Os vapores e as histórias de Itacarambi

É um tanto intangível para as gerações mais novas imaginar porque o Velho Francisco foi o Rio da Integração Nacional. Rio de Janeiro era a capital, e o Nordeste era o Brasil a que ela se integrava. Mas isso fica ainda mais claro quando ouvimos as histórias de quem viveu essa época exatamente no meio do caminho, entre Pirapora – MG e Juazeiro – BA, no porto de Itacarambi – MG.

vapores_1.jpgSeo Jaime Pacheco, 76 anos, 40 pescando no São Francisco, lembra-se muito bem da época em que 12 vapores faziam o trajeto, trazendo riqueza e comércio para a região. “Na época da guerra os vapores foram a salvação”, lembra-se orgulhoso. “Os expedicionários brasileiros subiram dentro dos vapores para embarcar para a Europa, evitando serem torpedeados pelo inimigo”, lembra-se orgulhoso.

“Durante a guerra os vapores foram a salvação”, lembra-se seo Jaime. Foto: Marcello Larcher

vapores_2.jpgDona Floripes Leles de França Andrada, 75 anos, foi ainda menina para Itacarambi, aos 13 anos partiu de sua Bahia natal no Barão de Cotegipe, um dos vapores mais famosos. Em Minas cresceu, casou-se, trabalhou por 25 anos no grupo escolar e criou seis filhos. Aliás, fica difícil saber o que é Minas e o que é Bahia, tudo fica um sertão só.

Dona Floripes, veio da Bahia mas considera-se mineira. Foto: Marcello Larcher

vapores_3.jpgOutro que veio da Bahia foi seo Salustiel Leão de Sousa, 79 anos. Ele se ressente dos vapores ancorados em Juazeiro e Pirapora e da falta de peixes. Ele diz que antes das barragens o rio corria mais, e que assim parado ele come as margens, mata as árvores e afasta os peixes. Para ele a solução só Deus pode dar, pois são as chuvas que trazem as cheias. Mal sabe seu Salatiel que, com Três Marias e Sobradinho, as cheias só podem vir por obra das comportas.

Para seo Salustiel, só um milagre pode salvar o rio. Foto: Marcello Larcher.

Conhecimento e respeito pelo Velho Chico

Poucos conhecem o São Francisco tão bem quanto aqueles que tiram seu sustento do rio. Os pescadores conhecem cada curva, barranca e pedra do seu local de trabalho. São barranqueiros e ribeirinhos, de Iguatama a Três Marias, que contam seus problemas, sugerem soluções e pedem ajuda para a preservação do Velho Chico.

conhecimento_2.jpgAos 60 anos de idade, José Maurício de Campos, conhecido como seo Mauricinho, tem mais de trinta só de pesca profissional nos arredores de Iguatama. Ele explica que no começo tinha peixe e água demais, e os pescados incluíam o surubin, dourado, pirá, agrumatã, piau e muitos outros.

Na opinião de seo Mauricinho, os maiores culpados são os ranchos montados na beira dágua, onde muitos turistas vão caçar e pescar, mesmo durante a piracema, época de desova, quando a pesca é proibida. Ele explica que a técnica é amarrar redes em canoas para encurralar o peixe. Além disso, ele diz que estão matando também as capivaras da região. "Eles acendem um cilibriu (farol) e iluminam o olho dela, aí ela fica boba e eles atiram".

“Espero que meus netos ainda vão pescar muito no São Francisco”, afirma seo Clotário. Foto: Fernando Zarur

Mesma opinião compartilha seu Zé Botinha, 75 anos, natural de Iguatama. Ele, que trabalhou como candango na construção de Brasília, diz ter voltado para sua terra em busca de um pouco mais de tranqüilidade. Assim, todos os dias, cata minhocas e, com uma vara de bambu, vai para a beira do rio pescar. Mas acha que, ultimamente, os peixes estão cada vez mais escassos: “tem dia que passo todo sentado aqui e só pego uns três mandizinho”, reclama, se referindo a quantidade e tamanho da espécie de bagre, comum na região.

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Seu Zé Botinha pesca com vara e linha em uma barranca do Velho Chico, única alternativa para os pescadores da região. Foto: Bruno Radicchi.

conhecimento_3.jpgSeo Clotário Pinheiro, 67 anos no São Francisco, 28 de pesca profissional, conta uma história parecida: poluição, pesca predatória e depredação. “Eu mesmo já ajudei a matar um pouco o rio, antigamente pescava na piracema, pescava com qualquer rede, hoje está tudo regulado, a malha tem um tamanho certo e a fiscalização está em cima”.

Rio abaixo, numa ponte sobre o São Francisco que divide os municípios de Abaeté e Martinho Campos, mora outro pescador chamado Paulo Emiliano. Aos 42 anos, o ex-policial reformado abandonou Belo Horizonte para morar num barraco improvisado debaixo da rodovia. “Não troco isso daqui por nada, é meu hotel cinco estrelas”, brinca.

