Produtores indígenas eliminam atravessadores e vendem produtos pela internet

Brasília – A comunidade indígena Pamaáli, localizada no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), produz um tipo de cesta de fibra natural comercializada em todo o Brasil. Poucos sabem, no entanto, que os fabricantes da cesta recebiam apenas R$ 1, enquanto a cesta era vendida por R$ 60 nos grandes centros urbanos.

Hoje isso não acontece mais. Eles estão conectados à rede mundial de informações através de pontos de presença (PP) do Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), programa do Ministério das Comunicações. "Com o Gesac essa comunidade começou a descobrir o valor de sua mercadoria e o atravessador desapareceu da vida da comunidade, fazendo com que a diferença ficasse com a comunidade", conta o diretor de inclusão digital do Ministério das Comunicações, Antônio Albuquerque Neto.

Presente em comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano, o programa Gesac fornece conexão à internet, em alta velocidade e via satélite, e já atende a 4 milhões de pessoas em 3.200 pontos de presença espalhados pelo país. Segundo Antônio Albuquerque, outros 1.200 pontos serão incorporados ao programa até dezembro, ampliando o número de pontos de presença para 4.400 ainda este ano.

Dos pontos de presença, 75% ou 2.400 estão instalados em escolas municipais e estaduais, 400 em postos militares, 100 no Programa Fome Zero e 300 em associações, sindicatos, organizações não-governamentais (ONGs) e telecentros. São mais de 18 mil computadores conectados. Dessas máquinas, 4.500 adotam o software livre, número que, segundo Albuquerque, deve chegar a 11 mil até o final do ano.

Ele explica que o custo total do programa Gesac, para um período de 30 meses, é de R$ 110 milhões. Desse total, R$ 12 milhões foram investidos na compra de softwares livres. "É a maior compra de serviços em software livre do governo federal até o momento em toda a história desse país", explica Antônio Albuquerque.

Justiça Federal interdita “a maior área grilada do Brasil”

O Ministério Público Federal (MPF) no Pará entrou com uma Ação Civil Pública (ACP)em 18 de abril para impedir que a criação da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio, localizada na região da chamada Terra do Meio, no sudoeste do Pará, resultasse no pagamento pelo Ibama de indenização – a título de desapropriação – à uma empresa que alega ser dona de metade da área incluída na reserva. A notícia foi dada em primeira mão pelo Instituto Socioambiental (ISA). No último dia 12 de agosto, finalmente, a Justiça Federal em Santarém respondeu de forma positiva ao pedido dos procuradores da República. Para o MPF, a resposta da Justiça abre o último capítulo da novela de um dos casos de grilagem de terra mais famosos da história do País.

Em decisão liminar, o juiz federal substituto Fabiano Verli ordenou que a empresa Incenxil – do grupo CR Almeida, pertencente ao empreiteiro paranaense Cecílio Rego de Almeida – interrompesse qualquer atividade ou ocupação na suposta propriedade, chamada fazenda Curuá, que o imóvel permanecesse indisponível para venda ou troca e que qualquer pagamento por indenização pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fosse suspenso. A liminar ainda determina o fim da utilização de forças policiais por parte da empresa, conforme denúncias feitas por comunidades ribeirinhas e movimentos sociais da região em janeiro deste ano, também divulgadas pelo Instituto Socioambiental com exclusividade.

Na próxima segunda-feira, 22 de agosto, os procuradores Felício Pontes e Ubiratan Cazetta, dois dos autores da Ação Civil Pública que ensejou a liminar, devem ser reunir em Belém com membros do Exército e da Polícia Federal para planejar uma operação conjunta sobre os mais de 4.7 milhões de hectares da “fazenda Curuá” com o objetivo de retirar todos os funcionários e instalações da empresa. “Nossa preocupação agora é limpar a área”, afirma Felício Pontes.

