Pastoral diz que obras de transposição não foram paralisadas e cobra postura firme da Igreja

O representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Bahia e coordenador da articulação popular pela revitalização do São Francisco, Rubens Siqueira, disse hoje (12) à Agência Brasil que a manutenção da greve de fome do bispo de Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, é compreensível diante da falta de garantias quanto à paralisação das obras de transposição do rio.

“Dom Luiz está na expectativa dos desdobramentos da liminar. Até agora, um dia e meio depois da decisão [liminar concedida pelo desembargador Antônio Souza Prudente, Tribunal Regional Federal da 1ª Região], ela não foi cumprida. A notícia que temos é que continuam as obras e, inclusive, foi reforçado o efetivo de soldados na região”, argumentou Siqueira.

Segundo o coordenador da pastoral, ao anunciar a intenção de recorrer da liminar, o governo federal sinalizou que não pretende atender às reivindicações do bispo e de movimentos populares que apóiam o protesto. Siqueira se mostrou preocupado com o estado de saúde de dom Cappio.

“Sabemos da determinação, da clareza e da lucidez com que ele está fazendo esse embate, com a intenção de ir até o fim. A preocupação é pelo pior”.

Na avaliação da CPT, a Igreja Católica deveria adotar uma posição mais firme, e se mostrar contrária à forma como se conduz o projeto da transposição do São Francisco.

“A igreja está muito reticente e duvidosa. Mesmo que ela não se pronuncie a respeito do jejum, não há dúvida de que deveria ser mais crítica diante de uma postura totalitária do governo frente à decisão judicial. Há um amordaçamento geral não só na igreja, mas na própria sociedade. Estamos em uma ditadura branca e até agora ninguém colocou o dedo na ferida”, afirmou Siqueira.

Enquanto dirigentes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pediram hoje (12) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a retomada de estudos sobre a transposição do Rio São Francisco, o representante da CPT afirmou que o projeto não está sendo bem explicado para a população local.

“A verdade do projeto não se discute, se esconde, pois se for revelada, o povo potencialmente beneficiário vai ser contra,  porque vai  pagar a conta da água usada nos grandes empreendimentos.”

Para Siqueira, a transposição proposta favorece apenas criações de camarão e fruticultura irrigada, não tendo como prioridade a água para consumo humano ou para melhorar a condição de produção dos sertanejos. O melhor caminho, segundo ele, seria a exploração sustentável das terras, do clima, da energia solar e da água para o desenvolvimento do semi-árido.

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