“A gente não respeitava nada, pescava com rede tão fina que parecia forro de mesa”, brinca seo Mauricinho. Foto: Fernando Zarur

Acompanhado de dois cachorros, ele trabalha em fazendas da região e volta todo dia para seu lar. Nesse cotidiano há três anos, ele afirma ajudar na preservação do rio, retirando lixo da água. Os detritos mais comuns são garrafas, copos e sacos plásticos. Ele reclama da falta de consciência das pessoas: “no rio só se joga o que peixe come”.

Além disso, confirma das denúncias dos outros companheiros de profissão. Assim como em Iguatama, ali a fauna próxima ao rio também está minguando. “Paca, capivara, isso está desaparecendo. Fico ainda mais triste quando aparece gente aí para pegar passarinho”, conta Paulo.

Outro problema sério é a drenagem de lagoas marginais. Os fazendeiros costumam drenar essas áreas que servem como berçário de várias espécies de peixes para ganhar alguns metros de pasto. "Se quisermos ter peixes, temos de salvar essas lagoas" indigna-se Norberto, líder da Associação de Pescadores da represa de Três Marias, que tem mais de 1200 membros.

Para piorar a situação, uma lei mineira proibiu a pesca profissional ao longo do rio. Em busca de um culpado para a diminuição de peixes no São Francisco, acharam uma classe fácil de se culpar: os pescadores. Dessa forma marginalizam ainda mais os pescadores, já empobrecidos, que agora precisam agir fora da lei. “Há 35 dias aguardamos o salário desemprego que o governo federal prometeu aos pescadores da região”, reclama Norberto.

Todos apresentam também soluções para os problemas que o rio enfrenta. Seo Clotário reivindica que se durante os três meses que dura piracema não se pode pescar, medida que considera certíssima, que os pescadores recebam incentivos para plantio ou outra atividade. Seo Mauricinho, bastante afinado com o colega, está esperançoso. "O rio tem salvação, acho que este trabalho de revitalização é muito bom. Espero que meus netos ainda vão pescar muito no São Francisco", diz.

Os pescadores da represa de Três Marias planejam vôos mais altos. Já há projetos de pecuária de pescados às margens do São Francisco, e uma alternativa para o sustendo dos pescadores é a criação de peixes em tanques, mas com qualidade de agronegócio. “Se o projeto que começou em Januária der certo, vamos começar ainda este ano”, espera Norberto.

Impactos Ambientais no Velho Chico

Se o São Francisco tem problemas desde sua nascente, foi no remanso da represa de Três Marias onde a Expedição Américo Vespúcio encontrou os maiores impactos ambientais. O próprio reservatório, inaugurado em 1961, gera problemas irreversíveis para o rio.

Podemos dizer que este impacto foi calculado, afinal, o país precisa de energia e estamos num momento difícil, em que é necessário rediscutir os modelos energéticos brasileiros. A situação no reservatório, por exemplo, é crítica. Segundo dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a usina está funcionando com apenas 9,6% da capacidade útil, percentual que deve ser comemorado, devido a recuperação do nível da água pelas chuvas. Antes o índice estava abaixo dos 8%.

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Árvores submersas aparecem devido ao baixo nível d´água no reservatório da represesa de Três Marias, MG. Foto: Fernando Zarur

Quando o reservatório chegar a zero, não haverá água saindo para o São Francisco. A barragem continuará com água, mas esta não chegará ao rio porque a represa não tem válvula de pé, uma espécie de saída de emergência para níveis muito baixos. E como a represa chegou a níveis tão baixos? Há várias respostas, mas durante anos Três Marias é a válvula que regula o fluxo d’água para o Velho Chico.

Três Marias deixou de representar muito na produção de energia nacional, abastecendo apenas Belo Horizonte e algumas cidades da região norte de Minas. Sua principal função tem sido regular o nível do lago de Sobradinho, vários quilômetros abaixo no rio. Ainda nesse momento, o volume das águas que entram na represa é de 180 m³/segundo, enquanto as turbinas trabalham com uma vazão de 400 m³/s. A Cemig, dona da represa, garante que não há possibilidade de que o rio pare, mas para quem nunca pensou que a represa estaria tão baixa, ainda restam dúvidas.

Uma das pessoas que mais duvida da real responsabilidade de empresas e órgãos reguladores é Vicente de Paula Rezende, fundador da ong Voluntários Integrados em Defesa Ambiental, Vida. Sobre a represa, ressalta que o negócio ainda é muito lucrativo, e que a água a mais que sai tem destino certo: “a água virou commoditie, estamos trocando água por quilowatts”.