O procurador acredita que a Incenxil deve entrar com recurso no Tribunal Regional Federal em Brasília para tentar derrubar a liminar, mas está confiante de que a decisão será confirmada em segunda instância. Pontes e seus colegas já vislumbram inclusive o fim da disputa judicial entre órgãos públicos do Pará e da União contra a Incenxil, que se arrasta há mais de uma década. “O pontapé final para esta novela acabar será a publicação de sentença, a partir da avaliação de um pedido final do Ministério Público, confirmando a nulidade do registro do imóvel em todos os cartórios do Pará”, projeta o procurador.

A chamada fazenda Curuá – além de incidir praticamente sobre metade dos 736 mil hectares da Resex Riozinho do Anfrísio, criada em novembro pelo governo federal – também está sobreposta a toda a extensão das Terras Indígenas Xypaia e Curuaya, toda a área da Floresta Nacional de Altamira, 82% da Terra Indígena Baú, do povo Kayapó, e toda a gleba de dois assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Na Ação Civil Pública que deu origem à liminar os procuradores afirmam que “esse imóvel é reconhecido como a maior área grilada do Brasil”.

Real objeto: comprar terras no Pará

O juiz federal Fabiano Verli, de acordo com sua decisão publicada na sexta-feira passada, parece suspeitar do mesmo. Ao fundamentá-la, Verli escreve que “pairam fortíssimas suspeitas de que ela (Incenxil) tenha indevidamente se considerado dona de uma enorme gleba de terras no Pará”. O juiz também remete a suspeita à origem do caso, quando coloca que “uma área que era pequena e do Estado do Pará, arrendada para extrativismo, depois se transformou num colosso de terras…”.

O juiz ainda aponta irregularidades no registro do imóvel nos cartórios de Altamira: “…vejo erros crassos na condução da função notarial por parte da cartorária Eugênia (denunciada em alguns feitos). Ela parecia averbar tudo sem o mínimo de conferência…parecia permitir a multiplicação de áreas sem qualquer critério, sem nenhuma checagem…”.

Um dos trechos mais interessantes da decisão trata do interrogatório de Roberto Beltrão, que seria o representante da Incenxil na região, pelo juiz. Fabiano Verli escreve que Beltrão lhe disse “não conhecer atividades práticas, reais, que sejam objeto social da Incenxil. Admitiu que, na prática, a empresa foi criada com um único real objeto: comprar terras no Pará”.

O suposto funcionário foi além e declarou em juízo que “não tem notícia de onde seria a sede da empresa, nunca viu seus sócios, não tem idéia de qual seria o objeto social, não conhecia outros bens eventualmente de propriedade da Incenxil, nem tinha informações diretas sobre sua atuação, funcionamento e idoneidade de seus sócios”.

A colheita de depoimentos de pessoas diretamente envolvidas no caso foi uma opção do magistrado Verli. Ele ouviu também o representante do Ibama na região e advogados da empresa. A demora em decidir sobre a medidas pedidas na ACP – quase quatro meses – se deu em parte por esta opção, em parte pela atuação dos defensores da Incenxil, que protocolaram mais de 10 volumes de documentos – com a intenção de invalidar a ação – para serem estudados em detalhe.

“Ainda que demorada, a decisão judicial satisfez plenamente o Ministério Público Federal, pois demonstra que a Justiça Federal está sensível à questão da grilagem de terras”, avalia Felício Pontes. “Os juízes parecem compreender, mais do que nunca, que a violência dos conflitos fundiários na Amazônia é um grave problema e que medidas drásticas devem ser tomadas para a conciliação do desenvolvimento das comunidades ribeirinhas com a preservação ambiental”.

Brasil e China assinam acordo de cooperação ambiental

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone, e o vice-ministro da Administração da Proteção Ambiental da China, Zhu Guangyao (foto), assinaram, hoje, um acordo para cooperação ambiental entre os dois países. As áreas prioritárias para troca de informações sobre políticas e tecnologias são manejo de parques e reservas, florestas, qualidade da água, energias renováveis, legislação, educação ambiental e proteção do ambiente marinho.

Até o fim do ano, um representante do MMA deve ir à China para um intercâmbio de experiências na área florestal.

