Marina Silva: para o Brasil, desafio de implementar Protocolo de Kyoto passa por combate ao desmatamento

Ações para evitar o desmatamento ilegal devem ser um dos mecanismos do Protocolo de Kyoto. A avaliação foi feita pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em entrevista à TV Nacional. O ministra participou da 10ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que foi realizada neste mês em Buenos Aires (Argentina), para debater os 10 anos da Convenção e o protocolo, que passará a vigorar em 16 de fevereiro de 2005.

"A defesa dos países em desenvolvimento é que se possam fazer metas internas e não no âmbito de convenção e do protocolo. Nós temos o programa de combate ao desmatamento, uma vez que esse é nosso maior vetor de emissão. O grande desafio é tentarmos o pós-Kyoto, onde essas questões e outras estarão sendo agregadas, inclusive nos países em desenvolvimento", afirmou.

O protocolo de Kyoto pede que os países desenvolvidos reduzam suas emissões em 5% em relação aos níveis de poluição de 1990. Essas metas deverão ser atingidas no primeiro período de compromisso do Protocolo, entre 2008 e 2012.

O governo federal implantou neste ano o Programa Nacional de Combate ao Desmatamento, coordenado pela Casa Civil e envolvendo 13 ministérios. Conta também com a participação do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que trabalha em parceria com as polícias Rodoviária e Federal, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e governos estaduais.

A ministra ressaltou que o governo federal quer evitar o "apagão florestal" na região da Amazônia. "Em 2003, tivemos um esforço grande em relação a esse plano de combate ao desmatamento". Uma outra ação para evitar o desmatamento ilegal, além da multa e retenção da mercadoria, é a apreensão de equipamentos dos comerciantes de madeiras. "Quando fazemos a apreensão dos equipamentos, de fato conseguimos acabar com os contraventores. Existem equipamentos que custam milhões de dólares e ninguém consegue ficar comprando o tempo todo", explicou Marina. Segundo a ministra, também existe a vigilância em tempo real por meio de satélite para combater tanto o desmatamento ilegal como a retirada de madeira.

A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima foi assinada durante a Eco92, no Rio de Janeiro, e já foi ratificada por 189 países. Desde 1992, foram realizadas nove reuniões dos signatários do texto, as chamadas Conferências das Partes (COP). Na 3ª COP foi instituído o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas de redução de emissão de Gases de Efeito Estufa para os países desenvolvidos listados no Anexo I do Protocolo.

Incêndios em áreas agrícolas, protegidas e indígenas aumentam 13%

Os incêndios provocados em áreas de produção agrícola e pecuária, terras indígenas e áreas protegidas aumentaram 13% em todo o país neste ano. Com base nas imagens do satélite americano NOAA-12, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou, até o último dia 10, 162.289 focos de calor. No mesmo período de 2003, os focos de calor atingiram a marca de 143.440.

Segundo o coordenador do monitoramento de queimadas, Alberto Setzer, o aumento verificado evidencia não só o crescimento da expansão agrícola e o uso cada vez mais freqüente do fogo como forma de preparar o solo, mas principalmente a pressão por áreas protegidas na forma de unidades de conservação, sejam federais ou estaduais. Os focos de calor nas áreas protegidas, até 10 de outubro, alcançavam a cifra de 13.002, número 21% maior que o de 2003.

"Para defender as queimadas, o setor agropecuário alega que há um retorno benéfico para a sociedade, com mais alimentos, mais produção", conta o pesquisador. Setzer usa o índice das queimadas nas unidades de conservação para mostrar que a agricultura não pode ser justificativa para a destruição de florestas. "Se nem nas áreas protegidas, se consegue controlar queimadas, e se esse número só aumenta, então há algo errado nesse discurso", avalia.

O pesquisador ressalta que incêndios em coberturas vegetais quase sempre são provocados. A ocorrência natural de queimadas em florestas é muito menos freqüente, conforme explica Setzer. O fogo pode ser provocado por raios que, numa área como o cerrado, com uma estação seca bem definida e outra chuvosa, chegam a resultar em queimadas no máximo três vezes a cada década.

Segundo Setzer, os incêndios nas áreas protegidas ocorrem devido a invasões. O fogo sai do controle de caçadores e pescadores que entram nas unidades de conservação e preparam fogueiras para se aquecer ou para o preparo de alimentos. E há casos de unidades de uso misto (proteção ambiental e uso econômico), áreas de litígio e invasões por parte de agricultores totalmente ilegais.