Há algumas ações que podem ser tomadas para reverter esse quadro, mas a maioria se afasta da barragem. Entre o Paraopeba, principal afluente do Velho Chico na região, e o próprio São Francisco, há uma área com cerca de 1600 km², onde 80% dos solos estão expostos e em processo de desertificação. É o que acontece quando há desmatamento e mau uso do solo. Para se somar ao problema, várias áreas foram reflorestadas com eucaliptos, que suga o solo a grandes profundidades, secando nascentes.

Os desmatamentos coincidem com as regiões de nascentes e veredas, as principais fontes de água para o São Francisco e seus afluentes. “Revitalizar o rio é antes de mais nada resgatar as veredas, que são as mães das águas”, defende Vicente. Duas ações são propostas por ele: defender o que ainda está intacto e reter as águas de chuva com pequenas barragens nas propriedades rurais.

Com ele concorda Ruy Jarí, agente de fiscalização do Ibama de Três Marias: entre as ocorrências mais comuns estão garimpos artesanais de diamante, no rio Abaeté, altamente degradantes; carvoarias queimando matas nativas; esgotos de grandes cidades, como Belo Horizonte e Betim; e uso de agrotóxicos à margem do Velho Chico. Para fiscalizar tudo isso, ele conta com apenas dois barcos, um carro e quatro funcionários.

A situação no lago foi agravada em 1968, sete anos após o início das atividades da represa de Três Marias, com a instalação às margens do rio da Companhia Mineira de Mineração (CMM), uma fábrica de zinco de propriedade do grupo Votorantin. Os dejetos eram despejados no rio e, segundo os pescadores, de 1968 até 1990 a mortandade média de pescado no reservatório chegou a 10 toneladas por ano. Em 1991 a CMM iniciou um trabalho de conservação ambiental, retirando a saída de dejetos e tentando recuperar o impacto ambiental.

Ao lado da fábrica há uma verdadeira montanha de lama com altas concentrações de metais. “Nós não escondemos o que fizemos no passado, mas a CMM tem se empenhado em consertar o estrago”, defende-se Edimárcio Araújo Prudente, técnico em meio ambiente que trabalha na empresa, reportando que uma nova área de depósito está em construção, e 260 toneladas por dia de dejetos serão retirados do monte já existente. A operação de retirada deve durar 20 anos.

Revitalização do São Francisco

Antes de ouvirmos falar da revitalização do Velho Chico o que estava em pauta era um assunto muito menos consensual, a transposição do rio. Tratava-se de um projeto que tiraria águas do São Francisco, na altura de Cabrobó-PE, e levaria para o interior do semi-árido nordestino, a região mais seca e sofrida do País, atendendo áreas do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Como a transposição se transformou em revitalização? Há várias justificativas, e apenas uma delas é a falta de água no rio. Quando o governo Fernando Henrique elaborou seu primeiro Plano Plurianual, havia R$2 bilhões para um projeto de transposição de águas do São Francisco. É bom lembrar que um real valia um dólar naquela época. Esses recursos chamaram a atenção políticos de todo o país, e uma verdadeira ofensiva foi montada.

Na imprensa, as manchetes tratavam do projeto como “desvio” do São Francisco, e caciques como Antônio Carlos Magalhães dispararam críticas. Na época, atribuíram a ACM a idéia de que se o governo faria projetos de irrigação, que eles fossem na Bahia, por onde o rio já passava. A idéia não colou.

A pura falta d’água não poderia barrar a execução do projeto, era necessário criar essa polêmica. Para discutir o assunto em números, a transposição de águas teria uma vazão média anual máxima de 64 m³/s.

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Canal principal de bombeamento do projeto Jaíba, em Matias Cardoso-MG. Com sete quilômetros de extensão, serve para irrigar cerca de 28 mil hectares da região norte de Minas Gerais, uma das mais pobres do estado. Foto: Marcello Larcher Foto: Marcello Larchererca de 60 mil hectares. Foto: Bruno Radicchi

Hoje, o rio fornece 330 m³/s em todos os projetos de irrigação instalados, e apenas a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) tem uma outorga d’água (documento que autoriza a utilização) de 80 m³/s para o projeto Jaíba, na Bahia. Qual seria o problema então? Todos queriam uma fatia do bolo de recursos dessa transposição.

Mas o que parecia apenas esconder más intenções acabou servindo a uma boa causa. O debate acabou despertando as opiniões para a importância do rio São Francisco. Foi a partir daí que os problemas vieram à tona, o lixo, o assoreamento, a falta d’água e de peixes. Esse ano outro fator entrou em jogo: o racionamento de energia. Se já haviam descoberto que o rio tem problemas, de repente viram que esses problemas podem afetar a vida de todos, como quando um apagão está à vista.

