Impactos Ambientais no Velho Chico

Se o São Francisco tem problemas desde sua nascente, foi no remanso da represa de Três Marias onde a Expedição Américo Vespúcio encontrou os maiores impactos ambientais. O próprio reservatório, inaugurado em 1961, gera problemas irreversíveis para o rio.

Podemos dizer que este impacto foi calculado, afinal, o país precisa de energia e estamos num momento difícil, em que é necessário rediscutir os modelos energéticos brasileiros. A situação no reservatório, por exemplo, é crítica. Segundo dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a usina está funcionando com apenas 9,6% da capacidade útil, percentual que deve ser comemorado, devido a recuperação do nível da água pelas chuvas. Antes o índice estava abaixo dos 8%.

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Árvores submersas aparecem devido ao baixo nível d´água no reservatório da represesa de Três Marias, MG. Foto: Fernando Zarur

Quando o reservatório chegar a zero, não haverá água saindo para o São Francisco. A barragem continuará com água, mas esta não chegará ao rio porque a represa não tem válvula de pé, uma espécie de saída de emergência para níveis muito baixos. E como a represa chegou a níveis tão baixos? Há várias respostas, mas durante anos Três Marias é a válvula que regula o fluxo d’água para o Velho Chico.

Três Marias deixou de representar muito na produção de energia nacional, abastecendo apenas Belo Horizonte e algumas cidades da região norte de Minas. Sua principal função tem sido regular o nível do lago de Sobradinho, vários quilômetros abaixo no rio. Ainda nesse momento, o volume das águas que entram na represa é de 180 m³/segundo, enquanto as turbinas trabalham com uma vazão de 400 m³/s. A Cemig, dona da represa, garante que não há possibilidade de que o rio pare, mas para quem nunca pensou que a represa estaria tão baixa, ainda restam dúvidas.

Uma das pessoas que mais duvida da real responsabilidade de empresas e órgãos reguladores é Vicente de Paula Rezende, fundador da ong Voluntários Integrados em Defesa Ambiental, Vida. Sobre a represa, ressalta que o negócio ainda é muito lucrativo, e que a água a mais que sai tem destino certo: “a água virou commoditie, estamos trocando água por quilowatts”.

Há algumas ações que podem ser tomadas para reverter esse quadro, mas a maioria se afasta da barragem. Entre o Paraopeba, principal afluente do Velho Chico na região, e o próprio São Francisco, há uma área com cerca de 1600 km², onde 80% dos solos estão expostos e em processo de desertificação. É o que acontece quando há desmatamento e mau uso do solo. Para se somar ao problema, várias áreas foram reflorestadas com eucaliptos, que suga o solo a grandes profundidades, secando nascentes.

Os desmatamentos coincidem com as regiões de nascentes e veredas, as principais fontes de água para o São Francisco e seus afluentes. “Revitalizar o rio é antes de mais nada resgatar as veredas, que são as mães das águas”, defende Vicente. Duas ações são propostas por ele: defender o que ainda está intacto e reter as águas de chuva com pequenas barragens nas propriedades rurais.

Com ele concorda Ruy Jarí, agente de fiscalização do Ibama de Três Marias: entre as ocorrências mais comuns estão garimpos artesanais de diamante, no rio Abaeté, altamente degradantes; carvoarias queimando matas nativas; esgotos de grandes cidades, como Belo Horizonte e Betim; e uso de agrotóxicos à margem do Velho Chico. Para fiscalizar tudo isso, ele conta com apenas dois barcos, um carro e quatro funcionários.

A situação no lago foi agravada em 1968, sete anos após o início das atividades da represa de Três Marias, com a instalação às margens do rio da Companhia Mineira de Mineração (CMM), uma fábrica de zinco de propriedade do grupo Votorantin. Os dejetos eram despejados no rio e, segundo os pescadores, de 1968 até 1990 a mortandade média de pescado no reservatório chegou a 10 toneladas por ano. Em 1991 a CMM iniciou um trabalho de conservação ambiental, retirando a saída de dejetos e tentando recuperar o impacto ambiental.

Ao lado da fábrica há uma verdadeira montanha de lama com altas concentrações de metais. “Nós não escondemos o que fizemos no passado, mas a CMM tem se empenhado em consertar o estrago”, defende-se Edimárcio Araújo Prudente, técnico em meio ambiente que trabalha na empresa, reportando que uma nova área de depósito está em construção, e 260 toneladas por dia de dejetos serão retirados do monte já existente. A operação de retirada deve durar 20 anos.

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