Durante a reunião, em Brasília (DF), Langone explicou ao vice-ministro chinês os esforços que o Ministério vem desenvolvendo para que as questões ambientais sejam avaliadas ainda no planejamento de obras de infra-estrutura e geração de energia, por exemplo. Os resultados já podem ser avaliados no novo modelo do Setor Elétrico e nas licitações da área de petróleo e gás.

O secretário também informou Guangyao quanto as estratégias para preservação dos recursos naturais, criação de parques e reservas, avaliação de impactos por bacias hidrográficas e mudanças climáticas. Conforme Langone, a entrada em vigor do Protocolo de Quioto, em fevereiro, trouxe uma série de oportunidades para ambas as nações. "É fundamental que países megadiversos, como Brasil, China e Índia, dialoguem mais sobre os compromissos e possibilidades do protocolo", disse.

Questionado sobre o acordo paralelo ao Protocolo de Quioto assinado por China, Estados Unidos, Austrália, Índia, Coréia do Sul e Japão, Guangyao disse que a iniciativa vai ao encontro dos objetivos da Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. "O acordo não substitui Quioto. Faremos novos acordos com outras nações para reduzir nossas emissões", disse. Os Estados Unidos e os cinco países asiáticos são responsáveis por cerca de metade das emissões de gases de efeito estufa do mundo.

O vice-ministro chinês afirmou que seu país está em pior situação ambiental do que o Brasil. Segundo ele, 60% dos rios estão poluídos, há muito desmatamento, poluição, elevado consumo de energia e de recursos naturais. "A indústria do aço consome 21% mais energia do que a média mundial", disse. "O futuro preocupa, já que, até 2020, a China deverá ter 1,46 bilhão de habitantes".

Entre as medidas que aquele país está adotando para reverter este quadro, conforme Guangyao, está uma ampla revisão da legislação ambiental, pesquisas, zoneamentos ecológico-econômicos, projetos piloto de desenvolvimento sustentável em cidades e vilarejos e a criação de parques e reservas. "A área protegida na China saltou de 5,7%, em 1992, para os atuais 12,8% do território", disse.

A delegação chinesa também visitará o Ibama, a Agência Nacional de Águas (ANA), a Hidrelétrica de Itaipu e o Parque Nacional do Iguaçu.

Sociedade civil reivindica ao Ibama acesso público a dados sobre desmatamentos e licenças

O Grupo de Trabalho (GT) de Florestas do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS) enviou ontem, dia 16 de agosto, uma carta ao presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcus Barros, requerendo a disponibilização via Internet das informações sobre desmatamentos, multas e licenças ambientais na Amazônia (confira abaixo a íntegra do texto). O documento lembra que a impunidade e a falta de transparência são, hoje, os dois principais fatores que contribuem para os índices alarmantes de desmatamento na região, conforme os resultados do estudo "Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais do Estado do Mato Grosso: análise de lições na sua implementação". A pesquisa foi realizada pelo ISA para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e apresentada durante I Fórum de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Mato Grosso, realizado em Cuiabá, de 3 a 5 de agosto.

A carta avalia que é fundamental que todos os segmentos sociais interessados possam acessar os dados sobre o problema de forma ágil. "Tais informações são de extrema valia para que a sociedade brasileira, cada vez mais interessada no efetivo controle aos desmatamentos na Amazônia legal, possa aferir o grau de eficiência e de eficácia nas ações de controle ambiental desempenhadas pelo maior e mais importante órgão ambiental brasileiro", diz o texto. O GT lembra ainda as organizações do FBOMS vêm cobrando já algum tempo do Ibama o acesso a informações sobre desmatamentos, sanções administrativas e autorizações para desmates, queimadas e outras atividades realizadas em áreas de floresta.