E assim foi montado o Projeto de Conservação e Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, num decreto assinado em junho pela Presidência da República. Revitalização, aliás é a palavra da moda. Entre os programas estão a regularização do rio, com 11 barragens, o repovoamento de peixes, a despoluição e o tratamento de esgoto em todas as regiões, a recuperação de áreas degradadas, reflorestamentos e ações de educação ambiental.

Mas essas ações devem demorar pelo menos uma década para surtir grandes efeitos. A parte de regularização, por exemplo, que deve aumentar em 500 m³/s a vazão do rio, está em estudos, e as obras não começam em menos de seis anos, como nos informou José Ancelmo de Góis, diretor de Planejamento da Codevasf. “Estas obras são caras e irreversíveis, não podemos economizar em estudos ou adiantar as coisas, a Codevasf fez isso no passado e os resultados são vexames até hoje”, explica. Só com a regularização e aumento da oferta d’água já será possível desenvolver alguns projetos de irrigação, assim como programar cheias artificiais, que ajudam os peixes a procriar.
 

Pequeno exemplo às margens do Velho Chico

O rio São Francisco guarda algumas surpresas às suas margens, e uma delas é a pequena cidade de Itacarambi – MG. Com pouco mais de 17 mil habitantes, a cidade é toda arborizada, pintada com cores alegres, bem limpa e hospitaleira. Há pouco tempo a cidade foi elogiada num encontro de prefeitos ribeirinhos que reuniu representantes de cinco estados na nascente do rio, em São Roque de Minas. O motivo é que Itacarambi não polui o Velho Chico.

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A pintura de ruas e casas em Itacarambi – MG é uma das medidas para cativar turistas. Foto: Marcello Larcher

Estranhando a festa estava José Ferreira de Paula, agricultor que mora na cidade há 28 anos e há 19 está à frente da prefeitura da cidade. “Falaram lá em São Roque que Itacarambi não polui, mas isso é porque a prefeitura nunca teve dinheiro para jogar o esgoto no rio, se tivesse, estava poluindo”, afirma o prefeito. “Ninguém tinha informação, e o sonho da nossa administração era ganhar esgoto igual ao de todas as outras cidades”, justifica-se.

José de Paula lembra-se de sua primeira administração, em que as fossas sanitárias da cidade foram construídas. Faz tempo que Itacarambi não tem esgoto a céu aberto, uma lição que o governo federal, por exemplo, só aprendeu há pouco tempo. Agora, quase 20 anos depois das fossas, a cidade está pronta para se integrar ao progresso: metade da rede de esgoto está pronta, e a outra parte está programada para 2002.

Mas quem acha que agora Itacarambi vai poluir está errado. “A Copasa está terminando uma estação de tratamento, e vamos passar para 100% de esgoto tratado”, orgulha-se o prefeito. O segredo José de Paula não esconde: continuidade administrativa. Desde que um grupo de pessoas entrou em sua casa e pediu que ele aceitasse a prefeitura, ele e seu grupo nunca deixaram de trabalhar pela cidade. “Não vou dizer que não temos adversários, mas nunca fomos derrotados, e continuamos à frente da prefeitura”, orgulha-se José de Paula.

“O que essa gente precisa fazer é botar a mão nas coisas. Quando estive em São Roque não ouvi um colega, só falou governador, deputado e ministro, mas quem conhece e vive o problema do São Francisco, os prefeitos que administram as margens, não foram ouvidos hora nenhuma”, ataca José de Paula.

O próximo passo do prefeito é preparar a cidade para o turismo. Jardins, praças e a limpeza das ruas estão em dia. “Não sonhamos com o turista das capitais, como Brasília ou Belo Horizonte. A cidade é pequena e o que queremos é o turista aqui da região mesmo, de Montes Claros, por exemplo”, afirma. Mas ao contrário do que parece Itacarambi tem um potencial enorme: são ilhas do São Francisco, cavernas, cachoeiras e veredas para serem conhecidos.

Lixo: O inimigo do rio

Desde sua nascente, o São Francisco sofre com um grave problema ambiental: despejo de lixo e esgoto urbano. Este tipo de ação pode provocar doenças e levar resíduos perigosos às águas, ameaçando a vida no rio e nas cidades ribeirinhas.

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Detritos jogados próximo ao porto de Xique-Xique-BA. Foto: Fernando Zarur

Com exceção de Itacarambi-MG, as mais de 15 cidades por onde esteve a Expedição Américo Vespúcio jogam seus detritos no rio. Na realidade, praticamente todos os 503 municípios que compõem a Bacia do São Francisco praticam este tipo de crime ambiental. Em certos pontos a sujeira trazida por tributários é o maior fator de poluição. O rio das Velhas, por exemplo, traz detritos desde Belo Horizonte para dentro do rio. Mesmo em cidades como Três Marias-MG, onde existe bom saneamento básico, muitas fazendas e casas ribeirinhas continuam a poluir diretamente o rio.

