Organização dos Estados Americanos determina suspensão imediata de Belo Monte

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) solicitou oficialmente que o governo brasileiro suspenda imediatamente o processo de licenciamento e construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, no Pará, citando o potencial prejuízo da construção da obra aos direitos das comunidades tradicionais da bacia do rio Xingu.

 

De acordo com a CIDH, o governo deve cumprir a obrigação de realizar processos de consulta “prévia, livre, informada, de boa-fé e culturalmente adequada”, com cada uma das comunidades indígenas afetadas antes da construção da usina. O Itamaraty recebeu prazo de quinze dias para informar à OEA sobre o cumprimento da determinação.

A decisão da CIDH é uma resposta à denúncia encaminhada em novembro de 2010 em nome de varias comunidades tradicionais da bacia do Xingu pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre (MXVPS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Prelazia do Xingu, Conselho Indígena Missionário (Cimi), Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Justiça Global e Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (AIDA). De acordo com a denúncia, as comunidades indígenas e ribeirinhas da região não foram consultadas de forma apropriada sobre o projeto que, caso seja levado adiante, vai causar impactos socioambientais irreversíveis, forçar o deslocamento de milhares de pessoas e ameaçar uma das regiões de maior valor para a conservação da biodiversidade na Amazônia.

“Ao reconhecer os direitos dos povos indígenas à consulta prévia e informada, a CIDH está determinando que o governo brasileiro paralise o processo de construção de Belo Monte e garanta o direito de decidir dos indígenas”, disse Roberta Amanajás, advogada da SDDH. “Dessa forma, a continuidade da obra sem a realização das oitivas indígenas se constituirá em descumprimento da determinação da CIDH e violação ao direito internacional e o governo brasileiro poderá ser responsabilizado internacionalmente pelos impactos negativos causados pelo empreendimento”.

A CIDH também determina ao Brasil que adote medidas vigorosas e abrangentes para proteger a vida e integridade pessoal dos povos indígenas isolados na bacia do Xingu, além de medidas para prevenir a disseminação de doenças e epidemias entre as comunidades tradicionais afetadas pela obra.

“A decisão da CIDH deixa claro que as decisões ditatoriais do governo brasileiro e da Justiça, em busca de um desenvolvimento a qualquer custo, constituem uma afronta às leis do país e aos direitos humanos das populações tradicionais locais”, disse Antonia Melo, coordenadora do MXVPS. “Nossos líderes não podem mais usar o desenvolvimento econômico como desculpa para ignorar os direitos humanos e empurrar goela abaixo projetos de destruição e morte  dos nossos recursos naturais, dos povos  do Xingu e da Amazônia, como é o caso da hidrelétrica de Belo Monte”.

“A decisão da OEA é um alerta para o governo e um chamado para que toda a sociedade brasileira discuta amplamente este modelo de desenvolvimento autoritário e altamente predatório que está sendo implementado no Brasil”, afirma Andressa Caldas, diretora da Justiça Global. Andressa lembra exemplos de violações de direitos causados por outras grandes obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento do governo. “São muitos casos de remoções forçadas de famílias que nunca foram indenizadas, em que há graves impactos ambientais, desestruturação social das comunidades, aumento da violência no entorno dos canteiros de obras e péssimas condições de trabalho”.

Críticas ao projeto não vêm apenas da sociedade civil organizada e das comunidades locais, mas também de cientistas, pesquisadores, instituições do governo e personalidades internacionais. O Ministério Público Federal no Pará, sozinho, impetrou 10 ações judiciais contra o projeto, que ainda não foram julgadas definitivamente.

“Estou muito comovida com esta notícia”, disse Sheyla Juruna, liderança indígena da comunidade Juruna do km 17, de Altamira. “Hoje, mais do que nunca, tenho certeza que estamos certos em denunciar o governo e a justiça brasileira pelas  violações contra os direitos dos povos indígenas do Xingu e de todos que estão juntos nesta luta em defesa da vida e do meio ambiente. Continuaremos firmes e resistentes nesta luta contra a implantação do Complexo de Belo Monte”.

A decisão da CIDH determinando a paralisação imediata do processo de licenciamento e construção de Belo Monte está respaldada na Convenção Americana de Direitos Humanos, na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Declaração da ONU sobre Direitos Indígenas, na Convenção sobre Biodiversidade (CBD) e na própria Constituição Federal brasileira (Artigo 231).

Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo a primeira Copa verde

Agora é oficial: a Copa do Mundo de 2014 será realizada no Brasil, segundo anúncio feito nesta terça-feira na sede da Fifa em Zurique, na Suíça. E a grande festa do futebol será uma excelente vitrine para o país mostrar ao mundo que é possível promover o desenvolvimento sustentável, preservando a floresta amazônica e beneficiando as comunidades da região.

Manaus é uma das cidades candidatas a ser uma das sedes do evento no Brasil – são 18 cidades brasileiras concorrendo a 12 vagas, com o anúncio ocorrendo em dezembro de 2008 – tem como trunfo o pacote de medidas anunciado em abril e maio deste ano pelo governador do Amazonas, Eduardo Braga, estabelecendo uma política estadual de combate ao aquecimento global e propondo o uso da Copa de 2014 para aumentar a proteção à Amazônia.

"A iniciativa da Fifa de realizar a Copa no Brasil contribuirá para que o desenvolvimento sustentável ajude o nosso povo a conservar esse insubstituível patrimônio ambiental que é a floresta amazônica", afirmou Braga durante a apresentação em Zurique da proposta brasileira para receber o evento.

A proposta do governo amazonense feita à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) prevê a preservação da floresta para mitigar a emissão de gases do efeito estufa durante a Copa de 2014. O Greenpeace contribuiu na elaboração do projeto e colocou a estrutura da organização à disposição da CBF e do governo do Amazonas para detalhar a proposta do mecanismo de compensação.

"O Greenpeace está trabalhando para zerar o desmatamento na Amazônia e apoiamos todas as iniciativas de proteção à floresta”, disse Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia, do Greenpeace. “Essa Copa vai ter um forte componente ambiental e o governo do Amazonas e a CBF contam com todo nosso apoio para fazer deste evento o mais verde possível”.

Para pesquisador, Antártida deve ter a mesma relevância que Amazônia para o Brasil

Brasília – O pesquisador do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), Jefferson Cárdia Simões, disse que estudos sobre a Antártida deveriam ser tão relevantes quanto pesquisas sobre a Amazônia. Simões foi o primeiro brasileiro a atravessar o continente antártico, trajeto feito entre outubro de 2004 e janeiro de  2005. Ele, que também é o primeiro glaciologista brasileiro, participou hoje (1º) do lançamento do 4º Ano Polar Internacional (API).

O programa, que vai até março de 2008, tem o objetivo de realizar pesquisas cientificas interdisciplinares no Ártico e na Antártida. “Hoje, nós sabemos e temos fortes evidências e conhecimento científico de que para entender o clima brasileiro, a Antártica [como o continente também é chamado] é tão importante como a Amazônia. E nós nos esquecemos muitas vezes que nós somos um país continental. O Chuí está mais perto da Antártica do que Roraima”, explicou ele.

Ele destacou que a participação do país nessa quarta edição do evento é fundamental para a ciência brasileira. “É essencial para as grandes questões que vieram à tona nas últimas semanas sobre o impacto do homem nas mudanças climáticas. É na Antártica que nós vamos ver os primeiros sinais das mudanças climáticas globais”. O pesquisador lembrou que “também foi na Antártica que nós comprovamos que é o homem que está modificando a composição da atmosfera do planeta Terra”.

O Ano Polar Internacional é desenvolvido pela Organização Meteorológica Mundial e conta com a participação de 63 países que realizarão 227 projetos até 2011. O Brasil, que participará pela primeira vez ativamente do programa, desenvolverá 28 estudos  e contará com R$ 9,2 milhões do  Ministério da Ciência e Tecnologia. “Temos projetos envolvidos com a questão da circulação oceânica e também sobre como essa circulação está relacionada com toda a cadeia alimentar  do Atlântico sul”, disse.

Simões coordena um grupo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que estuda os reflexos do gelo da Antártida no meio ambiente sul americano. “O que nós queremos saber é como a circulação atmosférica oceânica dessa região do planeta é controlada pela Antártica.”

O pesquisador destacou ainda a importância de entender o papel do aquecimento global no derretimento do gelo do planeta  para saber como  ele afetará o  nível  médio dos mares e as cidades costeiras. “O que nós podemos falar é que o norte da península Antártica apresenta, ao longo dos últimos 50 anos, o maior aquecimento da atmosfera em todo o planeta”.