Maior número de focos de calor está na Amazônia Legal

A Amazônia Legal tem o maior número de focos de calor neste ano e também o maior índice de crescimento da atividade ilegal em 2004, em comparação com 2003. Dados do Programa de Prevenção e Controle de Queimadas e Incêndios Florestais na Amazônia Legal (Proarco), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mostram que o satélite NOAA-12 captou 116.574 focos de calor até setembro na região. Houve um crescimento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para todo o Brasil explicam o fenômeno que ocorre na Amazônia. Mato Grosso é o estado campeão em número de focos de calor e responde por mais de 70 mil deles neste ano. As ocorrências são majoritariamente no norte do estado. No ano passado, o estado registrou quase 50 mil focos de calor até 10 de outubro. O segundo estado em que há mais incêndios em cobertura vegetal é o Pará. Foram pouco mais de 24 mil focos de calor até 10 de outubro deste ano, contra pouco mais de 17 mil até 10 de outubro de 2003.

Ambos, Mato Grosso e Pará, estão no perímetro que define a Amazônia Legal e foram incluídos no que o governo batizou de Arco do Desflorestamento, área onde a pressão pelo uso da terra é mais intensa e, portanto, onde é maior o nível de desmatamento e o índice de focos de calor.

O coordenador de monitoramento de queimadas, Alberto Setzer, enfatiza que os dados podem ser ainda mais impressionantes se forem somadas as imagens coletadas por outros satélites que cobrem o território brasileiro, o NOAA-16, o Terra, o Acqua e o GOES-12. "Quando somamos todas elas, que perfazem horários diferenciados ao longo do dia, temos quase 1 milhão de focos de calor até outubro no país", revela. O coordenador conta que o uso do fogo é indiscriminado em todo o Brasil. "Até aqui no Vale do Paraíba, onde o nível industrial é grande, os agricultores ateiam fogo na vegetação. A situação é genérica e sem controle", observa.

Para o pesquisador, os dados mostram uma realidade contraditória. O Brasil tem um nível de monitoramento sem igual no mundo, com informações atualizadas diariamente e oferecidas por meio eletrônico para qualquer usuário, de qualquer parte do mundo. Mas o país colabora em nível muito alto nas emissões de gás carbônico por não conseguir controlar as queimadas. "A fumaça preta é prejudicial de qualquer forma. Se um carro está soltando fumaça, os departamentos de Trânsito de cada estado ou secretarias estaduais de Meio Ambiente vão multar. Mas o que fazer no caso da fumaça emitida pelas queimadas, que fazem mal à saúde, à camada de ozônio e ao meio ambiente tanto quanto à fumaça que sai dos carros?", questiona Setzer.

O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) é o instituto do INPE que monitora queimadas desde 85. Com a criação do PROARCO em 98, o CPTEC passou a coordenar o acompanhamento das imagens de satélite para verificação de focos de calor. Os maiores usuários dos dados oferecidos pelo centro são o próprio Ibama, as secretarias estaduais de Meio Ambiente, as organizações não-governamentais que trabalham em conjunto com parques nacionais e grupos que administram áreas privadas de conservação ambiental.  

Aumento de focos de incêndio na região amazônica já era previsto

O aumento do número de focos de incêndio na região amazônica já era esperado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). De acordo com o diretor de Proteção Ambiental do órgão, Flávio Montiel, no ano passado foram desmatados mais de 25 mil quilômetros quadrados de floresta e “toda vez que isso ocorre há um aumento proporcional de focos, decorrente do acúmulo de matéria orgânica seca”, disse. Além disso, também aumentou o número de focos em áreas de produção agrícola, já desmatadas anteriormente. Normalmente, focos de incêndio em áreas agrícolas são intencionais e controlados.

Do total de 25 mil quilômetros quadrados de floresta desmatada, o estado de Mato Grosso responde pela maior parte, seguido pelo Pará e pela região sul do Amazonas. Segundo o Ibama, esse índice de desmatamento é o maior registrado nos últimos anos e ocorre principalmente por causa das frentes de expansão de áreas agrícolas, com o estímulo dos governos estaduais. Mas o problema não está na falta de fiscalização, e sim no não cumprimento da legislação ambiental por parte dos estados. Pela legislação brasileira, cabe ao Ibama garantir a preservação das áreas de proteção ambiental e da União, restando aos estados a tarefa de fiscalizar outras áreas.

De acordo com Flávio Montiel, o governo está ampliando o plano de combate ao desmatamento e intensificando a fiscalização. Uma ação inédita no país integra diversos órgãos de governo no processo de fiscalização, ao mesmo tempo que mapeia a situação da área. Só neste ano foram aplicados mais de R$ 250 mil em multas, e a área desmatada já foi reduzida em quatro quintos em relação ao ano anterior.

