Greenpeace critica Belo Monte, termoelétricas e novo Código Florestal

O coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Pedro Torres, defendeu hoje (26) a busca por alternativas à chamada economia verde e condenou obras como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA).

“O capitalismo está em crise e isso é um consenso que nos une a Davos [onde ocorre o Fórum Econômico Mundial], mas a economia verde não é a solução para essa crise”, disse. “Devemos pensar quais são as alternativas, para quem e como”, completou Torres durante evento no segundo dia de debates do Fórum Social Temático (FST) 2012.

Torres explicou que a Usina de Belo Monte deverá gerar mais energia para empresas amazônicas do que para a própria população da região afetada pelas obras. Ele alertou ainda que a cidade de Altamira, uma das mais impactadas, já soma 100 mil habitantes em razão das obras, mas sem melhorias na infraestrutura.

Investimentos em energia nuclear, segundo ele, também não são uma alternativa à crise. Durante o debate, o ativista lembrou os riscos evidenciados no acidente da Usina Nuclear de Fukushima, no Japão, que em março completa um ano. “O Brasil continua insistindo nessa energia que é suja, cara e perigosa”, disse.

Sobre a Usina Nuclear Angra 3, no município de Angra dos Reis (RJ), Torres ressaltou que quase R$ 8 bilhões de recursos públicos provenientes do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já foram investidos. O dinheiro, segundo ele, poderia e deveria ser usado em outras fontes de energia.

Outra questão abordada pelo ativista trata da aprovação do novo Código Florestal no Congresso Nacional. Para ele, a discussão vai além do ambientalismo, já que os interesses do setor ruralista, baseados na derrubada de florestas, representam uma afronta à lei brasileira.

“Devemos buscar o diálogo de uma maneira mais livre. Muitos movimentos e organizações estão presos a agendas impostas pelas grandes empresas. Temos que ter a liberdade de criticar essas empresas, de criticar os governos que são poluentes. Se não, não adianta ter Rio+20 e Fórum Social”, disse. “Com essa agenda ambiental negativa que a gente tem, uma outra economia vai ser difícil”, destacou.

Grandes corporações discutirão em Davos as mudanças climáticas do planeta

As alterações climáticas mundiais serão um dos principais temas na pauta do Fórum Econômico Mundial 2007, que começa hoje (24) na cidade suíça de Davos. O encontro, que acontece desde 1971, reunirá até o próximo domingo (28) cerca de 2,4 mil líderes globais – a maioria, executivos de grandes corporações.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o único presidente sul-americano em Davos, ao lado de outros 23 chefes de estado ou de governo. Estrelas internacionais como os músicos Bono Vox e Peter Gabriel e o escritor brasileiro Paulo Coelho também confirmaram presença.

Desde o início do Fórum Social Mundial, em 2001, na cidade de Porto Alegre, o Fórum Econômico Mundial tenta incorporar pautas da sociedade civil. Ambos discutem, agora, os efeitos nocivos na emissão de gases de efeito estufa, a diminuição nos níveis de água potável, catástrofes naturais, doenças infecciosas no mundo em desenvolvimento, guerras civis, corrupção, crimes transnacionais e globalização. A diferença está no foco da discussão.

“A perspectiva do Fórum Econômico é a perspectiva do setor privado. É claro que é convergente e consistente com o processo de globalização e de abertura de mercados, enquanto o Fórum Social discute os efeitos da globalização sobre a sociedade. São duas faces da mesma moeda”, resume o cientista político Ricardo Caldas, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

O coordenador do Curso de Diplomacia Econômica da Unicamp, Mário Ferreira Presser, destaca que, durante muitos anos, o Fórum Econômico Mundial destinava-se a festejar “efeitos positivos” da globalização. Hoje, Davos é uma arena de debates dos problemas da globalização.

“Especialmente depois das crises financeiras muito agudas dos anos 90, esse entusiasmo com a globalização passou a ser moderado por uma preocupação com alguns aspectos não resolvidos, como a pobreza na África, com problemas políticos, como a segurança energética, e com questões geopolíticas, como o terrorismo e os conflitos no Afeganistão e no Iraque”, explica.

Muitos ainda são céticos quanto às preocupações sociais das grandes corporações. “Infelizmente não conseguimos, ainda, uma correlação de forças onde esse discurso seja mais do que retórica. As estatísticas todos os anos da ONU [Organização das Nações Unidas] e do próprio Banco Mundial têm revelado que o verdadeiro abismo que existe entre o mundo rico e o mundo pobre se amplia”, diz Antonio Martins, integrante do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e membro do Attac-Brasil.

As cerca de mil empresas representadas no fórum de Davos totalizam receitas conjuntas de cerca de US$ 10 trilhões – praticamente um quarto do PIB mundial.