Segundo ele, no local onde as pesquisas brasileiras serão realizadas (na Península Antártica) o aquecimento nos últimos 50 anos foi de 3 graus, enquanto que a média mundial, em 150 anos, foi de apenas 0,7 grau. “É uma região extremamente sensível às variações climáticas e conforme foi visto recentemente, é lá que nós presenciamos processos muito rápidos, respostas muito rápidas do ambiente a essas variações climáticas. Então, nós temos que manter o monitoramento para inclusive servir de alerta”.

A Antártida, segundo dados da UFGRS, tem uma área de 13,6 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a 1,6 vez a área do Brasil, que é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. 

Relatório [R]evolução Energética vê luz no fim do túnel do aquecimento global

No dia em que o IPCC divulga em Paris os dados que reforçam a preocupação geral em relação ao aquecimento global e os efeitos das mudanças climáticas em todo o mundo, apresentamos o relatório [R]evolução Energética (baixe o relatório disponibilizado pelo Greenpeace) – Brasil, um guia prático que mostra a viabilidade de se ter uma matriz energética limpa baseada em fontes renováveis – ventos, sol e biomassa – sem comprometer o crescimento econômico do país e contribuir para piorar o efeito estufa.

Nossa conclusão é que o país pode crescer até 2050 impulsionado por fontes renováveis de energia e eliminar as fontes sujas – petróleo, carvão e nuclear . Para isso, é preciso uma estruturação do setor em torno da conservação de energia e políticas públicas de apoio a energias renováveis.

Os dados do relatório integram o capítulo brasileiro de um estudo global encomendado pelo Greenpeace e pela Comissão Européia de Energia Renovável (Erec) ao Centro Aeroespacial da Alemanha (DLR), um dos mais conceituados institutos de pesquisa na área de cenários energéticos.

No Brasil, a parceria foi com o GEPEA (Grupo de Engenharia de Energia e Automação de Elétricas da Escola Politécnica da USP) para projetar os cenários de geração de eletricidade no Brasil. Por meio de um software, o relatório [R]evolução Energética apresenta cenários futuros para a geração e distribuição de eletricidade no país até 2050, com base em avaliações de aumento populacional, crescimento do PIB e fontes e tecnologias de energia disponíveis.

E não ficamos apenas no discurso. Durante o lançamento do relatório [r]evolução energética, inauguramos 40 painéis solares fotovoltaicos na sede da organização em São Paulo que captam a luz do sol e geram 2.800 watts. O sistema foi conectado à rede pública de energia e a ela repassará o excedente de energia gerado – o que não é permitido por lei. Praticamente, fizemos um ‘gato’ ao contrário: em vez de roubar energia do sistema público de energia, estamos devolvendo energia à rede.

A instalação deve suprir até 50% da demanda diária de eletricidade do escritório do Greenpeace.

“Decidimos praticar este ato de desobediência civil para questionar o atual modelo de geração e distribuição de eletricidade”, explica Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace. “Em linha com a revolução energética que estamos propondo, acreditamos na descentralização da geração de energia e na criação, por meio de políticas públicas consistentes, e de um mercado de energias renováveis como eólica, biomassa, solar e pequenas centrais hidrelétricas, acessível ao consumidor final. Também vamos aplicar medidas de eficiência energética em nossa sede para demonstrar as vantagens econômicas da sustentabilidade”, afirma Furtado.

Mudanças Climáticas: agir é mais que necessário, é urgente

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) confirmou hoje há 90% de certeza de que o homem é o responsável pelas mudanças do clima no planeta. O relatório estima que as temperaturas devem aumentar entre 1,8 e 4,0 graus ainda neste século. Para garantir a qualidade de vida atual, é preciso que o aumento da temperatura média do planeta não ultrapasse 2º C em relação aos níveis pré-industriais, na metade do século XIX. Por isso, é fundamental que todos tomem consciência do problema e façam sua parte!

De acordo com o estudo Planeta Vivo, feito pela rede WWF, a média anual per capita de emissão de CO2 para cada brasileiro é de 1,8 tonelada do gás, caso as emissões provocadas pelo desmatamento de nossas florestas forem desconsideradas. Entretanto, quando o desmatamento é incluído nesse cálculo o Brasil passa a ser o quarto maior poluidor do planeta. Os gases das queimadas oriundas do desmatamento são responsáveis por 75% de todas as emissões nacionais.

