Energia para crescer, sim. Angra 3, não.

Artigo publicado em 24/01/2007 no jornal Correio Braziliense por Rebeca Lerer, coordenadora da Campanha Energia/Clima do Greenpeace Brasil

Sim, o Brasil deve investir em geração, diversificar sua matriz energética e descentralizar a geração de energia para que a economia continue crescendo. Indiscutível. Porém, quando a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, recomenda investimentos em tecnologias sujas e ultrapassadas como nuclear e carvão, ou diversos setores do governo Lula parecem dispostos a ressuscitar o Programa Nuclear Brasileiro sob a fachada do risco de um novo apagão, estamos dando um passo de volta aos anos 70 em vez de olhar para frente e apostar em políticas públicas que podem, efetivamente, garantir a sustentabilidade e a segurança energética do país.

O sentimento de que o Brasil está na contramão do resto do mundo é reforçado quando vemos Angra 3 na pauta da próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), marcada para o dia 30 de janeiro em Brasília. Enquanto isso, a União Européia se compromete a aumentar a participação de fontes renováveis de energia na sua matriz em 20% até 2020.

O planejamento energético de médio prazo é, geralmente, elaborado com base em dados de crescimento do PIB e de população. Esta é a lógica usada pela Agência Internacional de Energia, que subsidia os estudos da EPE. A pedido do Greenpeace, pesquisadores da Escola Politécnica da USP elaboraram cenários de geração e consumo de energia elétrica no Brasil para 2010. Os resultados indicam que a geração elétrica será de 466 TW/h e o consumo de 429TW/h, baseados em um crescimento do PIB da ordem de 3,5% ao ano. Para suprir esta demanda de eletricidade, o estudo conclui que o potencial hídrico, de biomassa e eólico do país é suficiente para abastecer o mercado, sem a necessidade de construir Angra 3. Esses e outros dados farão parte de um relatório a ser lançado este mês pelo Greenpeace traçando cenários elétricos para o Brasil até 2050.

Além de desnecessária, a opção nuclear para gerar energia é a mais dispendiosa de todas. As usinas Angra 1 e 2 custaram mais de R$ 20 bilhões. Já o investimento necessário para construir Angra 3 pode chegar a R$ 7 bilhões para gerar apenas 1350 MW. Com este volume de recursos, poderia ser criado um parque eólico com o dobro da potência, sem produzir lixo radioativo, sem o risco de acidentes nucleares e gerando 32 vezes mais empregos.

Defensores da energia nuclear alegam ainda que o aumento no preço da geração hidrelétrica está tornando a opção atômica mais competitiva no Brasil. Não por coincidência, são os mesmos setores que alegam não ser economicamente viável investir em tecnologias renováveis, pois lhes falta escala. É complicado falar em preços reais da energia nuclear, que sobrevive graças a generosos subsídios governamentais – não só no Brasil, como em todo mundo. Um estudo de maio de 2005 do Massachussets Institute of Technology (MIT) afirmou que a energia nuclear não é competitiva sem subsídios. No cálculo atômico, também não entram os custos com destinação de resíduos radioativos nem despesas com o descomissionamento de antigas instalações nucleares. Portanto, só é possível comparar os custos e vantagens das tecnologias renováveis e nuclear considerando-se o ciclo de vida das usinas e o montante de subsídios envolvidos.

E, por falar em custos, mesmo entre os defensores das energias sujas existe o consenso de que a forma mais barata de gerar energia é justamente economizando energia. Um bom exemplo dos benefícios de investir em eficiência energética é o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), do governo federal. Ao longo de 20 anos e com recursos da ordem de R$ 850 milhões, o Procel conseguiu economizar o equivalente à capacidade de geração de uma usina de 5124 MW, ou quase quatro vezes o potencial de Angra 3.

Para concluir, vale lembrar que, apenas em 2006, o mercado global de energias renováveis como solar e eólica movimentou US$ 38 bilhões, 26% a mais que no ano anterior e gerou milhares de empregos. Este não é um clube exclusivo dos países ricos; conta também com gigantes em desenvolvimento como China e Índia. O Brasil, ao olhar para trás, pode perder, mais uma vez, o bonde do desenvolvimento sustentável.