Ibama flagra desmatamento no Parque Nacional da Amazônia

O Ibama identificou o responsável pelo desmatamento de 746 hectares de cobertura florestal nativa no Parque Nacional da Amazônia. O pecuarista e madeireiro Walmir Climaco recebeu multa de R$ 1,119 milhão por desmatar unidade de conservação protegida por lei e extrair madeira sem autorização do órgão competente. Ele foi multado, ainda, em R$ 182,1 mil por manter em depósito 600 metros cúbicos de madeira em tora sem comprovação de origem.

O infrator ficou como fiel depositário da madeira apreendida no parque. Walmir Climaco, que vai responder por crime ambiental junto ao Ministério Público Federal, já recebeu dezenas de multas do Ibama por extração ilegal de madeira, dentre outros delitos ambientais.

O Ibama está intensificando cerco aos infratores ambientais, em parceria com 14 ministérios que participam do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, chamado Plano Desmate. O programa prevê além de ações de fiscalização, contatos com as comunidades rurais no planejamento de atividades de educação ambiental como estímulo à consciência ambiental na região. Até 2006 o Ibama vai implantar 19 bases operativas previstas no Plano Desmate, com recursos orçados em R$ 395 milhões. O plano prevê quatro grandes eixos de atuação: ordenamento territorial fundiário; monitoramento e controle; fomento a atividades sustentáveis e infra-estrutura. Até o momento já foram liberados R$ 42 milhões. Duas bases em Itaituba (PA) e Alta Floresta (MT) já estão implantadas. A previsão até o final do ano é de instalar mais dez bases. No Pará os municípios contemplados serão Tucumã, Xinguara, Novo Progresso e Altamira.

Ibama localiza áreas desmatadas ilegalmente no Maranhão

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está promovendo este mês no Maranhão uma campanha para localizar áreas desmatadas ilegalmente. Também estão sendo fiscalizadas áreas autorizadas a desmatar, cujos proprietários não seguiram as determinações técnicas do Ibama, e identificados os responsáveis por agressões ambientais.

Para realizar o trabalho, o instituto conta com informações obtidas por meio de monitoramento dos satélites NOAA e TERRA-AQUA, que fornecem dados diários, como posição geográfica e extensão das áreas danificadas. É possível detectar, pelos dados, em que município do Maranhão a agressão ambiental está ocorrendo.

Além das equipes das gerências I e II do Ibama no estado, participam do trabalho analistas ambientais e fiscais lotados nas unidades descentralizadas de Balsas, Santa Inês, Barra do Corda, Chapadinha, Pinheiro, Barreirinhas (Parque Nacional dos Lençóis), Açailândia (Reserva Biológica do Gurupi). As áreas degradadas são interditadas e os responsáveis punidos de acordo com a Lei de Crimes Ambientais que prevê pesadas multas, prisões e a recuperação da área.

Ibama fiscaliza desmatamento na fronteira do Amazonas com o Acre e Rondônia

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está coordenando na fronteira do Amazonas com o Acre e Rondônia, a Operação Lábrea. A ação tem o objetivo de combater a queimada, o desmatamento, o comércio ilegal de madeiras nobres, o tráfico de animais silvestres e o trabalho escravo.

A operação, na região conhecida como Ponto do Abuanã, acontece pela segunda vez. De acordo com o gerente-executivo do Ibama no Acre, Anselmo Forneck, a ação do ano passado tinha apenas 10% do contingente deste ano. “Com uma estrutura mais eficiente e com o apoio de 50 homens, a expectativa este ano é diminuir em 60% o índice de desmatamento da região ocorrido no ano de 2003”, ressaltou.

Em apenas três semanas, a operação já apreendeu 1.500 metros cúbicos de madeira provenientes de desmatamentos, cerca de dois mil litros de combustível, 40 motosserras, dois tratores e um caminhão. De acordo com Anselmo Forneck, foram apreendidos também centenas de equipamentos usados em acampamentos de áreas destinadas ao desmatamento.

Anselmo Forneck destaca que o projeto tem conseguido barrar ações de desmatamento antes que elas aconteçam. “Impedimos o desmatamento de uma área de 5 mil hectares onde 150 homens trabalhavam”, revelou.

Segundo o gerente-executivo do Ibama, a operação dura até dezembro e pretende diminuir a incidência de desmatamentos na região, que é ponto de pressão para a implantação do avanço da soja e da pecuária. “O desmatamento na região começou em 2001 e hoje já destruiu cerca de 4% da área”, disse.

Além das gerências do Ibama nos três estados, o projeto conta com o apoio da Polícia Federal, do Pelotão Florestal da Polícia Militar do Amazonas, da Agência Brasileira de Informações (ABIN), da Procuradoria da República do Estado do Amazonas, Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério do Trabalho.