Acompanhe a primeira viagem do novo CAN

Agência Brasil – Ninguém no município de Manoel Urbano, localizado a quase trezentos quilômetros de Rio Branco (Acre), acreditava que, no mesmo dia (6 de abril), a cidade receberia o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, três ministros, o governador do estado e a até o comandante da Aeronáutica.

Mas a notícia maior estava por vir. Lula escolheu Manoel Urbano, para deixar registrado na história do país, a retomada dos serviços do Correio Aéreo Nacional (CAN), criado há várias décadas, com o objetivo de levar ajuda às populações isoladas e fazer a integração no Brasil, diminuindo as distâncias em todo o país.

O avião C-98 Caravan do CAN decolou de Rio Branco com uma equipe de profissionais de saúde da Força Aérea Brasileira (FAB), para fazer a rota da solidariedade, levando assistência médica e remédios para cinco municípios da região, onde o acesso é difícil, e o avião é o único meio de contato dessa população isolada com o resto do país e da vida nacional.

A passagem rápida por Manoel Urbano do avião do CAN, num dia de festa, tem, antes de mais nada, um significado simbólico — o da integração nacional. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou esse lado simbólico na cerimônia de reativação do CAN: “Desde a sua criação”, disse ele em seu discurso, “o Correio Aéreo Nacional sempre funcionou como um elo fundamental de ligação do nosso país, a unir distâncias, culturas e destinos num mesmo sonho de Nação e de cidadania para todos”.

Mas, além disso, a presença do avião tem um sentido prático e concreto, em vista do isolamento e das dificuldades em que vive a população desse distante recanto do Brasil: Manoel Urbano é um dos municípios com piores indicadores sociais do país. De acordo com dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, compilados pelo Sebrae, o analfabetismo alcança 33,5% em Manoel Urbano, e a mortalidade infantil é de 64,3 para cada mil nascidos vivos. Em toda a região vizinha a Manoel Urbano, incluindo diversas cidades, existiam, em 1999, apenas duas instalações hospitalares, quatro centros de saúde e 67 postos de saúde. Poucos dos profissionais de saúde dessa região são brasileiros. Boa parte é composta de peruanos, bolivianos e até cubanos.

A reativação do CAN busca alterar essa realidade. Uma vez por mês, médicos, dentistas e enfermeiros da FAB vão dar uma passada por lá para ver como está a saúde dos moradores. No mesmo dia da reativação, um grupo de médicos do projeto Saúde Itinerante do governo do Acre, esteve na cidade e atendeu quem precisava.

FEIJÓ

Terminada a festa em Manoel Urbano, o avião C-98 Caravan, com o emblema do CAN na porta, levantou vôo com destino à cidade de Feijó, um lugar com melhor condição de vida para a população. Mas, nem por isso, foge das dificuldades criadas pelo isolamento. É o que mostra a história triste do menino Marcelo Nascimento — exemplo do que acontece com milhões de crianças na Amazônia.

A equipe de saúde do CAN não tinha nem desarrumado as malas, depois de descer em Feijó, por volta das 20 horas, quando a Tenente Renata Mariscal, uma paraense que serve no Hospital da Aeronáutica em Manaus, no setor de Pediatria, recebeu um chamado. Uma criança de quatro meses estava no hospital com problema de insuficiência renal.

O bêbe, Marcelo Nascimento, estava sem urinar há seis dias e corria sério risco de vida. Apenas em Rio Branco poderia receber tratamento adequado. Antes da viagem, a tenente e o enfermeiro, sargento Edyr, passaram momentos tensos: o pulmão de Marcelo estava encharcado, com edema agudo.

O pai de Marcelo, Roberto Evanildes Silva, 24 anos, e a mãe, Maria Ivanete, de apenas 15 anos, haviam saído três dias antes da Fazenda Seringal, localizada a 80 quilômetros do Hospital de Feijó. A viagem havia sido feita por embarcação ao longo dos rios da região. Roberto não tem salário fixo, ganha pelo que faz por dia na roça. Ivanete diz que chegara a não acreditar que seu bebê agüentaria a viagem.

Mas Marcelo agüentou e, por sorte, recebeu tratamento de emergência da equipe da FAB. Com isso, pôde embarcar no avião do CAN, mas, antes da decolagem, a tripulação ainda ouviu uma última recomendação da Tenente Renata Mariscal: “Ele ainda precisa de um tratamento especial. Vão rápido”, disse a pediatra.

Infelizmente, apesar de o bebê ter chegado vivo a Rio Branco e ter sido levado a um Hospital, na capital do Acre — não sobreviveu. Na manhã de quinta-feira (08), a equipe do CAN recebeu a notícia triste de que o bebê havia falecido, apesar de todos os esforços.

O balanço do atendimento feito pelos médicos da Força Aérea em Feijó, divulgado pela coordenação da viagem do CAN, mostrou que, em oito horas de atendimento pela equipe do CAN, 248 pessoas receberam assistência médica., sendo Ginecologia – 76, Clínica médica – 65, Urologia – 18, Pediatria – 62 e Odontológico – 27.

Nelson Motta

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