Furnas terá que monitorar índices de mercúrio no lago de Manso, MT

Estação Vida – Esta semana a Fundação Estadual do Meio Ambiente – Fema – solicitou que Furnas Centrais Elétricas incorpore ao monitoramento da qualidade da água do lago de Manso, análise de concentração de mercúrio como condicionante para a renovação da licença de operação da usina que expirou em março último. Esse tipo de análise não foi solicitada nos primeiros dois anos de funcionamento da usina mas com a divulgação de pesquisa realizada pelo departamento de Química da UFMT sobre índices de contaminação de mercúrio nos peixes do lago e a jusante [rio abaixo], o órgão ambiental resolveu solicitar o monitoramento. “É preciso descobrir como o mercúrio está sendo liberado”, indaga o diretor de Infra-estrutura, Indústria e Mineração da Fema, Lourival Vasconcelos.

Pelos estudos realizados pelo Departamento de Química da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, desde 1999, na região dos rios Casca e Manso e no lago da usina hidrelétrica de Manso, os altos índices de mercúrio encontrados em peixes coletados tanto no lago como rio abaixo estavam concentrados na vegetação que estava na área do reservatório e que não foi retirada. Com a inundação de 45 hectares de massa vegetativa para formar o lago da hidrelétrica, ocorreu o processo de biodisponibilização do mercúrio, ou seja, o elemento foi liberado e se transformou em metilmercúrio, forma assimilada pelas espécies animais. O fenômeno também ocorre em lagoas naturais como a Siá Mariana, no Pantanal.

O professor de Química da UFMT, Edinaldo de Castro e Silva, orientador dos trabalhos realizados um ano antes do fechamento das comportas da Usina de Manso conta que a contaminação de mercúrio em grandes represas não é uma novidade. O mesmo ocorreu na usina hidrelétrica de Tucuruí [Pará] e na represa de Quebec, no Canadá. Neste último caso, durante 10 anos ficou proibida a pesca e a acumulação do mercúrio só foi aumentando a cada ano. “Em função destes casos é que estamos acompanhando a qualidade da água e fazendo testes em peixes e sedimentos, pois já sabíamos que a decomposição da vegetação poderia liberar o mercúrio”, disse o professor. Ednaldo afirma que, conclusivamente, o mais indicado é que a vegetação seja retirada antes do enchimento dos reservatórios.

Em 1999, a pesquisa “Mercúrio em Peixes e Sedimentos do rio Casca e Manso”, realizada pelo departamento com pesquisadores suecos já detectou peixes com 237 ppb [partes por bilhão] , nível que, segundo a portaria 685 do Ministério da Saúde que regulamenta a presença destes elementos pesados, é aceitável e não prejudica o homem. Em 2000, outro grupo de pesquisadores ligados ao Departamento de Química fizeram novas análises em peixes, água e sedimentos para avaliar a concentração de mercúrio abaixo do reservatório. Novamente houve a constatação de que a contaminação existia e estava aumentando.

Mas foi em 2002, quando a engenheira química e pesquisadora Elizabeth Camargo Neis , orientada pelo professor Ednaldo, iniciou estudos para tese de mestrado em saúde e ambiente, também a jusante do lago de Manso que a contaminação ficou mais evidente no local. As análises feitas na água indicaram que as características da água do rio Manso tiveram alterações: Oxigênio dissolvido, PH, transparência, nitrogênio NKT e fósforo. “Essas mudanças facilitaram as atividades microbiológicas e liberaram o mercúrio que estava na vegetação no fundo do lago na forma de metilmercúrio e contaminaram os peixes”, explica Elizabeth.

Os índices de contaminação são altíssimos se comparados com as normas do Ministério da saúde. Foram coletados 71 peixes em 4 pontos do rio à jusante da usina [23 pintados, 26 curimbatás, 9 caxara, 8 dourados e 5 jurupoca]. A média de concentração de mercúrio foi de 817 ppb, acima da média permitida para rios não contaminados e não predadores que é de 500 ppb. Mas cerca de 3% dos dourados passaram de 1 mil ppb e um chegou a 2.161,3 ppb. “Está havendo um processo de acumulação do mercúrio porque são peixes carnívoros e estão repassando para toda a cadeia alimentar”, diz Ednaldo.

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