Grandes corporações discutirão em Davos as mudanças climáticas do planeta

As alterações climáticas mundiais serão um dos principais temas na pauta do Fórum Econômico Mundial 2007, que começa hoje (24) na cidade suíça de Davos. O encontro, que acontece desde 1971, reunirá até o próximo domingo (28) cerca de 2,4 mil líderes globais – a maioria, executivos de grandes corporações.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o único presidente sul-americano em Davos, ao lado de outros 23 chefes de estado ou de governo. Estrelas internacionais como os músicos Bono Vox e Peter Gabriel e o escritor brasileiro Paulo Coelho também confirmaram presença.

Desde o início do Fórum Social Mundial, em 2001, na cidade de Porto Alegre, o Fórum Econômico Mundial tenta incorporar pautas da sociedade civil. Ambos discutem, agora, os efeitos nocivos na emissão de gases de efeito estufa, a diminuição nos níveis de água potável, catástrofes naturais, doenças infecciosas no mundo em desenvolvimento, guerras civis, corrupção, crimes transnacionais e globalização. A diferença está no foco da discussão.

“A perspectiva do Fórum Econômico é a perspectiva do setor privado. É claro que é convergente e consistente com o processo de globalização e de abertura de mercados, enquanto o Fórum Social discute os efeitos da globalização sobre a sociedade. São duas faces da mesma moeda”, resume o cientista político Ricardo Caldas, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

O coordenador do Curso de Diplomacia Econômica da Unicamp, Mário Ferreira Presser, destaca que, durante muitos anos, o Fórum Econômico Mundial destinava-se a festejar “efeitos positivos” da globalização. Hoje, Davos é uma arena de debates dos problemas da globalização.

“Especialmente depois das crises financeiras muito agudas dos anos 90, esse entusiasmo com a globalização passou a ser moderado por uma preocupação com alguns aspectos não resolvidos, como a pobreza na África, com problemas políticos, como a segurança energética, e com questões geopolíticas, como o terrorismo e os conflitos no Afeganistão e no Iraque”, explica.

Muitos ainda são céticos quanto às preocupações sociais das grandes corporações. “Infelizmente não conseguimos, ainda, uma correlação de forças onde esse discurso seja mais do que retórica. As estatísticas todos os anos da ONU [Organização das Nações Unidas] e do próprio Banco Mundial têm revelado que o verdadeiro abismo que existe entre o mundo rico e o mundo pobre se amplia”, diz Antonio Martins, integrante do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e membro do Attac-Brasil.

As cerca de mil empresas representadas no fórum de Davos totalizam receitas conjuntas de cerca de US$ 10 trilhões – praticamente um quarto do PIB mundial.

Estudo traça cenário de mudanças climáticas no Brasil para os próximos 50 anos

O Brasil sofrerá sérias mudanças climáticas nos próximos 50 anos, se não forem tomadas medidas de preservação do meio ambiente, como a redução dos índices de desmatamento e de liberação de gases causadores do efeito estufa.É o que aponta o estudo "Cenário climático futuro: avaliações e considerações para a tomada de decisões", coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O trabalho foi financiado pelo Ministério do Meio Ambiente e teve apoio do Banco Mundial.

O estudo leva em conta dois cenários: um pessimista e outro otimista. No primeiro, estima-se que o desmatamento e a poluição continuem na proporção em que ocorrem atualmente e que o Protocolo de Quioto não seja seguido. Nesse caso, nos próximos 50 anos, a temperatura na Amazônia poderia sofrer aquecimento entre 6 e 8 graus e redução da chuva em 20%.

O cenário otimista considera uma sociedade ecologicamente correta, onde seriam reduzidas a poluição e o desmatamento e seguido o Protocolo de Quioto. O aumento de temperatura na região amazônica não seria evitado, porém seria menor, entre 4 e 5 graus e a redução das chuvas ficaria entre 10% e 15%.

O Nordeste seria outra região gravemente afetada. De acordo com o estudo, o clima da região pode passar de semi-árido para árido, que se assemelha ao clima de deserto, sem chuvas. A alteração teria, inclusive, conseqüências sociais, como a migração da população local, aponta o estudo. Em outras regiões, como a Sul, deve haver mudanças na distribuição das chuvas durante o ano, o que pode resultar em problemas para a agricultura.

