Terras públicas na Amazônia são colocadas à venda na Internet

Agência Brasil – Anúncios divulgados pela internet oferecem terras públicas na Amazônia a R$ 50 e R$ 150 o hectare. A cada quatro meses, surgem novas páginas eletrônicas oferecendo terrenos na Amazônia. Umas são em português e outras em inglês, direcionadas ao comprador estrangeiro. A maior parte das terras da Amazônia, entretanto, não pode ser vendida, porque é propriedade da União. Só podem ser negociadas aquelas cuja titularidade foi transferida do governo para um proprietário particular.

Segundo o superintendente da Polícia Federal no Pará, José Sales, o golpe não tem dado muito certo. Ele disse que nenhum comprador levou ou ocupou a terra pública da região até agora.

O promotor de Justiça do Ministério Público do Pará, Felício Pontes Júnior, afirma que a origem dos anúncios está sendo investigada. “Nós temos tentado identificar o país de origem dessas informações. Depois, remetemos à Polícia Federal para que acione a Interpol e, assim, consiga descobrir quem são os responsáveis por aqueles sítios na internet”. De acordo com o promotor, o mais difícil é localizar os responsáveis pelos sites internacionais, já que nem todos os países obrigam essas pessoas a se identificar.

Outro problema encontrado, desta vez pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é a quantidade de títulos emitidos por cartórios para legalizar as terras da Amazônia. O gerente-executivo do Ibama no Pará, Marcílio Monteiro, diz que essa é uma fonte de lucro para os cartórios e de perda para a União.

Para tentar impedir a venda de terrenos na Amazônia, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já começou a implantar novas técnicas de identificação de áreas públicas e privadas na região. O presidente do Instituto, Rolf Hackbart, disse que a fiscalização do Incra na Amazônia é feita por amostragem. “Mas, agora, nós vamos fazer o geo-referenciamento com fotos de satélite de todos os imóveis rurais do país. Isso é um programa para ser implantado em nove anos, mas já estamos iniciando em várias regiões e o Norte vai ser prioridade. Os técnicos do Incra vão a campo e nós teremos as fotos de satélite”, explicou.

Quem compra terras públicas na Amazônia é investigado e pode ser condenado por estelionato, se for comprovada má-fé no negócio. Neste caso, a pena varia de 1 a 5 anos de prisão em regime fechado.

Marcela D’Alessandro

Proposta regulamenta venda de soja transgênica

Agência Câmara – A Câmara está estudando proposições que normatizam o plantio e comercialização de soja geneticamente modificada. Uma dessa propostas é o Projeto de Lei 3477/04, de autoria do deputado Luis Carlos Heinze (PPB-RS), que só permite o plantio e a venda de soja transgênica se os agricultores assinarem um termo de responsabilidade.

O parlamentar lembra que a colheita da safra 2002/2003 gerou um impasse econômico e social que obrigou o Governo Federal a adotar uma medida provisória – MP 113/03, posteriormente convertida na Lei 10688/03 -, que legalizou a venda da soja colhida no primeiro semestre de 2003. A MP era uma solução legal provisória, pois “esperava-se que uma nova Lei de Biossegurança viesse a dar segurança jurídica para o plantio das futuras safras”, recorda o deputado. No entanto, essa lei (PL 2401/03) ainda tramita no Congresso Nacional (atualmente, aguarda votação no Senado Federal), o que suscitou novo impasse.

Segunda MP
A venda da safra 2003/2004 foi novamente contornada por uma medida provisória – MP 131/03, transformada na Lei 10814/03 – que regulou a safra plantada em 2003 e colhida no primeiro semestre de 2004. Essa MP também autorizou o registro provisório da soja transgênica no Registro Nacional de Cultivares, o que se permitiu ampliar o estoque de sementes de soja geneticamente modificadas.

Vácuo legal
A proximidade da época em que os agricultores definem o plantio da safra 2004/2005 volta a preocupar. “A inexistência de regulamentação legal significará transtorno aos agricultores e prejuízos para a nova safra”, prevê o parlamentar. Heinze destaca ainda a importância do debate, já que “o agronegócio é o carro-chefe da economia e das exportações brasileiras”.

