com certeza, serão prejudicados".

Sexta-feira, 04/05/2001

Começamos o dia sendo chamados de picaretas pelo Sr. Valdon Varjão. Ele estava imprimindo apenas a capa do site e achou que isto era o que estávamos produzindo. Desfeito o mal-entendido, tudo ficou bem.

Depois, fomos para a casa do Sr. Lídio Pereira. Trabalhador veterano da Expedição, aos 76 anos Seu Lídio preserva um raciocínio claro, muita elegância e um grande senso de humor.

A tarde o Sr. Pedro Lira nos levou para passear pelo Araguaia. Paramos numa praia onde encontramos o Seu Catarina. A prosa foi acompanhada de uma das melhores picanhas que já comemos. O rio é lindo e cada um pescou um peixe de aproximadamente 100 gramas, nosso jantar para o próximo mês…

Voltamos no começo da noite, debaixo de uma lua quase cheia. Escalamos o Fábio para ficar na proa como navegador e, incrívelmente, chegamos a salvo.

Fernando, Fábio e Pedro

Quinta-feira, 03/05/2001

programaradio.jpgHoje pela manhã participamos de um programa na rádio Aruanã, aqui de Barra do Garças. A participação no rádio é muito importante, afinal de contas este ainda é um dos principais meios de comuncação no interior do Brasil. Logo depois fomos conhecer um pedacinho da Serra do Roncador.

Além da participação no programa Eu de Cá, Você de Lá na Rádio Nacional, falamos também para emissoras locais. Foto: Fábio Pili

Quem nos levou foi o Sr. Pedro, primo de uma amiga de Brasília, que está nos acompanhando pela cidade e nos alimentando muito bem. Do alto da serra, a vista é de um mar sem fim de verde cortada pela cidade, o Araguaia e o Garças.

Fernando

Valdon Varjão

Famoso em Barra do Garça e Aragarças, Valdon Varjão guarda na memória todos os detalhes do que foi o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro no século XX. Como político e morador local foi mais que testemunha, atuou em todo o processo. Cinco vezes vereador e três vezes prefeito de Barra Garças, foi também deputado federal e senador. Hoje ele é dono de um dos maiores acervos históricos sobre a Expedição Roncador-Xingu, são vídeos, fotos e mais de 20 livros de sua autoria.

m0305.jpgGrupo – Em que época sua família veio pra esta região?

Valdon Varjão – Eu nasci no Ceará, mas vim para cá ainda novo. Meu pai chamava-se Manuel Cardoso Varjão e veio para a região do Roncador atraído pela febre do garimpo de diamantes, por volta de 1936. Nós fomos pra a cidade de Baliza, que era a capital do garimpo naquela época.

"(…)Desvirtuaram a intenção original que era colonizar toda essa região construindo estradas e novas cidades. A idéia não era catequizar índio e nem fazer Parque Indígena(…)" Foto: Fábio Pili

Grupo – Quando o Sr. veio para Barra do Garças pela primeira vez?

Valdon Varjão – Em 1938, quando eu tinha 15 anos, eu tocava na banda de Baliza, onde eu morava. A cidade fica a uns 60Km daqui. Os festeiros aqui da Barra contrataram a banda pra vir tocar aqui. Eu vim e acabei me apaixonando por uma menina. Quando voltei pra casa, minha mãe faleceu. Eu fiquei sozinho por lá e resolvi voltar para Barra do Garça para encontrar a menina e ela estava noiva de outro. Aí eu comecei a trabalhar para o Sr. Antônio Paulo da Costa, eu tomava conta de um bilhar que ele tinha na cidade. Alguns anos mais tarde, em 1945, ele foi eleito prefeito e eu passei a trabalhar como seu secretário. Cinco anos depois, me candidatei a vereador e fui eleito pela primeira vez.

Grupo – Foi nesta época que a Fundação Brasil Central começou suas atividades por aqui. Como foi recebida a iniciativa?

Valdon Varjão – Muito bem! A Fundação Brasil Central trazia incentivo, dinheiro e muitos empreendimentos para nós. A região região teria crescido ainda mais se o ideal original do presidente Getúlio Vargas e do Ministro João Alberto não tivesse sido desvirtuado. Eu adoro o Orlando e sempre fui amigo dele, troco correspondências com ele até hoje. Mas eu acho que os irmãos Villas Bôas desvirtuaram a intenção original que era colonizar toda essa região construindo estradas e novas cidades. A idéia não era catequizar índio e nem fazer Parque Indígena. O suicídio do Getúlio foi a derrota para nossa região. Quando Juscelino Kubitscheck assumiu isso já tava tudo feito. Brasília foi construída sob influência do trabalho da Fundação Brasil Central.

Gurpo – Como o Sr. se tornou senador da República?

Valdon Varjão – Eu fui convidado pelo Gastão Matos Müller, que era muito meu amigo, para ser seu suplente no Senado. Eu falei para ele que não queria, porque suplente não aparece, ninguém ouve falar de suplente. Então ele falou que, se fosse eleito, me deixaria assumir o cargo por dois anos. O Gastão se licensiou e então me tornei senador em 83 até 85. Cheguei a ser Quarto Secretário da Mesa.

Grupo – Por que o Sr. construiu o Discoporto?

Valdon Varjão – Eu nem gosto muito de falar sobre esse assunto… Na verdade, eu queria chamar a atenção para Barra do Garças. Quando eu fui no programa do Jô Soares para falar do Discoporto, ele me perguntou se eu acreditava em disco voadores. Eu repondi que sim. Aí ele me perguntou se eu já tinha visto um para acreditar. Então eu perguntei para ele: "Você acredita em Deus?". Ele me respondeu que sim. Aí perguntei: "Se ele já tinha visto Deus". (Risos)

Grupo – Qual a sua visão para o futuro da região?

Valdon Varjão – Sou pessimista. O Governo não tem nenhum projeto para a região. Não que o governo tenha que fazer tudo, mas ficamos viciados no apoio estatal. Os gaúchos, por exemplo, tem mentlidade diferente e costumam fazer as coisas por conta própria. Cidades que eles fundaram, como Primavera (MT), estão com uma economia ótima. Para nós falta, primeiro, uma boa injeção de ânimo e recursos. Falta também esforço político, nossa bancada é fraca no número de representantes e em pessoas de boa cultura.

Quarta-feira, 02/05/2001

Hoje decidimos nos dividir em dois times. Pedro e Fernando entrevistaram Valdon Varjão, ex-senador da República e figura ilustre da região (confira amanhã a entrevista). Bruno e Fábio saíram à procura de matérias e fotos interessantes e acabaram descobrindo uma colônia de árabes, principalmente palestinos, que detém boa parte do comércio de varejo da região.

Ao final da tarde estávamos passando a matéria literalmente às margens do rio Araguaia (precisávamos de um lugar aberto para conseguir conexão com o satélite), quando vimos uma movimentação diferente no rio. Era um boto rosa, relativamente raro na região.

Amanhã estamos programando uma volta de barco pelo rio e, quem sabe, vamos encontrá-lo de novo.

Fábio e Pedro.