“Mas não podemos deixar de lembrar que cada um precisa fazer sua parte para combater o aumento de temperatura do planeta”, recomenda Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil. Dentro de uma série de atitudes que as pessoas podem tomar para reduzir sua responsabilidade nas mudanças climáticas, estão a compra de eletrodomésticos que consomem menos energia, adoção de aquecimento solar de água ou ainda plantar pelo menos três árvores por ano.

Segundo o relatório do IPCC, os efeitos das mudanças climáticas já estão sendo sentidos no mundo. O documento afirma que houve um aumento significativo das chuvas no Brasil e outras partes da América do Sul. Secas mais longas e mais intensas foram observadas em grandes áreas, particularmente na região dos trópicos. Sobre as previsões, há confirmação da probabilidade de os eventos climáticos extremos como ondas de calor, secas e furacões se tornarem cada vez mais freqüentes. Outra previsão é o derretimento do Pólo Norte até 2100. Isso implicaria em um aumento de 59 centímetros no nível dos oceanos.

A próxima conferência do clima das Nações Unidas será em Bali, em dezembro deste ano. “Com estes novos dados, se torna imprescindível que os governos cheguem a logo um acordo sobre a próxima fase do Protocolo de Quioto, pós-2012.”, afirma Karen Suassuna, técnica em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil. Mas, antes disso, a sociedade brasileira deve discutir qual será a contribuição nacional para o próximo período de compromisso. “É preciso investir em energias renováveis não convencionais e eficiência energética e estabelecer metas claras para a redução do desmatamento”, completa. A contribuição dos países desenvolvidos também deve aumentar. É necessário que todos reduzam suas emissões em 30% até 2020.

O IPCC é vinculado às Nações Unidas e foi criado em 1988 com o objetivo de avaliar as informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para a compreensão da mudança do clima, seus impactos e as opções para mitigação e adaptação. A cada cinco anos, o IPCC lança um relatório baseado na revisão de pesquisas de mais de 2500 cientistas de todo o mundo.

O Painel tem três grupos de trabalho:
• O grupo de trabalho I avalia os aspectos científicos do sistema do clima e da mudança do clima.
• O grupo de trabalho II avalia a vulnerabilidade socioeconômica e dos sistemas naturais em conseqüências da mudança do clima e as opções para se adaptar.
• O grupo de trabalho III avalia opções para limitar emissões de gás da estufa e outras maneiras de acabar com a mudança do clima.

O primeiro relatório foi lançado em 1990, o segundo em 1995 e o terceiro em 2001. O quarto será concluído em 2007 e divulgado de acordo com a seguinte programação:

– Grupo I, em Paris, 2 de fevereiro

– Grupo II, em Bruxelas, 6 de abril

– Grupo III, em Bangkok, 4 de maio

– Síntese, em  Valença, 16 de novembro

Energia para crescer, sim. Angra 3, não.

Artigo publicado em 24/01/2007 no jornal Correio Braziliense por Rebeca Lerer, coordenadora da Campanha Energia/Clima do Greenpeace Brasil

Sim, o Brasil deve investir em geração, diversificar sua matriz energética e descentralizar a geração de energia para que a economia continue crescendo. Indiscutível. Porém, quando a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, recomenda investimentos em tecnologias sujas e ultrapassadas como nuclear e carvão, ou diversos setores do governo Lula parecem dispostos a ressuscitar o Programa Nuclear Brasileiro sob a fachada do risco de um novo apagão, estamos dando um passo de volta aos anos 70 em vez de olhar para frente e apostar em políticas públicas que podem, efetivamente, garantir a sustentabilidade e a segurança energética do país.

O sentimento de que o Brasil está na contramão do resto do mundo é reforçado quando vemos Angra 3 na pauta da próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), marcada para o dia 30 de janeiro em Brasília. Enquanto isso, a União Européia se compromete a aumentar a participação de fontes renováveis de energia na sua matriz em 20% até 2020.

O planejamento energético de médio prazo é, geralmente, elaborado com base em dados de crescimento do PIB e de população. Esta é a lógica usada pela Agência Internacional de Energia, que subsidia os estudos da EPE. A pedido do Greenpeace, pesquisadores da Escola Politécnica da USP elaboraram cenários de geração e consumo de energia elétrica no Brasil para 2010. Os resultados indicam que a geração elétrica será de 466 TW/h e o consumo de 429TW/h, baseados em um crescimento do PIB da ordem de 3,5% ao ano. Para suprir esta demanda de eletricidade, o estudo conclui que o potencial hídrico, de biomassa e eólico do país é suficiente para abastecer o mercado, sem a necessidade de construir Angra 3. Esses e outros dados farão parte de um relatório a ser lançado este mês pelo Greenpeace traçando cenários elétricos para o Brasil até 2050.