Para evitar a edição de uma terceira medida provisória, em sua avaliação uma solução “paliativa, transitória e desgastante”, o deputado apresentou o projeto normatizando o plantio e a venda de soja modificada geneticamente.

Andamento
A proposta de Heinze foi apensada ao PL 2905/97, do deputado Fernando Gabeira (sem partido-RJ), que trata do mesmo assunto. O texto de Gabeira já foi aprovado por uma comissão especial há dois anos. Agora, aguarda inclusão na Ordem do Dia para ser votado pelos deputados no plenário da Câmara.

– Clique aqui para conhecer o texto substitutivo ao PL 2905/97 aprovado pela comissão especial.

Natalia Doederlein

Energia eólica é alternativa para pequenas propriedades

Embrapa – O desenvolvimento do setor agrícola está diretamente ligado à disponibilidade de energia. Porém, o preço elevado e a ameaça de escassez das fontes não-renováveis têm despertado a preocupação em se buscar fontes alternativas. Pensando nisso, a Embrapa Agroindústria Tropical, (Fortaleza/CE), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, realizou experimento com um sistema de irrigação localizada acionado por energia eólica, utilizando cataventos hidráulicos.

O estudo foi desenvolvido no Campo Experimental de Pacajus (CE), e teve como objetivo avaliar os custos e os benefícios da adoção do sistema na Região Nordeste, determinando a área máxima de capacidade do sistema e o desempenho hidráulico.

Segundo o pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Lindbergue Araújo Crisóstomo, “a utilização racional da energia eólica pode ajudar, principalmente, os pequenos produtores de frutas do Nordeste, utilizando um sistema de baixo custo de manutenção e não-poluente”.

O sistema de irrigação localizada estudado pela Embrapa permite uma aplicação freqüente de pequenas quantidades de água, que se ajusta à taxa de absorção de água pelas plantas cultivadas. A eficiência de aproveitamento de água ocorre em função de sua melhor condução e distribuição no sistema radicular.

Esse sistema consiste de um catavento do tipo convencional instalado sobre um poço com profundidade de 17m; uma bomba de pistão aspiro-premente para elevar a água e uma caixa dágua – que deve estar instalada a uma altura de seis metros. De acordo com Lindbergue, é necessário que exista uma fonte de água, que pode ser um poço, uma cacimba, um riacho ou um açude. Outra premissa básica para a instalação do sistema é que a propriedade esteja em uma região com ventos acima de 2,4m/s (como, por exemplo, a faixa litorânea do Nordeste), que é a velocidade mínima necessária para colocar o catavento em funcionamento.

Nos testes realizados em Pacajus, o sistema apresentou eficiência para pequenas áreas, dependendo da cultura (veja tabela). Na comparação com o sistema de bombeamento elétrico, a utilização do catavento apresenta um custo inicial maior. Mas, segundo Lindbergue, “a médio e longo prazos, o sistema de irrigação utilizando energia eólica apresenta vantagens, uma vez que não é preciso pagar pela fonte de energia (vento), a manutenção dos equipamentos também tem um custo menor, além de ser um sistema não poluidor do meio ambiente”.

O pesquisador acrescenta, ainda, que o sistema pode ser a solução para viabilizar o cultivo irrigado em regiões aonde não exista energia elétrica instalada. Lindbergue avalia que, para ampliar a utilização do sistema em pequenas propriedades, uma alternativa seria que houvesse um programa de financiamento de longo prazo para a compra e a instalação dos equipamentos. O projeto foi financiado pela Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (Funcap) e pela Embrapa Agroindústria Tropical.

Serviço:
Embrapa agroindústria Tropical
Contatos – (00xx85) 299-1907 ou teresa@cnpat.embrapa.br

Brasil responde apenas por 1,3% da produção mundial de borracha

Agência Brasil – Até a década de 50, o Brasil respondia por 90% da produção mundial de borracha natural. Hoje esse quadro se inverteu. O Brasil produz apenas 100 mil toneladas anuais, o que corresponde a 1,3% da produção mundial de 5,7 milhões de toneladas por ano. Malásia, China, Tailândia e Indonésia detêm 95% da produção mundial de borracha.