O encaminhamento do documento ao Ibama faz parte das ações do GT de monitoramento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado pelo presidente Lula, em 15 de março de 2004. O governo deve pronunciar-se sobre o assunto na próxima reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que ocorrerá em Cuiabá, no dia 2 de setembro. Na última segunda-feira, dia 15, o grupo protocolou na Casa Civil da Presidência da República uma outra carta, encaminhada à ministra-chefe Dilma Rousseff, com uma série de críticas sobre a implementação do plano. O GT considera que as ações do governo contra o desmatamento ainda são "esporádicas e demonstrativas". Desde o dia 7 de julho, as entidades integrantes do FBOMS aguardam uma resposta para um pedido de audiência com a ministra.

FBOMS avalia que governo não cumpre Plano de Combate ao Desmatamento

O Grupo de Trabalho (GT) de Florestas do Fórum Brasileiro de Movimentos Sociais e ONGs para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento enviou hoje, dia 15 de agosto, à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, uma carta com uma análise crítica das ações do governo federal no âmbito do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado pelo presidente Lula, em 15 de março de 2004 (confira a íntegra do texto). Para o GT, as iniciativas da administração federal para o setor não podem limitar-se a intervenções "esporádicas e demonstrativas". As 22 entidades que compõem o grupo, entre elas o ISA, aguardam, desde o dia 7 de julho, por uma resposta da ministra a um pedido de audiência.

Quando veio a público, o Plano foi anunciado como uma solução inovadora e emergencial para os altos índices de desmatamento registrados na Amazônia – entre 2003 e 2004, 26 mil quilômetros quadrados de floresta desapareceram. Uma das novidades da iniciativa seria justamente o espaço dado às organizações da sociedade civil para discutir, acompanhar e fazer a avaliação estratégica do andamento das ações do Plano. Tal avaliação não foi feita até hoje. (Para conhecer o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, clique aqui)

“Decorridos 17 meses de seu lançamento, é possível afirmar que o Plano, formulado de acordo com uma estrutura que continha quatro componentes, está sendo implementado de forma tão limitada e parcial que acaba esvaziando seu desenho e estratégia originais”, afirma o documento. O texto aponta a “grave preocupação” do GT com o processo de implementação observado até agora dos componentes do Plano: obras de infra-estrutura, ordenamento fundiário e territorial, monitoramento e controle, e fomento a atividades sustentáveis.

Entre outros pontos, a carta lista o contingenciamento e a falta de recursos orçamentários, a ausência de determinação política para fazer cumprir a legislação e a desarticulação administrativa entre os ministérios envolvidos como causas para o baixo índice de execução das ações. As organizações do GT também consideram que Dilma Roussef não deixou de atender o grupo “por desinteresse em relação à interlocução com a sociedade civil, e sim, mais provavelmente, pela baixa prioridade que este tema representa na intensa agenda operacional” da ministra.

No dia 2 de setembro, acontece uma reunião extraordinária do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em Cuiabá (MT), atendendo um requerimento das organizações não-governamentais apresentado pelo ISA (saiba mais). A expectativa é que o governo federal deverá finalmente apresentar sua avaliação sobre o Plano e os governos estaduais relatarão o que estão fazendo para reduzir os desmatamentos na Amazônia Legal.

Depois de dois anos, índios Javaés são avisados de que pedido de demarcação havia sido rejeitado

Brasília – Vinte lideranças do povo Javaé estiveram hoje (9) em Brasília pra reunir-se com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes. Em pauta, a homologação das terras em que vivem, na Ilha do Bananal, em Tocantins.

Após duas horas de reunião, a Funai descobriu que o pedido de demarcação da área, que já havia sido feito há dois anos, chegou a ir ao Ministério da Justiça, onde foi rejeitado. O pedido estava novamente na Funai.

Segundo Saulo Feitosa, vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o processo está parado desde 2003 porque a Unidade de Conservação do Parque Nacional Araguaia foi criada em sobreposição à terra indígena Iñawébohona, onde os Javaés residem. A área de conservação foi criada durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek.