“Se pegássemos todas as garrafas de refrigerante que vimos boiando, seria possível construir uma enorme ilha flutuante”, afirma Ernesto Ferrante, um dos geólogos abordo da Expedição. Este tipo de fenômeno já foi observado pelo navegador Amyr Klink na costa brasileira e pode ser uma nova modalidade de catástrofe ambiental. Até Três Marias, o tipo de lixo mais comum são artigos de plásticos, esgotos e dejetos industriais.

A situação é ainda mais alarmante no Estado da Bahia. Em Xique-Xique, por exemplo, o porto é um dos lugares mais sujos da cidade. Além de funcionar como lixão, ali também deságua boa parte do esgoto local, sem tratamento. Para piorar, a captação de água para abastecimento da população é feita 100m rio abaixo, comprometendo a saúde dos habitantes.

O quadro é parecido em Carinhanha-BA, Barra-BA, Juazeiro-BA e na vizinha Petrolina-PE. Com o rio baixo, as dezenas de esgotos existentes são denunciados por uma planta conhecida na região como Baronesa, que cresce densamente nos curso desses córregos de sujeira. As indústrias também são fonte de problemas ambientais. Em Juazeiro, as praias do bairro Açari – tradicional reduto das lavadeiras e pescadores – foram praticamente inutilizadas por um curtume que funcionava no local.

Até hoje, por descaso político ou falta de recursos, nenhuma dessas cidades conta com programas eficientes para coleta de lixo e tratamento de esgoto. Tanto em bairros pobres, quanto nas áreas centrais, qualquer lugar serve de lixeira ou privada.

A esperança para revitalização do Velho Chico passa por um longo trabalho de conscientização dos ribeirinhos e educação ambiental. É necessária, também, uma mudança na mentalidade dos governantes regionais para garantir melhorias sociais e a realização de obras sérias e urgentes de saneamento básico.

Alternativa na Arte

A cidade de Barra, às margens do Velho Chico, na Bahia, já foi chamada de ‘Princesa do São Francisco’. Os encantos da terra são muitos: as belas dunas do vilarejo de Icatu, a força das lavadeiras na beira do rio, o agitado passado político e cultural. E, entre as inúmeras graças, destaca-se a habilidade da população com o barro.

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Totalmente artesanal, a produção de Barra não conta com nenhum tipo de maquinário, nem a tradicional roda com pedal. Foto: Marcello Larcher

A tradição ceramista do povo de Barra é antiga, resultado de uma combinação de fatores naturais e sociais. As barrancas do São Francisco são ricas em argila, o material usado na confecção das peças. E vasos e panelas, adornados ou não, sempre foram necessários para pescadores, marinheiros e donas de casa na realização de seus trabalhos.

Matéria-prima e habilidade, entretanto, não são motivos suficientes para sustentar a tradição. Por isso, com a intenção de profissionalizar seu trabalho, um grupo de artesãos se reuniu e há oito anos fundou a Associação de Cerâmica Comunitária Nossa Senhora de Fátima.

Inovadora para a região, a iniciativa reuniu 20 ceramistas que, juntos, conseguiram uma sede para desenvolver suas atividades. Hoje, dez trabalham diariamente na feitura de vasos, moringas, panelas, imagens e diversos enfeites, e também ensinam aos aprendizes, seus filhos e netos, as técnicas e peculiaridades do trabalho.

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Maria Aparecida dos Santos Araújo, primeira à direita, garante a renda de sua família com as peças de barro que fabrica. Foto: Bruno Radicchi

A importância social do grupo é cada vez maior. Ao longo destes anos, a associação foi uma alternativa de renda importante numa região onde há poucas perspectivas profissionais. “Meio cá, meio lá, dá para tirar o sustento da família”, explica Maria Aparecida dos Santos Araújo, artesã e chefe de uma das cinco famílias participantes da associação.

Além disso, existem os aprendizes que garantem um futuro se profissionalizando no artesanato. Manuel Vieira Júnior, de apenas 20 anos, é um exemplo do jovem talento local. Ele começou a trabalhar aos oito anos de idade, ajudando a mãe, e agora produz algumas das melhores figuras. Seu trabalho diferencia-se pelo traço fino, cores e outras sutilezas. “Acho que se não fosse o barro e nossa loja aqui, hoje eu não teria muita opção do que fazer”, afirma.

O terreiro do pai-de-santo José Geraldo Machado Assis, por exemplo, tornou-se mais que centro espiritual. Um dos principais produtores de cerâmica da cidade, o terreiro também reúne muitos aprendizes. O local reúne a produção de vários artesãos que trabalham com imagens típicas do sincretismo religioso. Gerard, como o pai-de-santo assina suas obras, começou a fazer suas primeiras figuras ainda menino, hoje sua casa virou escola, loja e ponto turístico.