De acordo com o coordenador do estudo, José Antônio Marengo, para amenizar o cenário futuro, é preciso evitar a queimada de biomassas, reduzir o desmatamento e oferecer incentivos governamentais para as empresas que poluem menos. Segundo Marengo, que é pesquisador do Inpe, a população também pode colaborar usando menos os veículos e consumindo menos água. .

Marengo alerta que, apesar das pessoas se adaptarem às temperaturas, que vêm sofrendo um processo de aumento contínuo há cerca de 50 anos, as crianças e os idosos são os mais afetados pelas alterações. “Os idosos podem ter infartos ou desidratação, podendo chegar à morte”, afirma.

As análises traçadas pelo estudo, que segue para a segunda etapa, servirão para subsidiar políticas ambientais de enfrentamento à situação. “O estudo quer saber também quanto vai custar a mudança climática no Brasil. É o primeiro estudo efetivo que vai organizar o cenário climático de todo o país”, afirma o pesquisador.

COP de clima termina com um pequeno passo à frente para o Protocolo de Quioto

A Conferência da ONU sobre mudanças climáticas acabou hoje em Nairóbi com um bom sinal para o clima global. Os representantes dos 189 países vão levar aos seus países a missão de rever os prós e os contras do Protocolo de Quioto, entre outros temas, a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. O assunto será retomado na próxima conferência do clima, na Indonésia, em 2007.

“Houve um acordo que consideramos como um pequeno passo à frente para encontrar uma solução comum para o acordo continuar vigente depois de 2012, diz Denise Hamú, Secretária-Geral do WWF-Brasil.

Para o WWF-Brasil, a proposta do governo brasileiro de redução compensada do desmatamento, apresentada em Nairóbi, foi um passo importante dado pelo Brasil rumo ao combate às mudanças climáticas. A idéia voltará a ser discutida no final de março num workshop específico, na Austrália, sobre questões de desmatamento.

“A proposta é muito importante e representa um avanço na posição brasileira ao levantar questões sobre desmatamento em fóruns internacionais. Agora é preciso avançar em seu aprimoramento”, avalia Mauro Armelin, coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil. “Após as reduções dos índices de desmatamento por dois anos seguidos, o governo não deve temer estabelecer metas nacionais claras de redução contínua do desmatamento”, completa.

Na reunião de Nairóbi houve avanço também nas discussões sobre o Fundo de Adaptação, um mecanismo financiado pelos países desenvolvidos para que os países em desenvolvimento possam lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Hoje, cada projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) paga 2% do seu valor para este Fundo, mas o dinheiro ainda não está sendo empregado.

“Ainda temos um longo caminho a trilhar e pouco tempo para agir – os impactos devastadores das mudanças climáticas ao redor do globo não podem ser ignorados e os países ricos precisam assumir uma posição de liderança ao fazer o próximo passo”, alerta Armelin. “Embora tenha havido progresso nas reuniões aqui, faltou ambição necessária para superar o desafio enfrentado pelo planeta.”

Participe: ajude a manter a matriz energética brasileira limpa

Em setembro, o WWF-Brasil e parceiros lançaram o estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020. A pesquisa indica uma série de medidas que se forem implantadas pelo governo brasileiro devem gerar:

  • Economia de R$ 33 bilhões em investimentos;
  • Geração de oito milhões de empregos;
  • Diminuição do desperdício de energia em até 38% da expectativa de demanda;
  • Estabilização das emissões dos gases causadores do efeito estufa e vai afastar fantasma de novos apagões.

Participe!

Clique aqui e envie uma mensagem para as autoridades brasileiras pedindo que sejam adotadas as medidas propostas pelo estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020 no Plano Nacional de Energia 2030 e deixem que o Brasil continue sendo referência nas questões de geração de energia limpa >>

Durante a COP12, Greenpeace exige que os governantes ajam agora para salvar o clima

O Greenpeace fez hoje um pedido urgente aos governos participantes da 12ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas, COP12, em Nairóbi, para que eles enfrentem o aquecimento global como uma realidade e ajam urgentemente evitando alterações ainda maiores no clima do planeta. O principal foco da reunião é encontrar um consenso no estabelecimento de metas para a implementação do segundo período do Protocolo de Kyoto, que começaria em 2012.