O Cimi afirmou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está colocando em risco a sobrevivência física e cultural do povo indígena, uma vez que eles foram proibidos de caçar, pescar e colher palha para construção de casas. "Com a construção da área de preservação ambiental, a terra também não pôde fazer parte do programa Luz para Todos e conseqüentemente o poço artesiano que havia sido construído para facilitar o acesso à água potável não tem como ser utilizado", afirmou Saulo.

O líder da tribo Javaé, Paulo Huruka, disse não entender o motivo pelo qual suas terras não são reconhecidas. "Sempre moramos aqui, essa reserva foi criada depois da nossa chegada. Estamos perdendo nossa cultura porque nessa época realizamos a brincadeira de Aruanã, que é uma tradição da tribo, e ao invés de estarmos lá estamos em Brasília brigando por um direito que é nosso".

O diretor de Ecossistemas do Ibama, Valmir Ortega, informou que a obrigação do Instituto é seguir a legislação no que diz respeito à extração de recursos naturais das reservas ambientais. "Onde existem os parques nacionais pressupomos que não há ocupação humana, mas se essa reivindicação tem uma base material que justifique o direito aos indígenas, cabe a Funai reconhecer".

De acordo com Valmir, esse processo de regularização das terras já está em andamento. "Hoje existem alguns indígenas ocupando uma área do parque ilegalmente, mas já estamos em negociação com a Funai para regularizar as terras de forma a conservar o meio ambiente e o direito dos índios de terem seu memorial", afirmou.

Expedição desvenda região inóspita do Parque Tumucumaque

Uma equipe composta por representantes do Ibama, do WWF-Brasil, dos índios Wajãpi e de moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru iniciou na quarta-feira 3, uma expedição de três semanas pelo médio e alto curso do rio Jari, dentro do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), a maior área protegida em faixa tropical do mundo.  Uma equipe de apoio à expedição, que havia iniciado a subida pelo rio Jari no último dia 23 de julho, chegou no dia 2 passado à aldeia Mukuru, na Terra Indígena Wajãpi. Deste ponto, a expedição parte rio acima, iniciando a incursão dentro do parque nacional.

A expedição planeja obter informações sobre a geomorfologia da região, identificar eventuais invasões, especialmente de garimpeiros, e coletar amostras de água do Jari e de alguns de seus tributários para verificar se há contaminação decorrente de atividade garimpeira.  Essas informações serão utilizadas na elaboração do plano de manejo do parque, documento que, como o nome indica, define o planejamento da conservação e das demais atividades permitidas em seu interior, como o ecoturismo, e as condições em que se darão.

Fronteira natural entre os estados do Amapá e Pará, o rio Jari é a principal via de penetração a uma das regiões mais remotas da Amazônia, que até a década de 1960 era controlada por povos indígenas da região.  Segundo informações de Christoph Jaster, chefe do PNMT, esse pedaço do rio Jari foi percorrido até seu alto curso apenas por índios e, possivelmente, por garimpeiros.

A exceção foi a passagem de uma expedição enviada pela Alemanha nazista que, com o apoio do governo brasileiro, percorreu o Jari e alguns afluentes entre 1935 e 1937, coletando informações sobre fauna, flora e culturas indígenas.  Essa viagem resultou no livro "Mistérios da caverna na floresta virgem"  (Rätsel der Urwaldhölle, no original em alemão), escrito por Schulz-Kamphenkel, que descreve detalhes da incursão por esse inóspito pedaço da Amazônia brasileira.

ndios farão campanha pela demarcação de terra em Santa Catarina

Líderes dos índios Guarani e representantes de movimentos sociais, igrejas, escolas e universidades lançam terça-feira (9) campanha pela demarcação da Terra Indígena Morro dos Cavalos, no município de Palhoça, em Santa Catarina. A área é de 1.998 hectares e tem 31 quilômetros de perímetro.

Na campanha, será feita uma convocação à sociedade para que envie mensagens ao ministro da Justiça pedindo a assinatura imediata da Portaria Declaratória da Terra Indígena Morro dos Cavalos.