Para os produtores, o maior desafio é ampliar e estruturar melhor os negócios, e para isso falta apoio institucional. Desde o início, o projeto recebe apoio do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e do Instituo Mauá, de Salvador, mas a prefeitura tem demorado a atender as necessidades da associação.

Até hoje, por exemplo, as peças só foram expostas em duas feiras – em Salvador e Belo Horizonte – devido a falta de meios e recursos para transportá-las e vendê-las em outros locais. “Uma vez nós alugamos um caminhão e enchemos de peças para levar até Salvador. Chegou tudo quebrado, só salvou uns dois vasos”, lembra Maria Aparecida. A produção, com exceção de alguns trabalhos encomendados pelo Instituto Mauá, é vendida para a população local ou para os turistas que eventualmente aparecem na cidade.

Na prefeitura, uma das reivindicações atuais é apoio para conseguirem um ateliê maior, o que aumentaria a capacidade de produção e o número de pessoas empregadas. Outro problema local grave é a extração de barro. Uma das argilas usadas é encontrada apenas numa ilha do rio Grande e hoje o terreno é propriedade de olarias locais. Além de causar séria degradação ambiental, estas empresas estariam se negando a ceder a matéria prima para o artesanato, que consome cerca de cinco caminhões por ano.

Mesmo com estas dificuldades, os artesãos ceramistas de Barra são uma das forças mais criativas e, ao mesmo tempo, desconhecidas do município. As peças retratam os detalhes da cultura regional, sob forte influência do Velho Chico. São dezenas de surubins, piranhas, lavadeiras, pescadores, barcos, orixás e santos, principalmente São Francisco.

A fé no Bom Jesus

A religiosidade do povo brasileiro expressa-se ao longo do Velho Chico: cada cidade, povoado e lugarejo, por menor que seja, conta com uma capela ou igrejinha. Às margens do rio, também está um dos mais famosos pontos religiosos do nordeste, o Santuário de Bom Jesus da Lapa. Verdadeira Meca dos sertões, a igreja regula a vida da cidade que leva seu nome e atrai milhares de romeiros todos os anos.

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Para o padre Tadeu Mazokievski a cidade precisa preparar-se para receber os turístas. Foto: Fernando Zarur

Considerada milagrosa, a gruta de Bom Jesus da Lapa tornou-se um dos maiores símbolos religiosos do interior. As histórias são muitas: paraplégicos voltam a andar e cegos a enxergar, inimigos se reconciliam, outros se arrastam de joelhos e há quem não agüente e morra só de tocar o chão sagrado. O povo se reúne aos milhares na esperança de conseguir favores e agradecer uma benção. Numa região de natureza sofrida e, principalmente, negligenciada por seus governantes, a gruta de Bom Jesus da Lapa representa a esperança na fé, muitas vezes a única que prevalece.

Por causa disso, na Bahia, o município só perde em potencial turístico para grandes centros como Salvador e Porto Seguro. Em 6 de agosto, 15 de setembro e 4 de outubro – Festa do Bom Jesus, Nossa Senhora da Soledade, Festa do Romeiro – mais de 200mil visitantes lotam a cidade de apenas 50mil habitantes. A estimativa anual indica um fluxo de turistas em torno de um milhão de pessoas. “Em dia de festa, não dá para andar, todo lugar tem gente”, explica Expedito Nunes, funcionário local da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).

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O escultor Cosmo Duarte ao lado do trabalho que leva oito meses para ser feito e não tem saída porque, segundo ele, o turista não fica mais na cidade. Foto: Fernando Zarur

Entretanto, esse fluxo de romeiros esbarra na falta de infra-estrutura local. Não existem leitos suficientes, e muitos precisam alugar quartos ou camas nas casas ao redor do santuário ou acampar nas margens do São Francisco. Segundo o padre Tadeu Mazokievski, esses problemas são recorrentes, resultado da falta de visão das administrações locais. Os únicos banheiros públicos da cidade, por exemplo, foram feitos pela diocese. “O povo, cada vez mais, desenvolve sua consciência, mas ainda tem medo dos nossos políticos. O prefeito sempre assume e pensa primeiro em empregar toda sua família e destruir o que foi feito na gestão anterior”, afirma o religioso.

O município não possuiu indústrias ou grandes plantações. Por isso, a economia depende quase unicamente do dinheiro trazido pelos romeiros e turistas. Com exceção dos funcionários contratados pela prefeitura ou pela Codevasf, o resto da população trabalha em função dos visitantes.

Para Mazokievski, parte do problema poderia ser solucionado com a criação de escolas técnicas e com mais interesse das administrações em trazer empresas para a cidade. Ele afirma que em duas oportunidades fábricas de doces e de sucos fizeram contatos com o município, mas desistiram por falta de incentivos.

