Terça-feira, 22/05/2001

Noite passada, uma onça andou passeando aqui pelo Posto Leonardo. Logo após uma apresentação de uns índios Guaranis, de São Paulo, que vieram conhecer o Xingu, ficamos conversando com o pessoal que trabalha aqui no posto. Às 11h e pouco, desligaram o gerador, nossas únicas fontes de luz ficaram sendo um lampião e uma lanterna com as pilhas fracas, ou seja, não dava pra enxergar muito longe. Bem, não sei se a escuridão deu asas à imaginação, mas o Fernando e uma colega, a Danuzia Maria, garantiram que ouviram um esturro perto de onde estávamos. Na dúvida, cada um pegou o rumo de suas respectivas casas. No caminho, o Pedro apontou a lanterna pro mato e viu uns olhos brilhando. Na hora ele duvidou que fosse alguma coisa, mas hoje de manhã o assunto não foi outro. Ficamos sabendo que encontraram pegadas de uma onça perto dos alojamentos e que, de manhã bem cedo, uma indiazinha viu o bichano à beira do rio, que não fica a 20 metros de onde estamos dormindo.

Por aqui, onça é um perigo real. Ninguém tem medo de piranha, jacaré ou cobra, mas a onça todos respeitam. Já ouvimos mil histórias e os índios do posto dizem que já apareceu onça na porta de casa, às 10h30 da noite e com o gerador ligado, para tentar comer um cachorro. Sair pra pescar ou caçar a noite desarmado é loucura. Por aqui, o apagar do gerador é um toque de recolher.

Outro perigo de verdade é sucuri. Não faz um mês que uma indiazinha foi pega por uma perto da aldeia Waurá. Por sorte um menino estava por perto e teve coragem pra dar uma paulada na cabeça da cobra, que largou a garotinha e fugiu. A proximidade da sucuri faz parte do cotidiano das aldeias. Nos Yawalapiti, por exemplo, os jovens mais corajosos atiçam a cobra para que ela os morda e cortam seu rabo, que é um símbolo de coragem e usado em vários rituais da tribo.

Pedro e Fábio

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