O prazo para que o Ministério da Justiça publique a portaria declaratória de uma terra indígena é de 30 dias após o recebimento do processo administrativo da Fundação Nacional do Índio (Funai). No caso de Morro dos Cavalos, o prazo já foi ultrapassado em 21 meses, apesar de todas as etapas do processo terem sido concluídas, inclusive com pareceres favoráveis da Funai e dos consultores jurídicos do Ministério da Justiça.

Os espaços prioritários para divulgar a campanha serão escolas e universidades, movimentos sociais e eclesiásticos. Conforme destacou Werá Tupã, liderança da aldeia, "num primeiro momento vamos fazer chegar cartas e documentos ao Ministro, se ele não atender temos que pensar em ações mais enérgicas para fazer com que ele cumpra a lei".

A demarcação da terra não acontece por causa das pressões políticas exercidas pelos setores contrários às demarcações. Nesse caso, a pressão vem especialmente do governo do estado de Santa Catarina, onde todos os processos de demarcação de terra estão paralisados. Em 2005, nenhum Grupo Técnico foi criado no Brasil para identificação de terras indígenas.

Essa situação é agravada pelas precárias condições vividas pela comunidade indígena, que sequer tem espaço para plantar e é obrigada a sobreviver de doações. O local impróprio utilizado atualmente pela comunidade gera muita insegurança e apreensão, pois a rodovia BR 101 passa a pouco mais de 30 metros da escola da aldeia. Em 10 de julho, três crianças Guarani foram atropeladas nas imediações da escola por um carro desgovernado.

Grupo do governo tenta acordo com comunidade

Desde o primeiro deslocamento de comunidades quilombolas do município de Alcântara, por causa da criação da Base Espacial, já se passaram 20 anos. Há um ano, o Grupo Executivo Interministerial (GEI) para o Desenvolvimento Sustentável de Alcântara – criado em agosto de 2004 por meio de decreto – elabora um conjunto de medidas que deve implantar políticas públicas para a população da cidade, respeitando o território étnico das 152 comunidades que se definem como negras, sem, contudo, interromper os avanços do programa espacial brasileiro.

O GEI, composto por representantes de 23 órgãos federais sob a coordenação da Casa Civil, definiu 71 ações que pretendem resolver os problemas fundiários da região, além de saúde, educação, transporte, saneamento básico, geração de emprego e estímulo ao turismo. A previsão é que sejam investidos cerca de R$ 17 milhões em 2005 e quase R$ 10 milhões em 2006 no município.

Para implementar o plano, o grupo fez um acordo de cooperação técnica que deverá ser assinado por todos os ministérios e secretarias envolvidos no processo. Além de descrever o cronograma de ações, o documento prevê a criação do Comitê Executivo Nacional e o Comitê Gestor Local que vão fiscalizar a execução do plano. O primeiro será coordenado pela Casa Civil, composto por representantes dos órgãos federais, e deverá se reunir pelo menos uma vez a cada dois meses. O segundo comitê terá representantes dos órgãos federais e dos governos estaduais e municipais, se reunirá uma vez ao mês e deverá realizar audiência pública para discutir o andamento das ações a cada dois meses. Os dois órgãos deverão trocar informações constantemente.

Segundo o coordenador do GEI, Adelmar Tôrres, a idéia é que líderes comunitários de Alcântara também assinem o acordo, "mas há resistência por parte da população". No último dia 30, representantes da Casa Civil se encontraram com lideranças, organizações sociais, vereadores e a prefeita de Alcântara para chegar a um consenso. No entanto, a sociedade quer a inclusão de termos no acordo que garantam a permanência das famílias nos locais de origem – em especial quilombolas, que ali estão desde pelo menos 1755 -, a não expansão da área do programa espacial e a participação nos comitês fiscalizadores.