A engenheira agrônoma da Embrapa Solos, Ciríaca do Carmo, revelou que essa queda abrupta da produção nacional se deve principalmente à falta de políticas públicas para o setor de borracha, à globalização e ao elevado custo de produção, especialmente de pneumáticos, em relação a outros países. Isto, segundo ela, fruto da carga tributária vigente no país e da falta de política de preços.

Esses fatores levaram as empresas brasileiras a abandonar praticamente o cultivo de seringais, substituindo a borracha natural pelo produto sintético, do qual o Brasil é o principal produtor. O plantio na Amazônia foi prejudicado também pela doença conhecida como “mal das folhas”, lembrou a pesquisadora da Embrapa. Ela disse que o resultado desses problemas foi que o Brasil passou a importar cerca de 60% da borracha utilizada no país.

A Embrapa Solos, centro de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), está desenvolvendo projeto para revitalizar a cultura dos seringais no Brasil.

Alana Gandra

Alunos de Campinas aprendem arte indígena com Tun-Kô

Funai – O artista plástico, Antônio Carvalho Tun-kô, 63 anos, índio da etnia Gavião, está de malas prontas para Campinas (SP). Ele foi contratado pela direção da rede de ensino Vivendo e Aprendendo, que mantém escolas nas principais cidades do País, para ministrar aulas e palestras para os alunos, entre outros projetos. A IESCAMP (Instituto de Ensino Superior de Campinas), da mesma rede, também pretende realizar um trabalho de campo com Tun-kô, voltado para a arte indígena, contemplando os universitários.

Como defensor nato da fauna e da flora, o indígena, que mora em Brasília há vinte anos, trabalha com a divulgação da cultura de seu povo, com vistas à conservação do meio ambiente. Há seis anos começou a se dedicar às artes plásticas. Este ano, em abril, em comemoração à Semana do Índio, ele expôs uma série de obras no hall do Ministério da Educação (MEC).

O tema e o estilo das obras despertaram a atenção da diretora da rede de ensino Vivendo e Aprendendo, de Campinas (SP), Maria José Di Santos Navarro: “É necessário resgatar o passado, as nossas origens, mostrar para as crianças uma realidade bem brasileira, que está esquecida”, comentou a professora. Para isso, ela propôs ao artista Tun-Kô a construção de um espaço cultural, em um terreno da rede Vivendo e Aprendendo, para divulgação de trabalhos artísticos e em especial da cultura indígena.

Em 2002, Tun-Kô levou a exposição Esquecidos na História – Um povo Chamado Índio, à Eslováquia e aos brasilienses, no Espaço Cultural do Pátio Brasil, Colégio Mackenzie e na sede do Tribunal Regional Federal, em Brasília. O resultado da sua arte é fruto de diversas pesquisas realizadas nas diversas etnias do país.

Representação de animais, artesanatos, pinturas corporais e máscaras indígenas, em cores fortes, além da colagem de materiais da natureza, são as técnicas utilizadas por Tun-kô. Outra técnica interessante utilizada pelo artista é o uso do líquido extraído do urucum e jenipapo na produção das tintas. No entanto sua maior preocupação é a despreconceitualização da temática indígena: “Sempre procuro mostrar a cultura indígena aos não-índios e divulgar nossa tradição por meio de palestras e de aulas práticas”, resumiu Tun-kô.

Câncer: especialistas estudam as relações entre a doença e o meio-ambiente

Agência Brasil – Apesar de não haver comprovação científica sobre a relação entre o câncer e o meio-ambiente, os médicos dizem que há fortes evidências de que esses fatores estimulam o desenvolvimento de tumores malignos. Por isso, os pesquisadores querem desenvolver estudos conjuntos entre instituições de pesquisas, universidades e empresas. O primeiro encontro para a troca de conhecimentos acontece hoje e amanhã na sede do Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro.

As substâncias químicas usadas na agricultura para o controle de pragas, os “sprays” para matar mosquitos, os alimentos transgênicos e também o sedentarismo das pessoas estão na mira dos especialistas no tratamento do câncer.