Outro caminho seria a estruturação do turismo. Além de ser um marco religioso às margens do rio São Francisco, a cidade também é ponto de parada de turistas de Brasília e Goiânia com destino ao litoral baiano. “Eles vêem e passam uma noite aqui, antes de continuar viagem. Precisamos pensar em uma maneira de fazer com que passem um ou dois dias na cidade”, diz o artesão Cosmo Duarte, 36 anos fazendo carrancas.

Segundo o carranqueiro, o turismo religioso já existente não satisfaz as necessidades do comércio local: a maioria dos romeiros gasta pouco na cidade. Assim, o ideal seria a viabilização pela prefeitura de projetos de exploração sustentável do Velho Chico, transformando Bom Jesus da Lapa em um balneário.

Velho Chico irriga o Norte de Minas

Logo na saída do porto de Itacarambi – MG, a Expedição Américo Vespúcio entrou no que parecia ser um pequeno rio, afluente do Velho Chico. Era na verdade o canal de adução do maior projeto de irrigação da América Latina, o Jaíba, uma área de 100 mil hectares entre o alto rio Verde Grande e o São Francisco, responsável pela produção da maior parte dos alimentos produzidos no norte de Minas. Em 2000 foram 58 mil toneladas, entre frutas, sementes de hortaliças e grãos.

irrigacaojaiba.jpgAlém de ser um afluente ao contrário, com potencial de retirar do São Francisco até 80 m³/s de água, vazão maior que a de rios pequenos, também é uma hidrelétrica às avessas, chegando a gastar 300 kw/h nos meses de seca, em que há maior bombeamento, para subir a água necessária para a irrigação. A área irrigável é de 67 mil hectares, mas apenas 33 mil hectares estão ocupadas, com mais 17 mil prontos para receber irrigação nos próximos anos.

“À medida em que utilizamos novas técnicas de irrigação poupadoras de água, como a aspersão e o gotejamento, podemos aumentar a área irrigável sem dispor de mais águas do rio”, explica Carlos Antônio Landi Pereira, gerente do projeto Jaíba. Foram 1400 pequenos irrigantes, como são chamados os colonos instalados até o momento, com propriedades de cinco hectares. Há também 82 empresas agrícolas, com empreendimentos que variam entre 20 e 160 hectares. Os pequenos são selecionados por entrevistas, e os grandes por concorrências públicas.

Canal principal do Jaíba – MG. O rio artificial tem uma calha semelhante à do rio São Francisco em Iguatama, onde a expedição embarcou. Foto: Marcello Larcher

engacarloslandi.jpgAlgo preocupante é a situação do rio, que pode afetar o projeto. O rio atingiu 438,54 metros acima do nível do mar na última estação seca, enquanto as bombas do Jaíba só operam com 438,5, ou seja, 4 cm de margem. Na opinião de Landi, isso se deve à mudança na prioridade da usina de Três Marias. “O objetivo passou a ser gerar energia, quando a barragem deveria regularizar a vazão do São Francisco”, explica. Com o reservatório agora comprometido, Três Marias não pode garantir os 290 m³/s necessários para que o andamento do projeto.

E Landi conta que desde 1992 o rio não vê uma grande enchente, o que poderia repovoar de peixes o rio. “Teve ano que o rio chegou a 30cm de inundar as lagoas, precisava ter alguém para avisar Três Marias para que soltasse mais água”, defende. O projeto foi acusado de devastar a mata da região, mas Landi defende o contrário. “Se não fosse o Parque Estadual criado pelo Jaíba, as matas teriam sido devastadas há muito tempo”, argumenta, mostrando que dentro do projeto há duas áreas de preservação somando 34 mil hectares, todas ligadas por um corredor ecológico.

Para Landi a situação é preocupante, o rio já esteve a 4 cm de inviabilizar o bombeamento. Foto: Marcello Larcher

Dona Lurdes, carranqueira, cantora, poetisa, escritora…

O Velho Chico é um rio rico em contradições, de muitas belezas e problemas, de riqueza e pobreza, de histórias e lendas. E dentro da imensidão de vidas ligadas às águas, uma, especialmente, merece ser contada. É a de Maria de Lurdes Gonçalves Lopes, 60 anos, ou dona Lurdes, como é conhecida em Pirapora-MG, habilidosa carranqueira, cantora, poetisa, escritora e amante das águas.

donalurdes_1.jpgAs aventuras de dona Lurdes começaram aos 12 anos, quando um circo passou por sua cidade natal, Serrinha, perto de Salvador, na Bahia. “Eu fui lá, cantei, e o dono do circo gostou. Me chamavam de Cigarra Boêmia de Serrinha”, relembra. Para cantar, ela saía escondida de casa, pois sua família não aceitava a vida de artista, coisa imprópria para uma moça de família. A aventura durou um mês, até quando seu pai assistiu a um espetáculo. Embora tenha gostado da apresentação, ele e sua mãe a obrigaram a largar a recém começada carreira com uma surra de uma dúzia de palmatórias.