"Não podemos esperar os cinco anos que foram necessários para negociar o acordo de Kyoto, simplesmente não temos mais tempo. Isso é urgente. As partes reunidas aqui devem sair com um acordo efetivo para garantir que as emissões de gases do efeito estufa sejam reduzidas. Tanto países desenvolvidos como os em desenvolvimento têm que assumir sua responsabilidade como emissores de gases do efeito estufa e se comprometer com metas de redução para o segundo período do Protocolo de Kyoto, para salvar o planeta Terra de um colapso climático”, afirmou Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil.

O debate sobre o aumento da temperatura no planeta teve início hoje, na África sub-saariana, e vem sendo aguardado como uma iniciativa que irá propor soluções sobre como os países podem se adaptar às mudanças climáticas. Além disso, a reunião também pede atenção à necessidade de apoio urgente à população mais pobre do mundo, que já está sendo impactada pelas mudanças climáticas.

A versão internacional do documentário e do relatório do Greenpeace “Mudanças do clima, mudanças de vidas”, lançados hoje em Nairóbi, expõem exatamente a fragilidade dos paises em desenvolvimento frente às mudanças climáticas e confirmam que os efeitos dessas mudanças já são uma realidade para o povo brasileiro. Os materiais apresentam testemunhos de vítimas do aquecimento global na Amazônia, no Nordeste, no Sul e na zona litorânea brasileira. O relatório e o documentário mostram ainda as relações entre a destruição da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, e o aquecimento global, e como o desmatamento e as queimadas fazem do Brasil o quarto maior emissor de gás carbônico do planeta.

“O Brasil precisa assumir sua responsabilidade como grande emissor de gases de efeito estufa. O governo deve combater o desmatamento de maneira implacável, promover as energias limpas e os programas de economia de energia. Os brasileiros têm todo o direito de saber onde somos mais vulneráveis aos efeitos devastadores do aquecimento global e como vamos reduzir nossa contribuição a este problema,” afirma Carlos Rittl, coordenador da campanha de clima do Greenpeace Brasil.

“Os 163 governos que assinaram o protocolo de Kyoto precisam colocar de lado seus interesses de curto prazo em favor da luta contra essa ameaça global. Isso é do interesse de todos em longo prazo”, disse Steve Sawyer, Conselheiro de Mudanças Climáticas e Políticas Energéticas do Greenpeace Internacional.

Outra atividade desenvolvida pelo Grenepeace durante a COP12 é a participação de uma delegação jovem, a Geração Solar, que estará ressaltando os impactos das mudanças de clima na África.

Mudanças climáticas podem representar grande risco econômico para o planeta

O relatório “Stern Review”, lançado nesta segunda-feira, 30 de outubro, pelo especialista em mudanças climáticas do governo do Reino Unido, o economista Sir Nicholas Stern, ratifica a urgência de se tomar atitudes sobre o aquecimento do planeta na próxima Conferência das Partes sobre clima (COP 12). A reunião da ONU acontece na próxima semana em Nairobi, no Quênia.

“A economia de todos os países está em risco se o planeta for superaquecido”, alerta a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú. O relatório mostra que se não começarmos a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, todos irão sofrer com secas e furacões e outros desastres causados pelas mudanças climáticas. “É preciso um esforço global para estabilizar o efeito estufa agora, antes que seja tarde demais. O Brasil pode começar a dar o exemplo diminuindo suas emissões oriundas do desmatamento”, afirma Hamú. O Brasil é o 4º. país no ranking dos que mais liberam gases causadores do efeito estufa ao queimar madeira para desmatar. Essas queimadas são responsáveis por 75% das emissões brasileiras.

O relatório afirma ainda que os custos mundiais para combater as mudanças climáticas serão de aproximadamente 1% ao ano do Produto Interno Bruto (PIB) Global. Caso estes investimentos não sejam feitos imediatamente, para amenizar os estragos futuros decorrentes do aumento de temperatura, o montante gasto seria de até 20% do PIB Global anual.