O diretor do INCA, José Gomes Temporão, que abriu o I Fórum Multidisciplinar sobre Ciência, Meio Ambiente e Câncer, defendeu a realização de estudos sobre a relação de agentes ambientais com o câncer, pois acredita que este conjunto tem forte influência no desenvolvimento da doença. Segundo ele, “embora ainda não haja comprovação, há evidências, por exemplo, que a exposição ao sol, o contato com substâncias químicas no ambiente de trabalho, a falta de exercícios físicos, a auto-medicação e até os repelentes usados no corpo contra insetos estimulam o desenvolvimento de tumores malignos”.

Para Temporão, a realização deste fórum vai estimular, também, a articulação de novos projetos para orientar as políticas públicas para prevenção e controle do câncer. Além dos pesquisadores, também haverá a presença de membros da Fundação Oswaldo Cruz, Embrapa, Petrobrás e Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Cristiane Ribeiro

Gil anuncia recursos para o patrimônio histórico em Niterói

Agência Brasil – O ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciará, na próxima segunda-feira (28), a liberação de recursos para dois projetos de restauração do patrimônio histórico do município de Niterói, no Rio: o Palácio Araribóia e a Capela de São Pedro do Maruí. O anúncio será feito logo após a visita do ministro ao Caminho Niemeyer – conjunto arquitetônico voltado para o turismo na região – projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

O projeto de restauração do Palácio Araribóia, antiga sede da prefeitura e atual sede da Secretaria de Fazenda, consiste na recuperação de salões da ala lateral direita. A obra está orçada em R$ 397,17 mil. Segundo a Prefeitura de Niterói, o projeto já se encontra em fase de reforma com recursos da própria prefeitura e com verba repassada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – com base no Programa de Modernização da Administração Tributária.

O projeto de restauração da Capela São Pedro do Maruí tem valor aproximado de R$ 99,8 mil. A capela é parte integrante do Cemitério do Maruí, na zona norte da cidade.

Nielmar de Oliveira

Embrapa doará seringueiras a produtores no Rio de Janeiro

Agência Brasil – A Embrapa Solos, centro de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, está preparando mudas de seringueiras para doar aos produtores fluminenses, de modo a incentivar o plantio. A cultura produz o ano inteiro, durante 30 anos, contribuindo para a fixação do homem no campo. A pesquisadora da Embrapa Ciríaca do Carmo informa que 24% das terras fluminenses são aptas para o cultivo de seringueiras.

A Embrapa quer estimular a criação de associações de pequenos produtores que vejam a seringueira e seus produtos borracha e látex como produtos ambientais, diz a pesquisadora.

“A Embrapa quer mostrar ao produtor que essa é uma cultura rentável, que pode se adequar a áreas degradadas ou abandonadas. Uma pequena família pode cuidar de cinco hectares de seringueiras”, afirma Ciríaca do Carmo.

As áreas mais propícias para o plantio no estado do Rio foram identificadas no Vale do Paraíba do Sul, na divisa com Minas Gerais e em parte do noroeste fluminense, na fronteira com o Espírito Santo.

Alana Gandra

Começam os preparativos para o Kurup no Alto Xingu

Funai – É final da estação das chuvas em Mato Grosso. É época dos índios do Alto Xingu homenagearem os seus mortos. É hora do Kuarup, importante ritual realizado pelos índios Aweti, Kalapalo, Kamayurá, Kuikuro, Mehinako, Trumai, Yawalapiti e Waurá, que habitam a Região Sul do Parque Indígena do Xingu, conhecida como Alto Xingu.

O ritual Kuarup é realizado uma vez por ano, entre os meses de julho e setembro, e é marcado por prantos e lamentações, numa saudação dos índios a seus mortos ilustres, encerrando o período de luto. É quando os índios choram, pela última vez, a partida de seus entes queridos.

Este ano serão três aldeias que celebrarão o Kuarup. Na primeira, nos dias 17 e 18 de julho os Yawalapiti reverenciarão quatro pessoas, que não eram Yawalapiti, e sim, Kamayurá, casados com familiares das lideranças Yawalapiti, mortas durante o ano passado. Os Kamayurá realizarão o Kuarup nos dias 14 e 15 de agosto, onde o principal homenageado será Uakakumã, primo do cacique Takumã. Por último, os Kuikuro celebrarão os seus mortos, logo em seguida, nos dias 28 e 29. Também nesse Kuarup os homenageados serão índios Kamayurá, que há muito tempo moravam com os Kuikuro e eram casados com mulheres daquela aldeia.