Além de desnecessária, a opção nuclear para gerar energia é a mais dispendiosa de todas. As usinas Angra 1 e 2 custaram mais de R$ 20 bilhões. Já o investimento necessário para construir Angra 3 pode chegar a R$ 7 bilhões para gerar apenas 1350 MW. Com este volume de recursos, poderia ser criado um parque eólico com o dobro da potência, sem produzir lixo radioativo, sem o risco de acidentes nucleares e gerando 32 vezes mais empregos.

Defensores da energia nuclear alegam ainda que o aumento no preço da geração hidrelétrica está tornando a opção atômica mais competitiva no Brasil. Não por coincidência, são os mesmos setores que alegam não ser economicamente viável investir em tecnologias renováveis, pois lhes falta escala. É complicado falar em preços reais da energia nuclear, que sobrevive graças a generosos subsídios governamentais – não só no Brasil, como em todo mundo. Um estudo de maio de 2005 do Massachussets Institute of Technology (MIT) afirmou que a energia nuclear não é competitiva sem subsídios. No cálculo atômico, também não entram os custos com destinação de resíduos radioativos nem despesas com o descomissionamento de antigas instalações nucleares. Portanto, só é possível comparar os custos e vantagens das tecnologias renováveis e nuclear considerando-se o ciclo de vida das usinas e o montante de subsídios envolvidos.

E, por falar em custos, mesmo entre os defensores das energias sujas existe o consenso de que a forma mais barata de gerar energia é justamente economizando energia. Um bom exemplo dos benefícios de investir em eficiência energética é o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), do governo federal. Ao longo de 20 anos e com recursos da ordem de R$ 850 milhões, o Procel conseguiu economizar o equivalente à capacidade de geração de uma usina de 5124 MW, ou quase quatro vezes o potencial de Angra 3.

Para concluir, vale lembrar que, apenas em 2006, o mercado global de energias renováveis como solar e eólica movimentou US$ 38 bilhões, 26% a mais que no ano anterior e gerou milhares de empregos. Este não é um clube exclusivo dos países ricos; conta também com gigantes em desenvolvimento como China e Índia. O Brasil, ao olhar para trás, pode perder, mais uma vez, o bonde do desenvolvimento sustentável.

Cidades brasileiras discutem implantação do Protocolo de Quioto

O Brasil terá a maior representação da América do Sul na Campanha Cidades pela Proteção do Clima (CCP), formada por mais de 550 municípios de todo o mundo, que acontecerá de 6 a 17 de dezembro, em Buenos Aires. Criada pelo Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais, a CCP irá se reunir em paralelo à 10ª Conferência das Partes (COP 10), da Convenção sobre as Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

O encontro da ONU terá a participação de chefes de Estado e será palco de discussões da entrada em vigor do Protocolo de Quioto, em negociação há sete anos, viabilizado este mês com a adesão da Rússia. No evento paralelo, as cidades debaterão Mecanismos de Desenvolvimento Limpos que buscam reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Segundo a gerente técnica da CCP, Margarita Parra, o controle do aquecimento global é um problema mundial, mas as soluções locais podem contribuir para a redução na emissão de gases. Na América Latina participam da campanha a Argentina, com duas cidades, Brasil com sete cidades, Chile e Colômbia com uma cidade cada e México, também com sete municípios. Parra comentou que essas cidades já vêm procurando, conforme a realidade local, medidas de prevenção e soluções no combate à poluição urbana. No encontro em dezembro, os municípios irão mostrar as soluções locais, medidas que podem contribuir para a redução de poluentes e trocar experiências.

O Brasil participa com as cidades de São Paulo, Betim, Goiânia, Porto Alegre, Palmas, Rio de Janeiro e Volta Redonda. Margarita Parra destaca as ações de três cidades brasileiras dentro da CCP – São Paulo, Betim (MG) e Porto Alegre – porque desenvolvem programas para a redução de gases e trabalham com metas de preservação ambiental. "A campanha pela proteção do clima tornou-se um tema importante dentro da agenda dessas cidades criando equipes que estão levando adiante a necessidade de controle da poluição", explicou Parra.

