Raro cachorro-vinagre é registrado vivo em Minas Gerais

 Aldem Bourscheit, WWF Brasil

Muito arredio e com hábitos praticamente desconhecidos pela Ciência, o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é apontado por pesquisadores como um “fantasma”. A espécie foi descrita em 1842 pelo dinamarquês Peter Lund, considerado o pai da paleontologia brasileira. Desde então, os últimos relatos oficiais em Minas Gerais foram rastros e dois animais mortos.

Na última semana, um exemplar vivo foi filmado no Parque Estadual Veredas do Peruaçu, no norte do estado. A façanha foi possível com “armadilhas fotográficas” instaladas por meio de uma parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto Biotrópicos (confira o vídeo abaixo).

Speothos venaticus Lund, conhecido popularmente pelas denominações cachorro-do-mato-vinagre[1], cachorro-vinagre e cachorro-do-mato.
Speothos venaticus Lund, conhecido popularmente pelas denominações cachorro-do-mato-vinagre[1], cachorro-vinagre e cachorro-do-mato.
“Há sete anos tentávamos registrar a espécie na região. Nem acreditei quando vi a filmagem”, comemora o biólogo Guilherme Ferreira, do Biotrópicos.

O cachorro-vinagre tem pelagem marrom escura, corpo alongado de até 70 cm, tem pernas e orelhas curtas e pesa cerca de 5 quilos. Sua urina tem um forte cheiro de vinagre. Daí o nome. Pode ser encontrado no Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia e é um dos menores e mais sociais canídeos da América do Sul, pois forma bandos permanentes com até uma dezena de animais.

“Isso permite ao grupo caçar presas de grande porte. Esse comportamento não é visto em outras espécies, como o lobo-guará, o graxaim ou a raposa-do-campo”, explicou Frederico Lemos, professor na Universidade Federal de Goiás.

A espécie está em situação vulnerável no país e criticamente ameaçada em Minas Gerais. Desmatamento, conflitos com populações, ataques e transmissão de doenças por animais de estimação são seus principais inimigos.

Por isso é importante manter áreas protegidas conectadas com corredores ecológicos, respeitar a legislação em propriedades rurais e cuidar da saúde de animais domésticos em todo o Vale do Peruaçu, onde o registrou ocorreu. O rio é um afluente do São Francisco.

A região faz parte do Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas-Peruaçu, que se espalha por quase 2 milhões de hectares do norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia. Para o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Michael Becker, a descoberta reforça a importância das unidades de conservação para o Cerrado.

“O registro deixa claro o papel das áreas protegidas, especialmente no Cerrado, que tem menos de 3% de sua área efetivamente resguardada pelo poder público. Novas metas internacionais para conservação da biodiversidade pedem pelo menos 17% de cada bioma terrestre coberto por áreas protegidas”, ressaltou.

Pesquisa em alta – A parceria entre o Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil e o Instituto Biotrópicos está ampliando o monitoramento científico sobre mamíferos de médio e grande porte no parque nacional Cavernas do Peruaçu e nos parques estaduais da Mata Seca e Veredas do Peruaçu.

Com o acordo, foram instaladas câmeras especiais em pontos estratégicos dos parques, gerenciados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais. Essas instituições também são parceiras das pesquisas.

No vídeo abaixo, pesquisadores do Instituto Biotrópicos explicam como funcionam as “armadilhas fotográficas”:

Na região, WWF-Brasil, Agência Nacional de Águas, Fundação Banco do Brasil e Banco do Brasil uniram forças para recuperar o rio Peruaçu, principal afluente do rio São Francisco no norte de Minas Gerais e maior curso d´água do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.

Dar sobrevida ao combalido rio exigirá ações em todos os municípios tocados por sua bacia hidrográfica – Itacarambi, Januária, Bonito de Minas e Cônego Marinho -, incluindo a difusão de técnicas sustentáveis de produção agropecuária, ampliação do extrativismo e educação ambiental. Mais informações no atalho ao lado.