Os Kamayurá serão, este ano, os únicos que, além dos familiares falecidos, homenagearão, também, um não-índio ilustre, Roberto Marinho, que foi, segundo suas lideranças, um jornalista muito importante para a cultura daquele e de outros povos indígenas, pelas reportagens e documentários realizados com temática indígena em suas emissoras de televisão.

Muito embora os Yawalapaiti não façam, este ano, homenagem a um “branco”, o seu cacique Aritana acha que é importante a homenagem que os Kamayurá farão a Roberto Marinho. De acordo com Aritana, “a Rede Globo mostrou bastante os outros Kuarup e isso fez com índios de outras etnias, principalmente Karajá e Bororo, o procurassem para dizer que ver o Kuarup na TV fez com que eles também começassem a recuperar a cultura que já estavam perdendo”.

Aritana espera que José Roberto Marinho, filho do empresário, e que já confirmou presença na homenagem dos índios do Xingu aos seus mortos, também traga algo de bom para os índios em geral, principalmente na preservação das culturas indígenas, porque elas são importantes na preservação do meio ambiente.

As origens do Kuarup

O Kuarup é uma manifestação cultural dos povos indígenas do Alto Xingu – Kalapalo, Matipu, Nafukuá, Kuikuro, Waurá, Aweti, Kamayurá, Meynako e Yawalapiti – e é a maior festa indígena do País. Ele acontece anualmente no Parque do Xingu, sempre no período de estiagem, e é a mais alta homenagem que esses índios prestam aos seus mortos importantes. Embora o Kuarup esteja ligado à cultura desses índios, normalmente são convidados para essa festa os índios do Médio e Baixo Xingu – Suyá, Ypeng (txicão), Trumai, Kayabi e Yudjá (Juruna). Essa festa fez com que muitos desses índios, outrora inimigos, convivam pacificamente no Parque do Xingu.

Para os índios que promovem a Kuarup, os mortos são representados por troncos, fincados no pátio da aldeia promotora da festa. Nos dias em que o Kuarup acontece, interdições são levantadas e permissões são outorgadas: quem quiser, pode se casar, a moça reclusa pode ser liberta, o luto dos parentes vai terminar e o status definitivo será afirmado àqueles cujo falecimento se vai honrar.

O Kuarup só se tornou nacional e internacionalmente conhecido, a partir de 1988, quando o cineasta Ruy Guerra produziu o filme Kuarup, filmado no Parque Indígena do Xingu, baseado no Romance Kuarup, de Antônio Callado.

Mitos – Segundo reza o mito dos índios do Alto Xingu, no início dos tempos, o Grande Pajé Mavutsinim, que residia no monte Morena, resolveu ressuscitar seis pessoas mortas. Com esse intuito, mandou que cortassem quatro troncos escuros, para os homens, e dois troncos claros, para as mulheres. Depois começou a prepará-los e, para transformá-los em mortos ressurretos, anunciou o tabu: ninguém poderia manter relações sexuais durante aquela noite.

O Grande Pajé Mavutsinim desejava fazer com que os troncos se transformassem em gente de novo. Tudo corria bem até que um índio desatento (que havia mantido relações sexuais com a esposa naquela noite, rompendo, assim, o tabu), chegou perto dos troncos que já estavam virando gente e eles voltaram a ser apenas troncos. Então, Mavutsinim se irritou e disse que não mais tentaria o renascimento do corpo; agora, ele só faria a ressurreição da alma. Acreditam os índios que, graças ao Kuarup, as almas dos mortos, que inicialmente estão presas à floresta ou ao rio, são libertas e podem viver noutro mundo e sob outra forma.

Dos preparativos

O Kuarup é realizado sempre na aldeia do morto e a família deste é a anfitriã da festa e a encarrega de prover a alimentação para as aldeias convidadas. Por isso, quando morre algum membro de uma aldeia, os seus parentes precisam se organizar, pois a realização do ritual exige um grande incremento na produção de alimentos.