“Os países em desenvolvimento, como o Brasil, serão os mais prejudicados, pois não teremos recursos dessa ordem para investir em adaptação às mudanças do clima”, explica Karen Suassuna, técnica em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.

Para a rede WWF, é preciso que os 189 governos reunidos na próxima semana em Nairobi produzam uma estratégia clara e efetiva para o protocolo de Quioto Pós-2012, garantindo a redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa. Além disso, os países em desenvolvimento devem ter acesso ao dinheiro que já está garantido a eles no fundo de desenvolvimento limpo contra os impactos das mudanças climáticas.

Os países em desenvolvimento não têm metas para as reduções de emissões, mas o Brasil irá propor um mecanismo voluntário de reduções compensadas para o desmatamento, o que a princípio pode ser uma boa saída e estimulo às reduções. “Mas ainda não está claro de onde virá o dinheiro, pois os recursos internacionais já destinados para conter as mudanças climáticas não podem ser desviados. Teria de ser injetado mais dinheiro dos países desenvolvidos especificamente para este mecanismo”, alerta Suassuna.

Outro ponto importante diz respeito às emissões do setor elétrico, segundo o relatório, é que elas terão de ser reduzidas em, no mínimo, 60% até 2050 neste setor. No Brasil, a matriz elétrica é invertida em relação aos demais países, ou seja, a maior parte de nossa eletricidade é gerada através de hidrelétricas. “Mas o país tem dado sinais claros de que pretende aumentar a parcela de combustíveis fósseis. Isto é estar na contramão da história, temos de continuar sendo exemplo, temos um enorme potencial para tecnologias como solar, eólica e biomassa, sem falar da eficiência energética, forma mais barata de dispor de energia” afirma Suassuna. “É preciso ter metas claras para reduzir drasticamente o desmatamento e investir em eficiência e renováveis é a nossa lição de casa para contribuir positivamente com o clima do planeta”, completa.

Greenpeace encerra, em Manaus, expedição para alertar brasileiros sobre os efeitos perversos das mudanças climáticas

Há um ano, uma seca extrema atingiu diversos municípios da Amazônia, mudando a paisagem da região: barcos encalhados em enormes bancos de areia, milhares de peixes mortos nos rios e comunidades inteiras de ribeirinhos sem comida ou água boa para consumo.

De acordo com cientistas, o desmatamento e as queimadas afetam a formação de nuvens de chuvas, o que diminui a precipitação sobre a Amazônia. O aquecimento global torna a floresta mais seca e vulnerável à destruição. Estima-se que, em algumas décadas, este efeito perverso do desmatamento e das mudanças climáticas pode ser irreversível e a floresta amazônica pode desaparecer. “Se a Amazônia perder mais de 40% de sua cobertura florestal, nós atingiremos um ponto onde será impossível reverter o processo de savanização da maior floresta tropical do mundo”, disse Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e presidente do Programa Internacional de Geosfera Biosfera (IGBP).

O círculo é vicioso: a destruição das florestas diminui a formação de nuvens de chuva, tornando a região mais seca. Por sua vez, florestas mais secas são mais suscetíveis às queimadas e aos efeitos do aquecimento global, como por exemplo a alteração do clima na região amazônica, favorecendo climas mais secos, novas queimadas e mais emissão de carbono. O desmatamento e as queimadas na Amazônia são responsáveis por mais de 75% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa, colocando o Brasil entre os quatro maiores emissores do mundo.

Essas são apenas algumas das evidências científicas dos efeitos do aquecimento global expostas pela campanha “Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas”, que o Greenpeace lança hoje em Manaus, capital do Amazonas. Testemunhos de vítimas do aquecimento global na Amazônia, no Nordeste, no Sul e na zona litorânea brasileira são apresentados em um relatório e um documentário.