Tôrres considera as preocupações da população "legítimas" porque não é a primeira vez que o governo promete ajuda para a região. Em 1982, foi feito um acordo com a Aeronáutica, assinado e registrado em cartório, que não se cumpriu. "O governo não precisa fazer acordo para fazer política pública, é da sua natureza. Já devia ter feito. Está atrasado. No passado, eles (lideranças locais) também fizeram acordo em que o governo se comprometeu a melhorar a situação social da região. Esse acordo não foi cumprido. Eles têm receio de assinar novamente um acordo e não se traduzir em realidade. Esse receio é legítimo". O grupo tem até o dia 31 de agosto para firmar o acordo de cooperação técnica, conforme informou o coordenador.

Ele acredita que o acordo é um instrumento social que pode "reforçar" a necessidade e obrigatoriedade das ações junto ao governo. Se assinado pela população – ou ao menos testemunhado – ele teria ainda mais peso.

Tôrres acrescentou: "O governo nunca deu atenção focada, permanente a questão dos quilombolas. Não deu muita satisfação do que ocorreu no passado ao deslocar populações para instalar a Base Aérea de Alcântara na década de 70 e 80. Causou traumas que até hoje precisam ser cicatrizados".

No início dos anos 80, com a construção do Centro de Lançamento de Foguetes Espaciais de Alcântara, parte da população da cidade, a maioria remanescente de quilombos, foi levada para agrovilas. O deslocamento alterou a rotina do povo que vive da pesca e do artesanato. Provocou, entre outras coisas, inchaço na periferia da cidade e pôs as pessoas em situação de risco.

As reivindicações da sociedade, já reunidas pelo GEI, vão ser analisadas na próxima reunião do grupo, na sexta-feira, 5 de agosto.

Ibama não confirma denúncia do Incra de construção de hidrelétrica na Amazônia

Manaus – O chefe de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas, Adilson Cordeiro, afirmou que os fiscais da Operação Uiraçu não encontraram obras para a construção de uma usina hidrelétrica no Rio Ituxi, em Lábrea.

"A gente já havia estado na região, há um mês, e não ouvimos rumores da construção. Com a denúncia do Incra, voltamos ao sul de Lábrea na semana passada e fomos o local indicado, mas não encontramos qualquer irregularidade", disse Cordeiro.

A Uiraçu, coordenada pelo Ibama, começou há 60 dias, com o objetivo de combater o desmatamento no sul do estado. Os 56 agentes participantes percorrerão até novembro 12 municípios do sul estado: Lábrea, Guajará, Ipixuna, Eirunepé, Envira, Pauini, Boca do Acre, Canutama, Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã e Apuí.

No último dia 15, a Agência Brasil publicou a denúncia do superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), João Pedro Gonçalves da Costa, de que uma usina hidrelétrica estava sendo construída no local. Técnicos do Incra, durante uma entrevista coletiva, apresentaram fotos da área, que mostravam a movimentação de grandes caminhões. Na ocasião, relataram que um engenheiro que trabalhava para o grupo Cassol disse que planejava dinamitar as três cachoeiras do rio Ituxi.

A reportagem ouviu também Carlos Henrique Alves, dono da fazenda onde se localizam as cachoeiras e o assessor político do governador de Rondônia, Ivo Cassol, um dos proprietários do Grupo Cassol. Ele afirmou que o grupo Cassol estava apenas fazendo estudos para a construção de uma hidrelétrica.

No último dia 18, a Agência Brasil apurou que o Grupo Cassol não possui autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para realizar o inventário hidrelétrico do rio Ituxi. No mesmo dia, foi publicada também uma entrevista com o próprio Cassol, na qual ele justificava que os estudos ainda estavam em fase preliminar e chamava o superintendente do Incra de mentiroso.

João Pedro Gonçalves da Costa sustenta a denúncia. "Eu quebro meu sigilo telefônico se for preciso para mostrar que o próprio governador de Rondônia me ligou dizendo que pretendia construir a hidrelétrica e que os estudos estavam em fase preliminar. Nós não inventamos nada, eu estive lá. Foram os trabalhadores do local que disseram que estavam fazendo levantamentos topográficos. Eles mudaram o curso do ramal para isso. Ninguém muda uma estada só para fazer estudos", afirmou o superintendente.