O ritual é realizado durante dois dias. Várias atividades são executadas nos dias que o precedem; a preparação dos alimentos derivados da mandioca, a busca dos troncos e o preparo dos ornamentos que vão, no ápice da festa, enfeita-los. Nos primeiros momentos da festa, tocadores de flautas uruá cantam e dançam aos pares, percorrendo todas as casas da aldeia. Os pajés fazem suas rezas aos mortos sepultados no pátio da aldeia. Os mensageiros pariat saem convidando outras aldeias. Os troncos são enfeitados numa cerimônia que é acompanhada por choros e lamentações, que se estendem por toda a noite.

Ao final do segundo dia o Kuarup termina, com uma luta de huka-huka. Os troncos são retirados e jogados no rio ou no lago. Durante a noite de lamentações todos os lutadores ficam acordados; eles temem dormir e ter maus sonhos. Acreditam que isso irá atrapalhar o bom desempenho na luta do dia seguinte, que começa com o raiar do sol.

Funai promove oficinas sobre jovens indígenas em situação de risco social

Funai – A Fundação Nacional do Índio (Funai) quer saber quais as perspectivas que os jovens indígenas têm sobre o futuro, quer conhecer os motivos de suas alegrias e tristezas, seus heróis e vilões e contribuir para a busca da implementação de projetos e ações educativas e de assistência social que garantam a esses jovens o acesso a direitos sociais básicos. É com essa meta que a educadora social, Helena de Biase, responsável pela ação do programa da Funai intitulado Apoio a Jovens Indígenas em Situação de Risco Social, e a coordenadora substituta de Educação da Fundação, Neide Siqueira, iniciam, quarta-feira (23), uma série de oficinas em aldeias dos estados de Mato Grosso, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Bahia e Pará.

A primeira oficina será realizada no município de General Carneiro (MT), na aldeia Guadalupe. A expectativa é reunir 150 jovens Xavante. Nos três dias de atividades serão discutidos temas como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), futuro, prevenção de doenças, em especial, DST/Aids, drogas e valorização da cultura.

O projeto vai atingir jovens de etnias como Tikuna, Guarani, Pataxó, Xavante e Kaingangue e também deverá ser levado a outras aldeias. Dados da Funai indicam que perto de 60% dos 410 mil índios, ou seja, 246 mil são jovens com idades entre 12 e 25 anos.

“O resultado final dessas atividades será fundamental para que a Funai consiga traçar uma política adequada de atendimento aos jovens indígenas, bem como buscar parceria com os Conselhos Tutelares”, explica Neide Siqueira. Entre os principais problemas enfrentados por essa população, a professora destaca situações de risco e conflitos de vários tipos causados em função do pós-contato com a sociedade não índia, e a falta de perspectiva com relação à formação e à vida adulta. Segundo Neide, as comunidades indígenas vêm sofrendo as conseqüências das frentes de expansão da sociedade nacional, cada vez mais próximas de seus territórios. “Com isso, os indígenas precisam buscar novas respostas para a sobrevivência física e cultural, de forma a garantir às próximas gerações melhor qualidade de vida. Dentro desse contexto, essas comunidades ainda não estão com os direitos sociais básicos garantidos”, observa.

Fóruns

Além dos encontros nas aldeias, com discussões sobre os problemas enfrentados pelos jovens indígenas, serão desenvolvidos trabalhos em grupos e levantamentos de propostas e soluções, sob o ponto de vista da ação da Funai, prevista no Plano Plurianual de Governo (PPA/2004/2007), que inclui a instalação de fóruns de discussão com jovens indígenas que residem fora das aldeias.

O objetivo do programa de fóruns é fazer com que os jovens tornem-se multiplicadores do processo, divulgando seus direitos e promovendo a participação das famílias em situação de risco na construção de propostas locais.

A expectativa é no sentido de que essas iniciativas influenciem a implementação de políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades dessas comunidades, respeitando seus interesses e a diversidade étnica.

Os fóruns de jovens indígenas terão início em julho, em Manaus, e prosseguem até novembro nas cidades de Barra do Garças (MT), Dourados (MS) e Tabatinga (AM).