“O Brasil precisa assumir sua responsabilidade como grande emissor de gases de efeito estufa. O governo deve combater o desmatamento de maneira implacável, promover as energias limpas e programas de economia de energia, afirma Carlos Rittl, coordenador da campanha de clima do Greenpeace. “Os brasileiros têm todo o direito de saber onde somos mais vulneráveis aos efeitos devastadores do aquecimento global e como vamos reduzir nossa contribuição ao problema. A Amazônia, por exemplo, é uma das regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas por causa da sua enorme diversidade de ambientes e espécies”, explica.

O relatório e o documentário mostram também como as mudanças nos padrões de produção e consumo de governos, indústrias e cidadãos podem evitar que o cenário de mudanças climáticas, que já é grave, se torne irreversível e catastrófico para toda a vida do planeta nos próximos anos.

O documentário está sendo distribuído gratuitamente para fins educacionais para organizações não-governamentais, escolas, fundações, instituições de pesquisa e universidades em todo o Brasil.

Desmatamento: é preciso ter metas claras para manter queda do índice

A redução, pela segunda vez seguida, da taxa de desmatamento na Amazônia comunicada hoje pelo governo é com certeza uma vitória da Ministra Marina Silva e sua equipe. Porém, é muito importante agora dar condições de governança para que a queda ocorra sempre. E isso só poderá acontecer se houver metas claras para a redução contínua do desmatamento, mais recursos para o plano de combate ao desmatamento, linhas de crédito para manejo florestal e um sistema de licenciamento integrado entre os estados.

Os números divulgados estimam que 13mil km2 foram devastados na região amazônica no período entre agosto de 2005 e agosto de 2006. O índice, calculado pelo sistema Prodes do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), representa um declínio de 30% na destruição da floresta em comparação com o mesmo período de 2004 a 2005.

Para o WWF-Brasil, as reduções atuais são resultantes de várias iniciativas pontuais e conjunturais como a valorização do real frente ao dólar, a queda nos preços da soja e da carne no mercado internacional nos últimos dois anos e a criação do plano de combate ao desmatamento. “Não podemos continuar reféns de conjunturas e ações pontuais para conservar a floresta Amazônica. Precisamos imediatamente fortalecer o plano de combate ao desmatamento”, afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.

A redução da taxa de desmatamento na Amazônia influi diretamente nas mudanças climáticas. Cerca de 75% das emissões brasileiras de gases causadores do efeito estufa são provenientes das queimadas feitas para desmatar. Quando esse índice é levado em conta, o Brasil se torna o quarto país no ranking dos vilões do aquecimento global. A proposta de redução compensada de desmatamento que o Brasil irá levar para a 12ª. Conferência das Partes sobre Clima, em Nairobi, no próximo mês mostra a vontade brasileira em contribuir para que o planeta não sofra tanto com as mudanças climáticas.

“É por isso que a proposta de redução compensada tem que ser bem discutida e que as metas de diminuição do desmatamento adotadas sejam feitas em percentuais em relação ao ano anterior”, diz Mauro Armelin, coordenador de Políticas públicas do WWF-Brasil. “Isso garantirá que a redução do desmatamento seja contínua e não que uma taxa altíssima, como a de 2004, seja tomada como referência para outros anos”, completa.

Cerca de 30% das emissões de gases poluentes vêm de automóveis

Esta sexta-feira, 22 de setembro foi dia de deixar o carro na garagem. De acordo com o Instituto Rua Viva, 51 cidades brasileiras e 17 capitais participam hoje da 6ª Jornada na Cidade sem Meu Carro. Em todo o mundo, a data já é comemorada em 1.400 cidades de 40 países.

Dados do o Ministério do Meio Ambiente revelam que no Brasil cerca de 30% das emissões de gases causadores do efeito estufa são provenientes do setor de transportes.

Para marcar a data, em que também se comemora o Diam Mundial do Pedestre, o Ministério das Cidades promoveu uma série de palestras sobre o tema e abriu a exposição fotográfica Bicicletas pelo Mundo.

Para Leandro Salin, presidente da Organização Não-Governamental Rodas da paz, é possível que as pessoas usem a bicicleta como meio de transporte.

“Antigamente a única justificativa para usar a bicicleta era a saúde e a ecologia. Hoje o que acontece é que as pessoas não encontram vagas nos grandes centros urbanos. Isso tem provocado o aumento no uso de bicicletas”.