Rede WWF comprova: Proteger espécies ajuda a reduzir a pobreza

Os esforços para salvar a arara-azul, pandas, gorilas, tigres e outros animais em extinção não se limitam apenas à conservação de espécies para geração futuras. Um novo estudo realizado pela Rede WWF comprova o impacto destas iniciativas na redução da pobreza e na melhoria da vida das comunidades afetadas pelos projetos.

A pesquisa, que traz estudos de caso do Nepal, Uganda, Índia, Namíbia, Costa Rica e China, demonstra que o trabalho de conservação de espécies contribui na erradicação da pobreza e da fome, assim como estimula o desenvolvimento sustentável e justo em áreas rurais destes países.

Os resultados indicam que a conservação e o gerenciamento sustentável de espécies em extinção e seus habitats tem com consequência direta uma maior proteção de florestas, rios e áreas marinhas. Com isso, as populações que dependem diretamente destes recursos têm mais acesso à riquezas que a natureza lhes oferece. Isso não apenas aumenta a renda, mas melhora a saúde e afeta positivamente questões como a educação e direitos das mulheres. Com isso, a pesquisa da Rede WWF demonstra que os projetos de campo de conservação de espécies atendem a quatro dos oito Objetivos do Milênio propostos pela ONU: acabar com a fome e a miséria, igualdade entre sexos e valorização da mulher, qualidade de vida e respeito ao meio ambiente e todos trabalhando unidos pelo desenvolvimento mundial.

De acordo com o estudo, alguns projetos de ecoturismo baseados na observação de espécies selvagens, por exemplo, podem gerar um importante desenvolvimento econômico local. Além disso, o conhecimento sobre hábitos e movimentação de animais em determinada área, estimula um planejamento sustentável e um melhor aproveitamento do uso da terra.

“Muitas vezes, as questões que ameaçam as espécies são as mesmas que contribuem para a pobreza, a perda de habitats e de recursos naturais”, afirma Dra. Susan Lieberman, diretora do projeto global de conservação de espécies da Rede WWF. “Esta pesquisa nos prova que quando os animais ameaçados são salvos, as pessoas lucram junto”.

Com a abertura em Curitiba (PR) da Oitava Conferência das Partes (COP8) da Convenção da Biodiversidade (CBD) nesta segunda-feira, dia 20/03, a Rede WWF acredita que os governos participantes devem integrar os esforços de conservação de espécies com as estratégias de desenvolvimento social.

“Parece ilógico que bilhões de dólares sejam gastos para reduzir a pobreza e promover o desenvolvimento econômico sustentável sem olhar para os enlaces entre melhoria de qualidade de vida, meio ambiente saudável e conservação de espécies”, conclui Dra. Lieberman. “Agora é a hora de fazermos esta conexão e de agirmos para concretizá-la”.

Marina Silva vai ao Paraná em defesa da araucária

araucarias.jpgA ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, segue nesta quinta-feira para o Paraná, onde lançará um ato em defesa do pinheiro brasileiro (foto) e também o atlas A Floresta com Araucária no Paraná. Naquele estado, resta 0,8% da Floresta Ombrófila Mista, que faz parte da Mata Atlântica e abriga a araucária, espécie ameaçada de extinção. A visita de Marina Silva ao Paraná será acompanhada do presidente do Ibama, Marcus Barros, do secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco, do diretor do Núcleo Mata Atlântica do MMA, Wigold Schäffer, e do superintendente do Ibama/PR, Marino Elígio Gonçalves. Veja o programa mais abaixo.

Na quinta-feira, a ministra se reúne com servidores do Ibama, participa da Jornada de Agroecologia, lança o atlas A Floresta com Araucária no Paraná, reúne-se com o Grupo de Trabalho Araucária, formado por Ibama, ONGs e representantes dos governos estadual e federal, e participa de um encontro com enitdades ambientalistas. O atlas foi editado com recursos do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio).

Na sexta-feira, Marina Silva visita o escritório da Itaipu Binacional, em Curitiba, e faz uma saudação no Encontro Nacional da Polícia Judiciária Ambiental.