Dos programas que vêm dando resultados, Parra ressalta o projeto em São Paulo de geração de eletricidade no Aterro Bandeirantes, produzido a partir do gás que é formado pela decomposição dos resíduos orgânicos. Em Betim, ela destaca a campanha de coleta seletiva, para posterior reciclagem, de papel e produtos inorgânicos. Em Porto Alegre, a poluição urbana está sendo enfrentada com a substituição de gasolina por gás natural veicular na frota de táxis da cidade.

De acordo com a ONU, a capital gaúcha tem a melhor qualidade de vida em todo o Brasil. Porto Alegre possui uma média de 14,9 metros quadrados de área verde para cada habitante e cerca 46 metros quadrados de parques naturais, além de reserva dentro dos limites da cidade.

A representante da CCP entende que o encontro da ONU, na Argentina, será muito importante, em razão da entrada em vigor, no ano que vem, do Protocolo de Quioto. A adesão final russa completa os requisitos do protocolo, que exige que pelo menos 55 países ratifiquem o acordo entre os signatários da Convenção do Clima, assinada na Eco-92.

O Protocolo de Quito prevê que, entre 2008 e 2012, os países ricos devam reduzir em média 5 % de emissão de gás carbônico, tendo como base os índices de 1990. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança de Clima, assinada no Rio de Janeiro em 1992, por 175 países mais União Européia, ratificou a preocupação com o aquecimento global.

Massa de gelo na terra está diminuindo bruscamente

O gelo no entorno da Antártica está diminuindo de forma rápida e brusca. A conclusão é dos resultados mais relevantes dos estudos e observações realizados pelos cientistas brasileiros no Programa Antártico (Proantar), projeto de pesquisas científicas que o Brasil desenvolve há 21 anos no continente gelado. Os estudos mais recentes do programa foram apresentadas, nos últimos três dias, no XI Seminário sobre Pesquisa Antártica, no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).

“Hoje, na província Antártica, que é a região onde o Brasil atua, está evidente que as geleiras estão recuando e que a massa de gelo acumulada na terra está diminuindo”, afirma o coordenador científico do Centro de Pesquisas Antárticas da USP, Antonio Carlos Rocha Campos, que esteve na base brasileira este ano.

O Brasil, desde 1982, conta com uma estação de pesquisas permanente no continente, a base Comandante Ferraz, localizada na baía do Almirantado, na Ilha Rei Jorge. A região onde está instalada permite uma visualização bastante nítida do recuo da camada de gelo. “Cabe agora perguntar, e essa é a grande questão que a comunidade internacional formula, se se trata de uma variabilidade natural do meio ambiente ou se isso foi induzido pelo homem, possivelmente associado a um processo de aquecimento global”, afirma o coordenador de glaciologia do projeto, Jefferson Cadia Simões.

Segundo ele, as conseqüências dessa diminuição da camada de gelo ainda não são totalmente conhecidas, mas podem influir no clima. Simões chama atenção para a possibilidade de, a partir dos estudos do Proantar, o país começar a incluir o nível de gelo da Antártica em suas equações de modelos climáticos, usados para a previsão do tempo, o que permitiria uma margem de erro menor do que as previsões atuais.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Simões dirige a Rede 1 do programa Antártico, frente de pesquisas voltada à análise de questões como a evolução do buraco da camada de ozônio, o aquecimento global e seu impacto nas geleiras da Antártica. Segundo ele, as pesquisas brasileiras devem voltar-se mais para assuntos de grande importância sócio-econômica. “A nossa frente de pesquisa é uma tentativa de direcionar o programa Antártico brasileiro para questões pertinentes à nossa realidade. Queremos levar para o cotidiano dos nossos estudos questões importantes da agenda internacional, trazidas à tona pelo protocolo de Quioto e pelos protocolos de preservação da camada de ozônio”, afirmou.

No próximo dia 29, o navio Ary Rongel, da Marinha, sai do porto do Rio de Janeiro, levando mais uma tripulação brasileira ao continente. É a XXII Operação Antártica. A base brasileira na Antártica é formada por 60 módulos. No próximo verão austral, serão desenvolvidos 25 projetos científicos, envolvendo 138 pesquisadores. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia os trabalhos por meio do Proantar. A Marinha mantém no local um grupamento com 10 homens e a Aeronáutica realiza sete vôos por ano para transportar equipamentos e pesquisadores. O Ary Rongel intercala com o navio Barão de Tefé o transporte de pesquisadores e pessoal de apoio, do Brasil, ao continente gelado. Informações adicionais sobre o seminário estão no endereço www.igc.usp.br/subsites/cpa.