"Barroso era homem de verdade, era companheiro, pai, marido e amante", diz, com saudades do capitão (Pirapora-MG). Foto: Bruno Radicchi

Mas dona Lurdes não era moça que aceitava ordens ou desistia de suas vontades. Por isso, continuou fugindo de casa até os 16 anos, para cantar, até conseguir mudar para Salvador, estudar música e participar como corista da Orquestra Azevedo. Nessa época, ela chegou até a cantar na Rádio Excelsior, da Bahia.

Apresentando-se em boates e festas, a moça destemida conheceu várias pessoas, muitas importantes e influentes. Uma delas era o político baiano Waldir Pires, opositor à revolução e ao governo militar recém outorgado, uma influência nas idéias dela própria. Essa ligação com a esquerda, em uma época de violentas perseguições políticas, mudou sua vida: ela decidiu voltar escondida para Serrinha. “Eu tinha muito medo, principalmente pelo meu pai, que sustentava uma casa com tantos filhos. Tinha uns dois vizinhos na minha rua que sumiram e nunca mais voltaram”, conta, ainda assustada.

Logo depois da fuga, ela recebeu um telegrama anônimo, com instruções para se juntar a uma certa companhia teatral e seguir até Juazeiro. No caminho, o grupo embarcou em uma antiga barca a vapor que fazia o trajeto Pirapora-MG a Petrolina-PE, navegando pelo Rio São Francisco. Entretanto, todos os passos de dona Lurdes foram seguidos por um misterioso homem, sujeito desconhecido, sempre calado, carregando uma maleta preta.

donalurdes_2.jpgPara a sorte de dona Lurdes, a barca, chamada São Francisco, tinha no comando um homem decidido e corajoso, o capitão Francisco Barroso, um antigo namorado. Quando o homem misterioso, ainda dentro do vapor, deu voz de prisão à contra-revolucionária, o capitão saiu em sua defesa.

Ninguém me mandou não, eu fiquei foi por medo de ser presa”, diz dona Lurdes, ao explicar porquê permaneceu cinco anos escondida nas barcas a vapor do São Francisco (Pirapora-MG). Foto: Bruno Radicchi

“Barroso disse para ele: ‘Eu sou o capitão e daqui ela não sai. Quem vai se retirar é o senhor’. E então eu fiquei dentro do barco por mais cinco anos, com medo de ser presa”, conta dona Lurdes, que sofre até hoje de depressão e toma remédios controlados, devido ao pavor que sente dos tempos de repressão da ditadura.

Então, por cinco anos, ela ficou embarcada em barcos a vapor, cruzando para cima e para baixo o Velho Chico, levando mercadorias de Minas Gerais para Bahia e Pernambuco e vice-versa, descendo a terra sempre às escondidas, sempre ao lado de seu protetor, o comandante Barroso.

“Foi o tempo todo vendo as mesmas coisas. De olhos fechados, eu conhecia todas as curvas do rio”, conta, melancólica. Mas mesmo restrita às embarcações, dona Lurdes continuou cantando – se apresentava como Lurdinha Barroso -, aprendeu os rudimentos da arte da carranca e casou-se com o amor de sua vida, o capitão Barroso.

“Ele era 30 anos mais velho que eu, mas homem igual aquele não existe mais. Ele era pai, protetor, amante e marido”, lembra saudosa do companheiro, mas forte, sem derramar uma lágrima. Dona Lurdes conta que o velho capitão era um homem de muitas mulheres, com namorada ou família em cada porto que passava, mas abdicou de todos os outros amores por ela. “Antes de mim, tudo bem, mas depois que nós casamos, era só eu. Eu brigava com ele, e acabou largando todas as outras, vivia para mim, me enchia de presentes, me dava lingerie de renda e de seda”, afirma.

Barroso também foi o principal mecenas de dona Lurdes. Presenteou a esposa com os primeiros instrumentos para ela começar a esculpir carrancas e incentivou-a a aprimorar sua técnica. Levou para conhecer o mestre carranqueiro Guarani, que ao ver a novata esbravejou “não vou ensinar nada, não”. Mas Dona Lurdes aprendeu as técnicas do velho professor só de olhar.

Em 1997, capitão Barroso morreu, já com 86 anos, e dona Lurdes “quase foi também”. Mas hoje, para espantar a tristeza e a dor da perda, ela recorre a várias atividades sociais em que participa na comunidade, ao carinho dos filhos que teve com o marido – Francisco Walber, Francyslady, Charles, Teodoro Pereira Neto e Luana Lara Janaína – e ao artesanato de carrancas. Além disso, ainda ocupa seu tempo escrevendo suas memórias, mesmo “não sendo uma mulher de muita escrita”.